Quem são os três jovens embaixadores brasileiros que foram à COP28

Eles têm entre 21 e 23 anos. São jovens brasileiros que, diante de um mundo que desenha uma reação global aos eventos naturais extremos, tornaram-se especialistas em mudanças climáticas, negociações internacionais e questões transversais.

A paulista Helena Branco, o potiguar Gabriel Souza e a tocantinense Maria Gabriela Rodrigues integraram a Operação COP 28, um grupo que acompanhou, em Dubai, o trabalho da delegação brasileira em reuniões com representantes de outros países sobre o tema mais urgente do nosso século.

A ideia é que a experiência proporcione aos estudantes uma maior compreensão sobre os processos internacionais de negociação, possibilitando o desenvolvimento de competências valiosas para um futuro em que a urgência climática se impõe.

Antes de embarcar para os Emirados Árabes Unidos, os três jovens, que foram escolhidos entre 165 estudantes e ativistas ambientais de sua mesma geração, receberam uma mentoria de um curso de negociação climática ministrado por professores da Universidade Harvard.

A formação dos jovens foi coordenada pelo Centro Brasil no Clima, think-tank que trabalha pela concretização do Acordo de Paris e pela promoção da justiça climática. A iniciativa foi viabilizada a partir de uma parceria com o The Climate Reality Project América Latina e com os Ministérios das Relações Exteriores e Meio Ambiente e Mudança do Clima. O The Climate Reality Project Brasil foi concebido pelo vencedor do Prêmio Nobel da Paz e ex-vice-presidente dos Estados Unidos, Al Gore, e é representado no Brasil pelo Centro Brasil no Clima.

Saiba quem são esses jovens embaixadores.

Maria Gabriela Souza

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Natural de Porto Nacional, no Tocantins, a jovem de 21 anos acredita que as alterações extremas do clima se conectam com sua vivência "como jovem negra que mora no cerrado brasileiro e presenciou —e, infelizmente, ainda presencia— a destruição desse bioma pelas ações do agronegócio e as mudanças cada vez mais fortes que afetam desproporcionalmente os grupos mais vulnerabilizados".

Graduanda em direito pela Universidade Federal de Tocantins, a estudante vem atuando no terceiro setor a partir de experiências bem-sucedidas no Instituto de Direito Global, onde pesquisa sobre transição energética, e o IERê, grupo de pesquisa e extensão em igualdade étnico-racial.

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Em 2020, Maria Gabriela foi a primeira pessoa da região norte do Brasil, em 13 anos, a ser selecionada como líder de um programa para fortalecimento da função pública na América Latina. Recentemente, o governo do Canadá concedeu à jovem o prêmio do Emerging Leaders of the Americas Program.

Esta foi a minha primeira COP e, pra mim, foi surreal poder acompanhar as negociações com os diplomatas e ver de tão perto como esse processo acontece. Destaco a atuação das organizações na reivindicação de que o Racismo Ambiental seja levado em consideração em todos os âmbitos das negociações. O Brasil tem sido um dos principais líderes na tentativa de convencer os outros países sobre a importância do tema, e isso também é fruto das atuações dos movimentos sociais.

A jovem desenvolveu uma pesquisa na McMaster University sobre os direitos das mulheres indígenas no Canadá e no Brasil. "Quero aprender o máximo de coisas sobre a temática e compartilhar conhecimentos com os meus pares. E, claro, me dedicar ao estudo das políticas e estratégias relacionadas às mudanças climáticas e sobre como elas podem impactar a desigualdade étnica, de classe e gênero", destaca.

Guilherme Souza

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Os longos períodos de seca e a consequente migração das pessoas das regiões afetadas para os grandes centros urbanos foram os primeiros sinais de mudanças climáticas que chamaram a atenção do potiguar Guilherme Souza, hoje com 23 anos.

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Estudante de relações internacionais na Universidade Federal da Paraíba, ele teve a certeza de qual caminho queria trilhar ao participar, em 2019, da Semana do Clima da América Latina e Caribe, promovida pela ONU, em Salvador.

"A minha 'virada de chave' se deu justamente naquele evento, que contou com a participação de atores locais, movimentos da sociedade civil e gestores". Ele conta que a partir dessa experiência, a agenda internacional de debates se mostrou como algo "palpável" e perceptível a partir de sua região. "Eu enxerguei naquelas pessoas e suas pautas a oportunidade de atuar localmente"

A partir daí, Guilherme passou a se engajar em assuntos envolvendo a diplomacia, participar de grupos de pesquisa e de trabalhos acadêmicos sobre meio ambiente, política e mudanças climáticas. A participação na conferência foi para ele também uma oportunidade de entrar em contato com outros jovens líderes de outras partes do mundo.

Entre os feitos desta COP, ele destaca a criação do CHEMP, uma plataforma que incentiva a atuação multinível, com foco nas cidades. Segundo o jovem, essa iniciativa reconhece a importância dos atores locais na implementação de acordos internacionais e na resposta a eventos climáticos extremos.

No entanto, é importante ressaltarmos a necessidade de atenção à efetiva transformação das discussões desses atores em políticas concretas. Outro ponto é a participação ativa dos atores locais, como prefeitos e governadores, que, embora expressem intenções ambiciosas de mitigação e adaptação, muitas vezes buscam financiamentos que podem não estar alinhados a uma política climática abrangente e às necessidades comunitárias. É crucial que a sociedade civil esteja atenta à tradução efetiva dessas falas em ações políticas holísticas.

Helena Branco

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Desde cedo, Helena enxergou nas políticas públicas o caminho para impactar pessoas de maneira sistêmica. Paulista de 21 anos, ela começou sua atuação como ativista aos 15, quando se tornou voluntária na ONG Girl UP Brasil, um movimento da Fundação das Nações Unidas que inspira, treina e conecta meninas do mundo todo para que elas possam atuar como líderes em suas comunidades, trabalhando especialmente em função da igualdade de gênero.

Ao longo dos últimos anos, a estudante de políticas públicas e relações internacionais da Universidade Federal do ABC (UFABC) participou de inúmeras campanhas em prol dos direitos de jovens e, especialmente, das mulheres.

Esta não foi sua primeira vez na conferência da ONU para o clima. Na COP27, realizada no Egito no ano passado, ela compareceu como representante da Girl Up Brasil e, além de se conectar com outros jovens líderes, analisou a atuação de sua geração diante das negociações.

Foi na COP que eu entendi como os jovens podem impactar as grandes negociações climáticas e constatei que não há justiça de gênero sem justiça climática.

O quarto jovem

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Graduando em relações internacionais pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), Luan Werneck não é especialista em mudanças climáticas, como os outros três jovens embaixadores. Porém, também esteve na COP28 acompanhando o grupo. Ele é analista júnior de projetos no Climate Reality Project Brasil e no Centro Brasil no Clima.

"Tive uma impressão muito boa da COP 28, bem chocante na realidade, considerando o tamanho que o evento teve. Foi como um evento em formato de parque de diversões, como muitas coisas para fazer e muitas coisas para não fazer."

Ele diz que a impressão é de que existem dois mundos, que muitas vezes não se conectam: o mundo dos mecanismos das negociações e o mundo dos eventos paralelos da sociedade civil.

Uma curiosidade é o poder de liderança que o Brasil mostrou nesse ano. A gente trouxe uma delegação gigantesca do governo para a COP, em comparação com outros países da América Latina, que não têm fundos nem capacidade para trazer uma delegação tão grande. Vejo que estamos sendo essa frente do sul global.

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