A partir de uma arquitetura de formas básicas, “olhos” esculturais saltam da fachada da Casa Bierings, em variados ângulos e tamanhos, buscando a paisagem interiorana de Utrecht, na Holanda. São janelas, portas e claraboias, posicionadas estrategicamente pelo projeto do escritório Rocha Tombal Arquitetos. O intuito era integrar a residência familiar com a área externa do terreno plano, sem perder privacidade.
Outro fio condutor para desenvolver a construção foi criar uma rota de circulação, desde a entrada principal, na face norte mais escura, passando pela cozinha (coração da casa, no lado oposto), e subindo por um lance de escadas até o primeiro pavimento, onde ficam a sala de estar, o escritório e o quarto do casal. “O primeiro andar é o refúgio dos proprietários”, justifica o arquiteto Michel Tombal.
O trajeto é marcado pelo piso autonivelante branco e por paredes revestidas com painéis de carvalho-americano. Os quartos das crianças ficam no andar de baixo, com portas-balcão que se abrem diretamente para o jardim. Ainda no pavimento térreo, o forro inclinado da cozinha acentua a integração deste ambiente com a área verde.
Estrutura
A estrutura da morada mistura blocos sílico-calcários com colunas metálicas. Na verdade, os blocos é que fazem das paredes o corpo principal, sendo os pilares metálicos necessários apenas para sustentar as várias aberturas (os “olhos”) que se projetam para além da fachada e da cobertura.
Colunas metálicas também dão apoio ao telhado e à chaminé. Já a base da residência conta com vigas pré-moldadas em concreto protendido, sob a pressão de uma camada espessa e superficial de concreto. No andar superior, a laje leva vigas pré-moldadas treliçadas de concreto. “O projeto estrutural atendeu ao desenho arquitetônico, cuja prioridade foi clarear espaços internos a partir de todos os ângulos possível”, diz Tombal.
Assim, a cozinha, com área de leitura e jantar, é o espaço mais iluminado da residência. Como sua fachada é sul, recebe sol durante todo o dia – o que fez das cortinas item essencial às extensas portas de vidro de correr. No ambiente, forno e cooktop estão inseridos em nichos em uma parede revestida pelos painéis amadeirados. O piso é de poliuretano, uma resina autonivelante que, apesar de ter aspecto frio, principalmente em função de seu tom esbranquiçado, é quente ao toque.
As paredes sílico-calcárias receberam ainda camada isolante e película resistente às infiltrações e são acabadas com estuque de madeira e pintura branca. Ao longo da escadaria e do corredor que vão da cozinha ao primeiro andar, foi mantido o mesmo padrão de revestimento “aquecido”, com piso branco e paredes em painéis de compensado. As passagens, além de dar continuidade à linguagem geral da casa, “recriam” vielas estreitas típicas dos antigos bairros medievais europeus. Sem dúvida, um jeito de aconchegar o ambiente, numa região tão fria e úmida.