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Anderson Baltar

Em noite equilibrada, Vila, Salgueiro e Beija-Flor chamam a atenção

Viviane Araújo em desfile do Salgueiro - Luciola Vilella/UOL
Viviane Araújo em desfile do Salgueiro Imagem: Luciola Vilella/UOL

25/02/2020 05h16

Em uma noite superior à primeira, a Sapucaí assistiu ao desfile mais equilibrado dos últimos anos. Nenhuma das concorrentes arrebatou as arquibancadas, e a apuração de quarta-feira de Cinzas promete fortes emoções.

Vila Isabel, Salgueiro e Beija-Flor largam na frente como os melhores desfiles da noite, mas Mocidade e São Clemente também fizeram bonito. A decepção da noite foi a Unidos da Tijuca, que fez um desfile muito abaixo de suas tradições e da marca do carnavalesco Paulo Barros.

São Clemente

A São Clemente abriu a segunda noite de desfile apresentando mais um enredo de forte cunho político e irreverente, como é da sua mais profunda essência. Em seu terceiro ano na agremiação, o carnavalesco Jorge Silveira desenvolveu com maestria o enredo "O Conto do Vigário", falando da vocação do brasileiro para ludibriar o próximo com tramoias ao longo dos séculos.

As fantasias eram divertidas e de fácil leitura, e as alegorias mostravam o bom humor característico da escola. O humorista Marcelo Adnet, um dos autores do samba-enredo, desfilou em cima do quarto carro representando o presidente Jair Bolsonaro e, com uma performance que teve direito até a flexões de braços, levou as arquibancadas ao delírio.

O ponto fraco da São Clemente foi o desempenho apenas razoável da harmonia e da evolução, desigual entre as alas. De toda forma, o recado da amarela e preta de Botafogo foi bem dado, e a escola poderá brigar por uma posição honrosa na apuração.

Vila Isabel

Terceira colocada em 2019, a Vila Isabel apostou em uma entrada com forte apelo visual. O carro abre-alas era imponente e gigantesco. Para apresentar o seu enredo sobre Brasília, o carnavalesco Edson Pereira fez uma verdadeira viagem pelas regiões do país até chegar à construção da capital federal.

Muito criticado na pré-temporada, o samba da Vila funcionou na avenida e foi bem defendido pelos componentes, que evoluíram com muita garra. Outro destaque foi a bateria do mestre Macaco Branco, que arrebatou o público com suas paradinhas. A Vila Isabel se mostrou uma escola consolidada na parte mais alta da tabela e deverá disputar o campeonato.

Salgueiro

Em seguida, foi a vez de o Salgueiro despontar, apresentando seu enredo sobre Benjamin de Oliveira, o primeiro palhaço negro do Brasil. O carnavalesco Alex de Souza apostou em um desfile com um visual leve, colorido e de extremo bom gosto nas alegorias e fantasias. A comissão de frente, de Sérgio Lobato, mostrou umas das coreografias mais inspiradas do ano e foi bastante aplaudida, assim como o casal de mestre-sala e porta-bandeira Sidclei e Marcella Alves.

A bateria, dos mestres Gustavo e Guilherme, deverá também garantir ótimas notas para a escola. O calcanhar de Aquiles foi o samba-enredo que, à medida que o desfile se desenrolava, perdeu o rendimento. O Salgueiro fez um desfile correto e com quase nenhum erro e também está na briga.

Unidos da Tijuca

A Unidos da Tijuca entrou na avenida em seguida. Com a volta do carnavalesco Paulo Barros, apresentou um enredo sobre arquitetura e urbanismo. Porém, não foi feliz. Um desfile com vários erros visíveis. A comissão de frente, cuja apresentação era baseada no uso do led, foi prejudicada com o mau funcionamento do recurso. A apresentação do primeiro casal também teve percalços, com a bandeira de Raphaela Caboclo enrolando por duas vezes em frente ao terceiro módulo de julgamento.

As famosas alegorias humanas não funcionaram e não causaram impacto no público. De positivo, o ótimo desempenho da bateria de mestre Casagrande. A azul e amarela decepcionou, dificilmente figurará no Desfile das Campeãs e tem que comemorar o fato de muitas concorrentes, especialmente as da noite de domingo, terem errado em demasia.

Mocidade

A Mocidade Independente de Padre Miguel realizou um antigo sonho de seus torcedores e levou para a Sapucaí um enredo sobre Elza Soares. A estrela da MPB, criada na Vila Vintém, reduto da escola, teve um tratamento visual contemporâneo do carnavalesco Jack Vasconcelos que, dentre várias passagens, teve sua verve politizada bem destacada.

A comissão de frente arrancou muitos aplausos do público, mostrando a transformação da menina pobre em estrela. Muito destacado pela crítica, o samba-enredo conduziu os componentes a um desfile competente e de muito canto, mas que, por outro lado, não contagiou o público. A Mocidade certamente garantirá uma vaga no Desfile das Campeãs e é forte em vários quesitos. Em um ano tão equilibrado, não pode ser desprezada.

Beija-Flor

A Beija-Flor entrou na pista mordida e disposta a se recuperar do 11º lugar do Carnaval de 2019. E conseguiu, com êxito, dar uma demonstração de força. Sua comissão de frente, de muito impacto, foi ovacionada pelas arquibancadas. Porém, sua coreografia, um tanto lenta, acabou fazendo o desfile cair de ritmo.

As alegorias e fantasias, da dupla Cid Carvalho e Alexandre Louzada, chamaram a atenção pelo luxo e pela precisão nos detalhes. O samba-enredo, magistralmente conduzido por Neguinho da Beija-Flor, embalou os sambistas empolgados e apaixonados de Nilópolis.

O desfile, sobre a relação do homem com as ruas e os caminhos da vida, seguia para um final apoteótico, mas a demora em colocar os destaques do último carro fez a escola terminar de entrar na pista com 52 minutos. O fim do desfile foi de evolução apressada, que certamente será penalizada pelos jurados.

Anderson Baltar