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Fora da Globo, Eriberto Leão estreia peça sobre 'teoria do macaco chapado'

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Imagem: Divulgação

Carlos Minuano

Colaboração para Ecoa

23/07/2023 06h00

Seriam os cogumelos extraterrestres? Para o etnobotânico americano Terence Mckenna, sim. Segundo ele, os fungos psicodélicos, "espécies altamente inteligentes", chegaram à Terra após migrar pelo espaço e foram responsáveis por uma aceleração do desenvolvimento cerebral do hominídeo primitivo.

A hipótese, popularizada na década de 1960 como "teoria do macaco chapado" (em inglês, stoned ape theory), reaparece agora na peça 'O Astronauta', solo do ator Eriberto Leão, em cartaz em São Paulo até 30 de julho. Mas, as ideias que movem a peça vão para além da expansão da consciência provocada pelos tais cogumelos mágicos.

O espetáculo viaja por referências que entrelaçam psicodélicos, clássicos do universo pop e questões contemporâneas como a relação da sociedade com a natureza, sustentabilidade, dinheiro e tecnologia.

"A simbiose dos fungos ensina sobre economia circular", diz Eriberto Leão em entrevista a Ecoa. "Está perfeitamente alinhado com a economia circular que nasce com James Lovelock e a hipótese de Gaia, desenvolvida por ele."

O reino dos fungos trabalha em simbiose com todos os outros seres, não há desperdício, tudo é reaproveitado.

Eriberto Leão

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O biólogo britânico James Lovelock, que morreu em julho de 2022 aos 103 anos, trabalhava na Nasa (agência espacial dos EUA) quando apresentou sua hipótese, na década de 1970.

Segundo o cientista, o planeta Terra é um imenso organismo vivo, com capacidade de se autorregular para obter energia, regular o clima, temperatura e combater doenças.

Considerado um profeta do clima, suas ideias já previam mudanças climáticas e alertavam para que algo fosse feito a respeito imediatamente. Sua hipótese, que foi central para o entendimento sobre o impacto humano no planeta, está sendo abraçada hoje por novos cientistas, economistas e pela arte, observa Leão.

É possível salvar a Terra

Amparado nas ideias de Lovelock, o ator acredita que os estragos no planeta são reversíveis, mas para salvar a humanidade, o único caminho é o da economia sustentável. Entusiasta dos cogumelos, defende que comportamento dos fungos na natureza indicam como fazer isso.

"Eles dão o que tem de excesso para receber o que não tem, não há acumulação de nada, tudo circula, não há desperdício nem consumo desnecessário", exemplifica o ator. "Quando uma árvore está doente, outras árvores mandam nutrientes para ela através do micélio dos fungos."

Economia circular, expansão da consciência e reconexão com a natureza se conectam na peça "O Astronauta". O ator comenta que nenhuma dessas ideias são novas, mas ganham força e sentido no momento em que a humanidade se encontra à beira do abismo.

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As pessoas estão mais abertas a essas ideias porque todos nós estamos sentindo e vivendo esse desastre iminente.

Eriberto Leão

Episódio de 'Black Mirror'

O ator, que deixou a TV Globo depois de 20 anos, afirma estar vivendo um momento especial na carreira, de mais autoralidade. Com referências que vão de Aldous Huxley a Carlos Castaneda, passando por Terence Mckenna e Timothy Leary. 'O Astronauta' reflete essa fase.

Idealizada e dirigida por José Luiz Jr, com dramaturgia de Eduardo Nunes, a peça teve uma versão digital durante a pandemia da covid-19. Antes inspirada mais em clássicos da ficção científica, o espetáculo, segundo o ator, chegou a São Paulo com uma roupagem mais psicodélica.

A peça começa com o astronauta sonhando que encontra uma miniatura do monolito do filme '2001: Uma odisséia no Espaço', de Stanley Kubrick e Arthur Clarke. O objeto vira um maracá e ele dança como em ritual xamânico ou numa cerimônia do Santo Daime, religião que utiliza a bebida indígena amazônica ayahuasca.

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A trama caberia perfeitamente em um episódio da série 'Black Mirror'. Em uma espécie de reality espacial, com transmissões on-line para milhares de seguidores na Terra, o personagem viaja em busca de vida extraterrestre, acompanhado apenas por um robô.

Ao longo do espetáculo, descobre-se que o personagem é também um psiconauta, e que ele faz uma outra viagem paralela para dentro de si mesmo, embalada por canções de David Bowie, como 'Starman' e 'Space Oddity'.

A viagem da viagem

É nessa outra viagem que aparecem também referências a substâncias como LSD e cogumelos mágicos, que foram perseguidas e proibidas desde a década de 1970, quando se tornaram motores da contracultura, movimento ao qual Leão se diz conectado desde a infância.

Sou um ator contracultural.

Eriberto Leão

Há pouco mais de uma década, as pesquisas científicas com psicodélicos foram retomadas. Resultados promissores de estudos atraem cada vez mais os holofotes para essas controversas substâncias, mas agora não mais como alucinógenos perigosos.

Estudos mostram que componentes dos cogumelos podem ser uma esperança de tratamento, e até de cura, para diversas doenças, em especial, transtornos mentais severos. "A natureza não colocou essas plantas no planeta por acaso", defende o ator.

A peça tem ainda participações em vídeo de Zé Carlos Machado (no ar na novela 'Vai na fé', TV Globo), Rosane Svartman, Luana Martau e Jaime Leibovitch. 'O Astronauta' fica em cartaz até 30 de julho no Teatro Nair Bello, no Shopping Frei Caneca, em São Paulo.

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