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Samba, glamour e malhação: a intimidade de uma rainha de bateria

A rainha de bateria Bianca Monteiro -  CARL DE SOUZA / AFP
A rainha de bateria Bianca Monteiro Imagem: CARL DE SOUZA / AFP

20/02/2020 11h05

Com um sorriso radiante, as pernas fortes e torneadas e o corpo banhado em suor, Bianca Monteiro tem muito samba no pé: ela é rainha de bateria da Portela, uma das escolas mais tradicionais do Carnaval do Rio de Janeiro.

A beldade de 31 anos se prepara para brilhar na madrugada de segunda-feira (24) diante de 70.000 espectadores na Marquês de Sapucaí, e de milhões de telespectadores e internautas que vão acompanhar os desfiles do Grupo Especial do Sambódromo.

A roupa que irá vestir é mantida em sigilo até o último momento, quando aparecerá à frente de 300 percussionistas, o coração da escola que vai disputar o título com outras agremiações do Grupo Especial que desfilam nas noites de domingo e segunda de carnaval.

Manter um corpo digno de rainha - que mais parece com o de uma atleta de alto nível do que o de uma modelo de passarela - exige desta bela mulher negra, de 1,73 metro, várias horas por dia de musculação e aulas de dança.

"Tento me alimentar da forma mais saudável possível. Pelo fato de ser rainha, tenho que ter essa doutrina alimentar", admite, antes de comer um hambúrguer durante uma sessão de fotos.

Bianca 2 -  CARL DE SOUZA / AFP -  CARL DE SOUZA / AFP
Imagem: CARL DE SOUZA / AFP

Silicone "sem excesso"

Esculpir uma rainha exige ajuda de especialistas: professor de dança, esteticista duas vezes por semana, dentista e endocrinologista, que receita vitaminas e comprimidos para emagrecer e ganhar massa muscular.

Sem esquecer do cirurgião plástico.

"Eu já tinha 300 ml de silicone no peito e coloquei mais esse ano, hoje estou com 485", conta, sorridente.

"Não tenho nenhum problema com isso, contando que não tenha excesso, sem ser aquela coisa doentia, sem mudar quem você é de fato", explica.

Tanto esforço exigiu um investimento pessoal.

"No início, foi mais um investimento, são muitos gastos. Só comecei a ter algum retorno financeiro este ano mesmo", revela.

Assim como uma miss faz pelo seu país, Bianca representa a Portela e é recompensada por sua participação em shows e nas aulas de samba que oferece.

Sua fama faz com que seja solicitada em todo o Brasil e inclusive no exterior. Recentemente, viajou em turnê ao Japão.

Bianca -  CARL DE SOUZA / AFP -  CARL DE SOUZA / AFP
Imagem: CARL DE SOUZA / AFP

Sonho realizado

Nada indicava que essa mulher de origem humilde fosse se tornar um dos ícones de glamour do carnaval carioca.

As escolas de samba costumam escolher atrizes ou modelos famosas para o posto de rainha.

Para Bianca, parecia impossível, apesar de ter nascido e crescido no meio do samba. "Segundo meu pai, ele me levava no bebê conforto. Cresci vendo artistas sendo rainha de bateria, então nunca esperava que uma menina da comunidade fosse se tornar Rainha de uma escola tão tradicional como a Portela", relata.

Mas a azul-e-branca decidiu apostar em um talento da casa e em 2017 coroou Bianca, que já tinha participado como passista em uma dezena de desfiles.

"Meu primeiro ano como Rainha foi a realização de um sonho, tudo que eu planejei na minha vida", diz Bianca, lembrando que em sua estreia no posto ganhou o título que a escola aguardava há 33 anos.

"Vai ser a marca da minha vida. Tanto que tenho uma tatuagem com o enredo de 2017", acrescenta.

Uma honra que não a protege do racismo nas redes sociais.

"Sou negra, pobre, venho de uma comunidade e tem pessoas que pensam que não mereço estar onde estou", afirma.

Mas os moradores do subúrbio de Madureira, na zona norte do Rio, sentem orgulho da sua rainha.

"Eu a conheci nova, adolescente, na quadra, lutando e conquistando o que ela queria", lembra Adriana Viana, de 47 anos, veterana da Portela. "A comunidade a abraçou, como se fosse uma filha mesmo", completa.

A "Rainha" é uma inspiração para as crianças de Madureira, bairro que abriga a Portela. "Ela é muito legal, adoro ela, acho ela muito bonita. Queria muito ser rainha, queria sambar como ela, ser bonita como ela", suspira Isabella, de 9 anos, que não perde nenhum dos movimentos da sua musa durante os ensaios.

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