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Anderson Baltar

Unidos da Tijuca quer voltar a ser campeã com Comissão reforçada

A Unidos da Tijuca desfila Marquês de Sapucaí - Wilton Junior/Estadão Conteúdo
A Unidos da Tijuca desfila Marquês de Sapucaí Imagem: Wilton Junior/Estadão Conteúdo

10/12/2018 17h31

Uma das escolas que mais evoluíram nos últimos 20 anos no Carnaval carioca, a Unidos da Tijuca demonstra estar de volta à briga do título. Após o acidente no desfile de 2017 e de um Carnaval de entressafra em 2018, a azul e amarela trouxe como reforços para o seu barracão o diretor de Carnaval Laíla e o carnavalesco Fran Sergio. Eles se juntaram à Comissão de Carnaval formada por Annik Salmon, Hélcio Paim e Marcus Paulo, que já vinha trabalhando na agremiação desde os tempos em que o desfile era comandado por Paulo Barros. 

Com a nova composição, a Comissão ganha a junção de duas filosofias que renderam campeonatos: a modernidade e leveza da Tijuca e o luxo e densidade dos desfiles da Beija-Flor. A mistura, à primeira vista inusitada, de acordo com os carnavalescos, dará certo na Sapucaí. A Tijuca, que encerrará o desfile de domingo, trará o enredo "Cada macaco no seu galho. Ó, meu Pai, me dê o pão que eu não morro de fome!", sobre toda a importância do pão no contexto histórico, religioso e social ao longo da trajetória da humanidade.

Para saber mais detalhes do Carnaval da escola, conversamos com Annik, Fran Sergio, Hélcio e Marcus. Confira:

Anderson Baltar: Como surgiu a ideia do enredo?
Annik:
A gente já tinha a vontade de fazer um enredo que tocasse as pessoas e tivesse uma mensagem emocional, de amor. Recebemos um e-mail com a sugestão de um enredo sobre o páo. Só que a proposta era de um enredo histórico. Gostamos da ideia de usar o pão como pano de fundo para o nosso enredo, mas usar para falar do momento atual do país e do mundo, da falta de amor e de companheirismo e da intolerância política e religiosa. 
A Tijuca tinha uma linha de Carnavais, desde Paulo Barros. E Laíla e Fran vieram da Beija-Flor com outra proposta. Qual será o estilo de desfile? Leve e alegre que nos acostumamos ou um pouco mais clássica?

Marcus: Um pouco dos dois. Tanto para nós quanto para eles é um estilo diferente de enredo. E tudo se encaixou perfeitamente. 

Fran Sergio: Todos tínhamos a vontade de fazer um enredo com essa pegada. Vai se criar uma nova forma de desfile. O samba já mostra isso. É uma outra Tijuca que irá para a avenida. 

Teremos alegorias humanas?
Annik: Sim!
Fran Sergio: Teremos a alegria e a leveza da Tijuca, mas a pompa e o luxo dos bons tempos da Beija-Flor. 
Marcus: Você vai falar que não é Beija-Flor, nem Tijuca. É uma nova forma de Carnaval.
Hélcio: Queríamos fazer um enredo mais humanitário e ter um grande samba. Era uma deficiência da escola. Apesar de cantarmos muito, batíamos na trave. O trabalho do Laíla aprimorou muito a qualidade dos sambas e fomos muito felizes porque tivemos uma final com quatro grandes obras. Estamos apostando no trabalho de barracão e no samba, que já foi abraçado pela comunidade.
Fran Sergio: O Laíla é um grande mestre e está com sangue nos olhos, com vontade de ser campeão. E, a despeito de toda experiência,  a mente dele é mais jovem que a nossa.
Annik: Quando estamos desanimados, ele vem e nos incentiva. 

O que podemos saber desde já do que será mostrado na avenida?
Fran Sergio: Contaremos a história do pão, não só o alimento, mas o pão material, espiritual e social. Falaremos do início do pão, das primeiras civilizações que o desenvolveram. Temos uma parte religiosa, mostrando o pão da vida. Enfocaremos a era das revoluções, surgidas por conta da falta do "pão", mostraremos a chegada do alimento ao Brasil, dos negros nos tumbeiros vindo para cá à base de pão e água. E terminamos com uma crítica social, a toda essa desigualdade e intolerância. Se cada um fizer sua parte, ou seja, cada macaco estiver no seu galho, teremos um mundo melhor. 
Vivemos a pior crise financeira da história do Carnaval. No que vocês apostaram para diminuir os custos?
Hélcio: O presidente pediu para não tivermos excessos e desperdício. Vamos trabalhar bastante com materiais alternativos.
Fran Sergio: Tem muita palha, capim. As roupas não são muito grandes, porque queremos que a escola evolua  e cante muito. E também diminuímos um setor: ao invés de seis carros, desfilaremos com cinco.
Marcus: Fizemos também um trabalho grande de pesquisa de materiais. Fomos em São Paulo procurar e conseguimos muita coisa a um preço bem mais baixo.
Hélcio: O corte mais sensível na estrutura é o de uma alegoria. Temos uma ala a menos do que ano passado. Não podemos prejudicar a qualidade do espetáculo. 
2018 foi um ano de transição. Para 2019, podemos considerar a Tijuca de volta pra briga, mesmo desfilando no domingo?
Annik: Sem dúvida. Inclusive, a Tijuca já foi campeã desfilando no domingo. 
Fran Sergio: E ainda vamos encerrar o desfile. Eu, particularmente, adoro. Ganhei alguns Carnavais na Beija-Flor nesta posição de desfile.
Marcus: É o nosso objetivo. 
Annik: Nos últimos anos, as escolas que trazem um grande samba têm sido campeãs. Nesse ano, além dos quesitos da Tijuca, que sempre foram fortes, temos um grande samba. Isso pode fazer a diferença.
Hélcio: É fundamental agradar ao público. Se tivermos um grande samba, o público se empolgará e, certamente, influenciará os jurados. 

Mesmo desfilando de dia?
Marcus:
O nosso último campeonato foi em 2014, com o enredo do Ayrton Senna, encerrando o desfile.
Hélcio: Prefiro desfilar por último do que primeiro. 
Fran Sergio: Já estamos preparando para desfilar de dia. Paleta de cores, materiais, tudo feito para brilhar com o sol.
Hélcio: O nosso sonho é que o povo se empolgue com o samba e venha sambando atrás da Tijuca. Estamos trabalhando para isso. Ter um samba explodindo na Sapucaí é a melhor resposta e a maior satisfação.

Anderson Baltar