'Mulheres negras estatisticamente sofrem no parto, mas não foi meu caso'

"Minha gravidez era muito desejada, mas foi imprevista ao mesmo tempo. Como eu fazia um tratamento longo de ovário policístico, ficava tempos sem menstruar e não desconfiava que pudesse ser gravidez. E meu sintoma foi bem diferente das mulheres que, nos primeiros meses, ficam enjoadas: eu tinha dores fortíssimas de barriga. O intestino estava tão solto que cheguei a pensar que estava com câncer.

Quem me deu o toque foi minha tia, que teve o mesmo sintoma. Ela disse que tinha ficado com diarreia também e que eu poderia estar grávida. Fiz o exame e deu positivo. Já estava grávida de três meses e só então comecei o pré-natal.

Como sou uma profissional autônoma e meu marido também, escondi a informação no trabalho até o quarto mês. Tive muito medo de ser demitida. Depois disso, acabei contando e fui bem recebida. Mas era complicado lidar com os pacientes e ver como eles lidavam com a minha gravidez. Alguns reagiam de maneira carinhosa, outros preferiam ignorar o fato. Na reta final, não conseguia ficar de sapatos, porque inchei muito, nem buscar os pacientes no andar de baixo. Paguei o INSS para ter auxílio-maternidade. Com tudo isso, senti que minha gravidez foi muito exposta.

Hoje, olhando para trás, penso que seria importante ter feito tratamento psicológico durante a gestação, mas na época, vivendo todo esse estresse, nem cogitei.

Não tive, entretanto, risco de algo dar errado. Parei de trabalhar nas férias de dezembro e Luigi nasceu em janeiro. A reta final foi meio complicada porque tive pressão alta e, como trabalho como doula, queria muito ter parto normal. Quando ia fazer exames, ficava nervosa e minha pressão subia demais — e já tinha tomado até chá de canela, porque, com 42 semanas, nada de ele nascer.

Um dia, fui à missa e, na volta, disse ao meu marido que estava em trabalho de parto. Foi um vizinho que nos levou ao hospital. Cheguei lá com nove dedos de dilatação, mas o bebê havia se enrolado no cordão umbilical. Os batimentos cardíacos diminuíram e o médico disse que estava com dó de fazer uma cesárea, mas era importante para ele não correr risco. Deu tudo certo: ele nasceu bem, o que era mais importante.

Sei que as mulheres negras recebem menos anestesia no parto, mas fiquei fora dessa estatística. Todas as mulheres da minha família sofreram muito e foram mal tratadas no parto e fico feliz de ter uma história diferente. A recuperação da cesárea é difícil, mas é uma superação grande. Intuição é algo espontâneo e acreditar nela é essencial. Foi a partir do momento em que ouvi minha que as coisas foram caminhando.

Agora temos muita informação. Mães contando suas experiências de forma muito completa na internet ajudam o caminho das gestantes. Eu digo sempre: se nutra de informação, mas não deixe de confiar em sua intuição."

Natália Cristiane Macario de Oliveira, 38 anos, psicóloga, mãe de Luigi, 9 anos

Deixe seu comentário

Só para assinantes