'Dolorido como parto, mas frustrado': o que acontece no aborto espontâneo

Um aborto espontâneo pode ser doloroso não só pela perda emocional, mas também fisicamente quando se opta pela expulsão natural do embrião.

Pouca gente sabe que é preciso esperar quatro semanas para o corpo reagir, e as dores podem ser fortíssimas.

"Depois de 4 semanas desde que o embrião parou de se desenvolver, comecei a sentir as cólicas. As cólicas fortes, na verdade, eram muito fortes. Muito fortes", contou a jornalista Anita Pompeu, em relato a Universa. "O que ninguém fala claramente é que esse processo é como um parto mesmo, só que frustrado."

"Foram cerca de 20 horas de muita dor. E, depois de mais 20 horas de trégua, mais 3 horas de muita dor novamente, até que senti, finalmente, a expulsão que estava por vir, e que esperava há dias - em forma de um 'sangramento' - sair de mim", completou.

Entenda o aborto espontâneo

O aborto espontâneo é a perda de uma gestação (feto/embrião) em sua fase inicial, ou seja, com até 20 semanas e com peso inferior a 500 g.

Ele pode ser considerado precoce, quando ocorre até 12 semanas de gestação, ou tardio, quando ocorre a partir da 13ª semana.

Alguns sintomas são clássicos da maioria das gestações: enjoo, tontura, mal-estar, sono e alterações no humor. E o sumiço repentino desses sintomas pode ser um sinal de alerta.

O principal sinal é o sangramento, que pode ou não vir acompanhado de dor.

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"A cólica também é um sinal, mas é comum que no início da gestação, pelo crescimento do útero, a mulher tenha cólicas", diz Kleber Cassius Rodrigues, ginecologista e obstetra.

Mas, o sangramento vaginal pode ocorrer nos primeiros 3 meses de gestação e não representar abortamento. Se esse for o seu caso, não deixe de ir ao médico, pois a situação varia de acordo com cada mulher.

"Quando você tem a parada de evolução do embrião, essa produção hormonal cai abruptamente. O nível dos hormônios cai e os sintomas caem também. Então, não é incomum que você suspeite do diagnóstico do abortamento pela diminuição dos sintomas que a paciente estava apresentando antes do abortamento acontecer", explica Rodrigues.

Algumas mulheres podem não sentir nada quando ocorre a parada do desenvolvimento e do batimento cardíaco do embrião. Quando não há sinais e sintomas, o aborto é considerado "aborto retido" e o diagnóstico é feito por ultrassom.

Luto não legitimado

Por ser algo delicado, esse tipo de luto pode não ser bem identificado como tal, o que pode trazer dificuldade aos pais neste momento.

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"O bebê existe nos sonhos e nos planejamentos de vida. Ao longo da gestação, é comum que ele passe a existir no discurso dos pais, sendo nomeado, por exemplo. Ele já existe no imaginário e no simbólico dos pais", explica Monica Venâncio, psicóloga do Hospital Universitário da UFBA (Universidade Federal da Bahia) e responsável pelo ambulatório do luto da instituição.

Por essa existência que é necessário e válido que o luto diante da perda desse bebê idealizado possa ser acolhido, reconhecido e que encontre condições de ser elaborado.

De acordo com Gabriela Casellato, doutora em psicologia clínica e fundadora do 4 Estações Instituto de Psicologia, há uma tendência em banalizar a experiência da pessoa, já que aquele ser humano, por exemplo, não existiu, socialmente falando.

Fonte: ginecologistas Kleber Cassius Rodrigues, Flávia Torelli, Alexandre Pupo e Marina Nunes Machado.

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