'Grávida de gêmeas, ouvia coisas ruins de muita gente, mas não me abalava'

"O começo da minha gestação foi cheio de segredos. Era casada desde 2013 e comecei a tentar engravidar em 2015. Como começou a demorar muito, fomos investigar. Não descobrimos nada grave, mas eu tinha na minha cabeça que queria ser mãe logo. Procurei uma clínica de fertilização e, aos 32 anos, recebi o positivo para os dois embriões. Hoje, Martina e Olívia têm 6 anos. Elas foram muito desejadas.

As 12 primeiras semanas são muito difíceis: não queria contar para ninguém pelo risco de abortamento e, mesmo tendo que revelar para meu chefe, pedi para ele manter o segredo. Quando fiz o morfológico, o líquido da Olívia estava baixo e tive que fazer repouso absoluto.

Passados os três primeiros meses, eu, que sou muito preocupada, fiquei calma. Normalmente visualizo cenários ruins, mas só pensava que tudo daria certo. O mesmo não valia para meu entorno: desde a fertilização, todos me preparavam para dar tudo errado. Aliás, essa foi a fase mais difícil de todas. Enquanto me diziam que eu tinha que tentar várias vezes, fiquei um mês esperando o positivo e ele veio.

Daniela na gravidez: muito palpite desnecessário
Daniela na gravidez: muito palpite desnecessário Imagem: Acervo pessoal

Eu era coordenadora de marketing de uma empresa de tecnologia. O ofício em si não exigia esforço físico, mas era um deslocamento grande. Eu ficava um tempão no carro para ir e voltar com muita vontade de ir ao banheiro às vezes. Ali, apesar de me tratarem bem, não aceitaram muito minha gestação — durante todo o período em que fiquei afastada, ninguém perguntava como eu estava.

Outro segredo que mantive foi a fertilização: um colega me disse que era bom eu ter engravidado de maneira natural, porque se fosse fertilização eu teria crianças com problema de saúde. Ele não sabia da verdade. Todos afirmavam que seriam prematuras e que não seria possível amamentar. Era gente dizendo coisas ruins por todos os lados, mas eu não me abalava.

Quando fiz 29 semanas, o tampão mucoso caiu e me pediram para ir à maternidade com mala e tudo. A médica disse que eu não seguraria a gestação nem por duas semanas. Tomei injeções para amadurecer o pulmão das meninas e voltei ao repouso absoluto. Quando deu 32 semanas, nada havia acontecido. E a médica me liberou para voltar ao trabalho.

Trabalhei até as 35 semanas, quando, de tanto escutar que teria bebês prematuros, achei que era melhor tirar a licença logo. No fim da gestação, a barriga estava gigante e era muito pesado para mim, porque tenho 1,55m. Na minha cabeça, parir com 36 semanas era um cenário bom, mas elas só vieram com 37 semanas e dois dias. Eu não aguentava mais esperar e fazia exercícios com bola de pilates o dia todo para ver se entrava em trabalho de parto.

O momento do nascimento, aliás, foi algo que me incomodou. Eu queria muito ter um parto natural e consegui, apesar da pressão, não agendar a cesárea. Foi uma luta com minha médica, que dizia que era muito arriscado. Combinamos então de decidir quando começassem as contrações. Mas, nesse dia, do momento em que entrei na recepção, a médica, as enfermeiras, os outros pacientes, todo mundo me desencorajou.

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Acabei indo para a cesárea, e isso tem um gosto agridoce para mim. Na hora, foi tudo ótimo, mas depois de algum tempo comecei a pensar que poderia ter dado um tempo maior para a dilatação. Sinto que não foi uma escolha, me senti pressionada e sei que poderia ter insistido um pouco mais. A gestante deveria acreditar mais em si mesma e ouvir menos palpites, mas, para isso, a chave é se informar — é assim que temos poder. Mesmo sendo privilegiada e tendo lido muito, me senti um pouco enfraquecida pelo sistema na hora de optar pela cesárea.

Se pudesse voltar atrás, não manteria os primeiros três meses com tantos segredos. Isso pesou muito no começo e não tinha necessidade. Não tenho vergonha nenhuma de ter feito fertilização e, mesmo que tivesse passado por um abortamento, ter contado para os outros teria me fortalecido e talvez me fizesse sentir mais acolhida."

Daniela Mendonça, 38 anos, publicitária, mãe de Martina e Olívia, 6 anos

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