A reforma do apartamento Palma foi movida pela necessidade de reabrir um espaço desabitado há anos, bastante deteriorado e datado da década de 1960. A renovação, no entanto, não poderia introduzir novos elementos à arquitetura, porque o orçamento era bastante restrito. A saída encontrada pelos arquitetos Joan Miguel Seguí e Tono Vila, do escritório Vila Segui Arquitectos, foi “arrancar” paredes pré-existentes.
O novo "layout" propôs a demolição de elementos não-estruturais: uma parede entre as duas salas originais, além de duas divisórias entre o living e a cozinha e outras três que formavam uma faixa de corredores em U, em redor da cozinha. O excesso de alvenaria, além de enclausurar ambientes reduzidos, tirava toda a iluminação natural do núcleo da morada.
As demolições possibilitaram o redesenho da área social, agora completamente integrada e possuidora de amplos vãos de fachada com janelas, que receberam caixilharia “zero quilômetro”. Desejava-se com isso, justamente, aproveitar a luz do sol, do estar até o fundo da cozinha. Ali a iluminação atingiria também a passagem para área íntima do imóvel com dois dormitórios e um total de 83 m².
Surpresas de Maiorca
O edifício foi construído num bairro histórico de Palma de Maiorca, na Espanha, com estrutura de concreto armado, em pórticos e vigas parrudos, que a reforma logo tratou de explorar. Após as demolições, bastou descascar as camadas de pintura sobre todos os elementos estruturais, expondo-os, a fim de que, na ausência das antigas paredes, suas linhas demarcassem as funções dos espaços no ambiente integrado.
O detalhe das anotações nas vigas e pilares, realizadas pelos operários que construíram o edifício há 50 anos, foi mantido, afinal, reforçava o caráter memorial do projeto e a própria simplicidade que a obra pedia.
A caixa de madeira e o concreto
A marcenaria é o único elemento novo nos interiores e, junto ao concreto aparente e rústico, descascado, funciona como “delimitador” no projeto. Trata-se de uma grande caixa multifuncional e desmontável, localizada no centro da ala social integrada. Suas quatro faces abrigam funções distintas: a que se volta para o living, tem nichos para objetos de decoração, livros e fotografias; do lado oposto, estão os vãos que abrigam o forno elétrico e a geladeira, na cozinha. As duas laterais, que limitam corredores, têm portas que dão acesso a um amplo armário e à despensa.
Além da caixa, a bancada de cocção, os armários, a mesa e as cadeiras de jantar têm desenho simples e mínimo. A linguagem arquitetônica é elegante e muito eficiente, para que se mantivesse o baixo custo. O resultado é uma inundação de luz neste espaço de convivência amplo e enriquecido pelo colorido primário de tecidos, tapetes, poltronas de design, obras de arte e almofadas, que quebram a neutralidade do “off-white” das paredes, do microcimento no piso e da madeira clara de base.