Um tabu no Rio: por que é raro uma escola ser campeã desfilando no domingo
Desde a divisão do desfile das escolas de samba do Grupo Especial no Carnaval do Rio de Janeiro em duas noites, no domingo e na segunda, em 1984, formou-se uma escrita que raramente é quebrada. Desde 1985, quando o julgamento das duas noites foi unificado (em 1984, cada noite teve uma campeã e o Desfile das Campeãs promoveu um tira-teima), na maioria esmagadora das vezes as escolas que passam na segunda-feira vencem o campeonato.
Em 35 campeonatos, as escolas de segunda-feira venceram 29 vezes. A supremacia é tão grande que todo fã de Carnaval enumera, de cabeça, os títulos das escolas de domingo: Mocidade (1985), Mangueira (1987), Imperatriz (1994), Mocidade (1996), Vila Isabel (2006) e Unidos da Tijuca (2010).
Para muitos diretores das escolas, o primeiro bom indício de um grande desfile é a posição de apresentação. Em meados do ano, quando se realiza o sorteio da ordem das apresentações, as escolas, de acordo com seus tamanhos de torcida e ranqueamento, são divididas por pares. Uma desfila no domingo e outra, na segunda. Ao vencer o sorteio e garantir o direito de escolha pela segunda-feira, é indisfarçável o sorriso e a empolgação dos componentes.
Mas, afinal, qual seria o porquê desta distorção?
Um dos principais motivos atribuídos por quem acompanha de perto o Carnaval carioca é o fato de que as notas são fechadas pelos jurados após a passagem da última escola, já na manhã de terça-feira.
Para o jornalista Fábio Fabato, os jurados têm mais tempo para saber dos erros das escolas da primeira noite do que da segunda: "Na minha opinião, temos um erro cultural e conceitual de que segunda é sempre melhor que domingo. Os jurados, no primeiro dia, levam notas para casa e podem ver televisão, ler portais e mudarem seus graus. Para mim, ou o julgamento do domingo deveria ser fechado tão logo passe a escola do dia, ou os julgadores deveriam ser confinados até o fim do carnaval à moda BBB: sem Internet e sem qualquer contato com o planeta".
Segundo o jornalista, nos últimos anos, o Carnaval poderia ter tido campeãs no domingo. "Neste período houve escolas do primeiro dia que mereceram, como Vila Isabel 2012, no enredo sobre Angola. Hoje, claramente, há uma punição aleatória aos primeiros grêmios a desfilar, do mesmo modo que o julgamento de bandeira também pesa bastante", acredita Fabato.
Para 2020, a perspectiva de que a escrita possa ser quebrada é bastante razoável. As duas primeiras colocadas do último Carnaval, Mangueira e Viradouro estarão presentes nesta noite, além da sempre favorita Portela e da renovada Grande Rio, que, com uma nova dupla de carnavalescos e um enredo elogiado, é uma das agremiações mais aguardadas.
Completam a noite o Paraíso do Tuiuti, escola-revelação dos últimos anos; a União da Ilha do Governador, comandada por Laíla; e a campeã da Série A de 2019, a Estácio de Sá, que tem como carnavalesca nada menos do que Rosa Magalhães.
Em busca do título
Depois de três anos seguidos desfilando no domingo, os Acadêmicos do Salgueiro finalmente desfilarão na segunda-feira - e numa posição nobre, a terceira. Os dois últimos campeonatos da vermelha e branca da Tijuca aconteceram em 1993 e 2009 - ambos na segunda-feira.
"Caímos na segunda-feira, em um horário ótimo, no lado da concentração que gostamos, que é o dos Correios. E, a exemplo dos dois últimos títulos, não estamos tão badalados. Isso é ótimo", comemora Marcelo Pires, integrante da Diretoria Cultural da escola.
Já a Grande Rio é a recordista da falta de sorte ao tirar as bolinhas. Desde 2014, a escola sempre tem desfilado no domingo de Carnaval. E, se até o início da década a escola sempre disputava títulos (foi vice em 2006, 2007 e 2010, sendo essas duas últimas vezes desfilando na segunda-feira), nessa sequência desfilando no domingo a agremiação de Duque de Caxias já ficou fora do Desfile das Campeãs por três ocasiões, sendo que, em uma delas, foi rebaixada, sendo salva pela "virada de mesa" em 2018.
"A expectativa é de brigar pelo campeonato e queremos muito quebrar essa escrita, o que não acontece há 10 anos", afirma Gabriel Haddad, um dos carnavalescos da tricolor.
Não cair é o objetivo
Na outra ponta da tabela, desfilar na segunda-feira também é uma garantia de permanência no desfile principal. Quase sempre a escola que vem da Série A, que abre o desfile de domingo, acaba retornando para a divisão inferior.
A última escola rebaixada desfilando na segunda-feira foi a União da Ilha do Governador, em 2001. Como garantido pelo regulamento, a São Clemente, pior classificada dentre as remanescentes do grupo, abre a segunda noite de desfiles - o que, certamente, é um handicap interessante.
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