Topo

Anderson Baltar

Ao insistir na caça aos erros, julgamento em SP premia desfiles medianos

Águia de Ouro foi a grande campeão do Carnaval de São Paulo - Ricardo Matsukawa/UOL
Águia de Ouro foi a grande campeão do Carnaval de São Paulo Imagem: Ricardo Matsukawa/UOL

25/02/2020 20h03

Todos sabemos que julgamento de escolas de samba não é ciência exata. A avaliação do desempenho das agremiações em nove quesitos obedece a critérios técnicos mas, sem sombra de dúvida, abre margem para a subjetividade. Vários fatores podem influenciar no comportamento do julgador como a ordem de desfile, o peso da bandeira da escola ou a reação do público.

Por conta dessas variáveis, a Liga SP procura destrinchar ao máximo as condições que devem ser consideradas para a atribuição de notas. Porém, mais uma vez, a apuração do desfile das escolas de samba do Grupo Especial de São Paulo chama a atenção pelas incoerências e por, desta vez, consagrar uma campeã inesperada, a Águia de Ouro.

A agremiação da Pompéia realizou um desfile apenas correto, sem erros de evolução e com alegorias e fantasias de boa qualidade. Porém, não chamou a atenção do público e crítica, que reagiram, de forma quase unânime, com perplexidade ao resultado. E, neste ponto, mais uma vez, que o regulamento dos desfiles do Anhembi se mostram de difícil compreensão. Esse tema foi abordado nesta coluna após a apuração do ano passado e novamente não temos como fugir dele. Existe uma verdade cabal no Carnaval: por mais que existam critérios a serem seguidos, o julgamento não pode deixar de ser comparativo.

Ao assistir 14 escolas de samba na avenida, o jurado, por mais que tenha que se atentar a detalhes técnicos, ele não pode ser orientado a atribuir a nota máxima para a escola que apenas não errou e a igualar àquela que ousou, criou algo novo e conseguiu cumprir. Ele precisa premiar quem foi a melhor agremiação dentro do seu quesito. Esse tipo de julgamento equivocado motiva os artistas a serem apenas medianos. Entre fazer um bolo de fubá e um bolo de casamento, é melhor fazer o mais simples, porque a chance de erro é menor. O bolo de casamento, por mais saboroso que esteja, pode ser penalizado porque o glacê derreteu um pouco.

Sendo assim, ao insistir demasiadamente na banalidade da caça ao erro, o julgamento premia o banal e pune o que foge ao normal. Escolas como Dragões da Real, Império de Casa Verde e até a Gaviões da Fiel (que, sim, errou bastante em comissão de frente) acabaram ficando fora do Desfile das Campeãs perdendo a vaga para escolas que apenas cumpriram o regulamento, como a Unidos de Vila Maria e Acadêmicos do Tatuapé. Em um momento em que o Carnaval paulistano procura se afirmar como um grande espetáculo, os critérios de julgamento penalizam quem procura fazer algo de diferente.

Outro problema sério: hoje é muito mais interessante não errar nos aspectos visuais. Quase todos os descontos aconteceram em alegorias, fantasia e enredo. Os julgadores de quesitos basilares, como harmonia, samba-enredo e bateria parecem que foram para o Anhembi apenas para assistir aos desfiles em uma posição panorâmica. Em um ano em que houve uma grande discrepância no nível dos sambas, das 56 notas atribuídas no quesito, apenas uma não foi 10. Em bateria, onde o manual do julgador foi reformulado para premiar a ousadia, 12 escolas ficaram com os 30 pontos.

No quesito harmonia, apenas a X-9 não obteve a pontuação máxima. Por mais importante que seja o visual, estamos falando de um desfile de escolas de samba. E, pelo que parece, para os jurados de São Paulo, ter um bom samba ou uma boa bateria não faz a menor diferença.

Anderson Baltar