De Preta Gil a Ana Maria: moda sustentável do RN conquista celebridades

Fashion e sustentável

O designer potiguar faz o que é chamado no universo das marcas de upcycling, que consiste em reutilizar materiais que seriam descartados para criar um produto. Assim, aumenta-se o ciclo de vida útil daquele item que iria para o lixo.

O trabalho do estilista nascido na cidade de Mossoró e radicado em Natal vai ao encontro de uma questão ambiental urgente. Dados de 2020 da organização sem fins lucrativos Global Fashion Agenda, em parceria com a consultoria McKinsey, apontam que a indústria da moda é a segunda mais poluente do mundo, ficando atrás somente da exploração de petróleo.

A organização estima que mais de 92 milhões de toneladas de resíduos têxteis foram descartados nos últimos anos pelas empresas que atuam no mercado da moda, e esse cenário deve piorar. A projeção é de que, nos próximos oito anos, o número salte para 140 milhões de toneladas, o que significa um aumento de 60%.

É para combater estatísticas como essa que George desenvolve suas peças e acredita que o ramo fashion precisa ser mais sustentável.

Adoro o exercício de 'dar uma nova vida' a algo que já existe e, agora, tenho em minhas mãos essa missão de fazer uma moda diferente.
George Azevedo, estilista

Ao trabalho de upcycling, o estilista adiciona pinturas à mão feitas por ele e técnicas artesanais bem conhecidas no Nordeste, como crochê e fuxicos. Os bordados são feitos em parceria com uma cooperativa de crocheteiras de Messias Targino, cidade localizada na região oeste do Rio Grande do Norte. Uma forma de preservar e valorizar esse saber ancestral.

Como tudo começou

Embora atue no mercado da moda há mais de 30 anos, a jornada de George como estilista começou mais recentemente, em 2020. Ele é dono de uma agência de modelos no estado, a Tráfego Models, e entre os anos 1990 e 2016 trabalhou no varejo com uma loja de roupas. "Já ralei muito nesse mercado".

Foi na pandemia que, durante o período de distanciamento, que ele começou a pintar telas como uma forma de distração. Das telas passou para os tecidos e, quando viu, já estava dando vida às suas obras em peças jeans usadas.

Isso tem muito a ver com minha personalidade. Eu sou daqueles que não gosta de roupas novinhas. Meus looks pessoais sempre tiveram rasgões e pinceladas, então esse trabalho surgiu muito naturalmente.
George Azevedo, estilista

Em coletes, jaquetas, vestidos, saias, camisas, calças e roupas de praia, suas pinturas e criações retratam bastante a fauna e a flora da caatinga nordestina. Outra maneira de homenagear suas raízes e exaltar a natureza. Até o momento, George já desenvolveu três grandes coleções: a "Salto da Onça", "Bicho Solto" e "Praieira".

Essa última, lançada em novembro deste ano, se inspira no litoral potiguar e, expandindo o mote de onças e aves raras das coleções anteriores, traz como inspiração o universo marinho com seus peixes, crustáceos e estrelas do mar.

Pelo país

George conta com orgulho que faz parte da plataforma Nordestesse, uma rede colaborativa criada pela ex-diretora da revista Vogue Daniela Falcão, para fomentar talentos e empreendedores dos nove estados nordestinos.

Essa conexão fez surgir muitas parcerias e, atualmente, além de serem vistas por aí compondo os looks das celebridades, as peças do designer podem ser encontradas em lojas espalhadas pelo Brasil.

Em Salvador, suas criações estão disponíveis nas araras da Casa Nordestesse, no Shopping Barra; em Recife, na loja Dona Santa; em Natal, na Collezione; em Mossoró, na Maison Fátima Carlos; em João Pessoa, na Guilhermina e, em Ilha Grande, no Rio de Janeiro, na Roda Roupa.

Em dezembro de 2023, as roupas de George chegam à unidade da Casa Nordestesse em São Paulo, no Shopping Iguatemi. As vendas acontecem ainda pelo WhatsApp, o próprio estilista é quem faz o atendimento. "Quando comecei a pintar telas na pandemia, eu queria mesmo é fugir da moda, mas percebi que ela é a minha grande razão de ser. E quero fazer uma moda consciente."