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Anderson Baltar

Mocidade e Gaviões brilham e entram na disputa pelo título em SP

Veja os destaques da segunda noite de desfiles em SP

23/02/2020 07h21

Na segunda noite de desfiles no Anhembi, duas escolas fizeram desfiles empolgantes e com poucas falhas, credenciando-se para a disputa do título do Carnaval 2020. E, por coincidência, ambas tiveram seus barracões comandados por carnavalescos cariocas estreantes.

A Gaviões da Fiel, da dupla Paulo Barros e Paulo Menezes, empolgou as arquibancadas com um desfile marcado pela ousadia. E a Mocidade Alegre, de Edson Pereira, apresentou um Carnaval tecnicamente perfeito e com um visual de impacto. As duas se juntam ao trio Dragões da Real, Mancha Verde e Império de Casa Verde —que desfilou no primeiro dia— na briga pelo campeonato.

Pérola Negra

Homenageando o povo cigano, a Pérola Negra abriu a segunda noite de desfiles escorada em um bom samba-enredo para cumprir o seu principal objetivo, que é ficar no Grupo Especial. Afetada pelo alagamento de seu barracão há duas semanas, a agremiação fez um desfile de superação e raça, com componentes animados e bom canto.

Porém, as fragilidades visuais ficaram evidentes, com falhas de acabamento visíveis em carros alegóricos. Dessa forma, para conseguir atingir sua meta, a Pérola precisava fazer um desfile impecável na evolução. Porém, após a saída do carro abre-alas, o ritmo de desfile acelerou, com a formação de diversos claros na pista —o que acarretará uma penalização forte nesse quesito. Com tantos erros, a Pérola terá muita dificuldade em se manter entre as grandes escolas paulistanas.

Colorado do Brás

Segunda escola a desfilar, a Colorado do Brás levou para o Anhembi um enredo sobre o rei português dom Sebastião, desaparecido em uma batalha no Marrocos e até hoje cultuado em Portugal e no Maranhão. O grande destaque do desfile foi o ótimo desempenho da bateria de mestre Allan, que manteve a sustentação do samba com afinação e sincronia raras.

A escola evoluiu tranquilamente, sem maiores percalços, com animação e um bom desempenho de canto. O maior problema foi no visual, simples em alguns momentos e com combinações de gosto duvidoso em alegorias e fantasias. A apresentação do casal de mestre-sala e porta-bandeira, Ruhanan e Ana Paula, foi prejudicada pelo forte vento que soprou na passarela. Mesmo assim, a escola deverá permanecer no Grupo Especial para o Carnaval 2021.

Gaviões da Fiel

Era pouco mais de 1h da manhã quando a Gaviões da Fiel entrou na avenida. Recebida com imensa expectativa, por conta da contratação dos carnavalescos cariocas Paulo Barros e Paulo Menezes, a escola mostrou um desfile de forte impacto.

Desde a comissão de frente, que contava com componentes que, em certo momento, tinham suas roupas incendiadas, até as tradicionais alegorias humanas, a Gaviões fez um desfile que, a cada setor, foi contagiando o público do Anhembi. As alegorias foram extremamente bem acabadas e interativas. O quarto carro alegórico, com integrantes vestidos de gorilas que voavam em direção ao público, presos por cordas, atraiu todas as atenções e mereceu muitos aplausos.

O desfile foi saudado na dispersão com gritos de "é campeão". A escola passou por alguns percalços, como a perda da capa de um dos integrantes da comissão de frente ainda no início da pista, e a evolução, que em alguns momentos foi irregular. Porém, nenhuma falha foi suficiente para afastar a Gaviões da disputa pelo campeonato.

Mocidade Alegre

O público ainda se recuperava da catarse promovida pela Gaviões quando a Mocidade Alegre iniciou o seu desfile e, com uma comissão de frente ousada e bem ensaiada, deu mostras de que mais um grande espetáculo estava por vir. Luxuosa, criativa, com fantasias extremamente bem acabadas e carros alegóricos impecáveis, a Mocidade deslumbrou o público e defendeu bem o enredo "Do canto das Yabás, renasce uma nova morada", do carnavalesco carioca Edson Pereira.

O samba-enredo, tido por críticos como o melhor do ano, teve um desempenho excelente e conduziu um desfile em que a evolução e a harmonia foram muito valorizadas, com componentes extremamente animados e emocionados. A bateria do mestre Sombra empolgou as arquibancadas com uma paradinha em que os ritmistas tocavam ajoelhados. Com um desfile de tamanha qualidade, a Mocidade se credencia a brigar pelo título, que não conquista desde 2014.

Águia de Ouro

A Águia de Ouro foi a quinta a desfilar. Com o enredo "O poder do saber - Se saber é poder... Quem sabe faz a hora, não espera acontecer" apresentou um conjunto de fantasias caprichado e carros alegóricos bem acabados. Porém, seu calcanhar de Aquiles foi o enredo, de difícil compreensão pelo público, que, desta forma, limitou-se a assistir a passagem da escola.

O samba, apenas razoável, foi bem defendido pelo intérprete carioca Tinga, da Unidos de Vila Isabel, que fez sua estreia no Carnaval paulistano. Os componentes desfilaram com animação e não houve muitos percalços na parte técnica, a Águia de Ouro encerrou o desfile deixando a impressão de que ficará no pelotão intermediário da classificação.

Unidos de Vila Maria

Penúltima escola a desfilar, a Unidos de Vila Maria fez homenagem à China. Para retratar toda a contribuição do país asiático para a cultura, tecnologia e história universal, a agremiação se valeu de um visual correto, com fantasias de fácil leitura e carros alegóricos repletos de efeitos especiais. O carro abre-alas chamou a atenção por telões de led instalados em uma réplica da Muralha da China.

O samba-enredo, defendido por Wander Pires, funcionou para os desfilantes, mas não se comunicou com o público. Apesar de o carro abre-alas ter tido dificuldades de locomoção, a evolução foi contínua e sem grandes problemas. Porém, na comparação direta com as principais concorrentes, a Vila Maria pode ficar para trás em um ano marcado por desfiles de ótima qualidade.

Rosas de Ouro

A Rosas de Ouro encerrou a maratona do Carnaval paulistano com um desfile que perdeu muito de sua eficácia pelo fato de ter passado com o dia claro. O enredo "Tempos Modernos" apresentou alegorias e fantasias que funcionariam melhor na parte da noite, já que em muitos momentos tons mais escuros e metálicos foram utilizados.

A parte plástica, para um enredo que se propôs a falar sobre a evolução tecnológica da humanidade, deixou a desejar. As alegorias apresentaram problemas de acabamento e muitas alas tinham concepções semelhantes entre si.

Por outro lado, o samba-enredo empolgou componentes e o público. Brincando o Carnaval e feliz, a Rosas de Ouro fez um dos melhores desfiles no que diz respeito a canto e dança. A bateria, ousada e extremamente afinada, também deve garantir boas notas para a escola.

Anderson Baltar