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'O horror de ser negro': Jordan Peele responde 4 perguntas sobre novo filme

Jordan Peele dirigindo "Corra!" (2017) - Divulgação/Universal Pictures
Jordan Peele dirigindo 'Corra!' (2017) Imagem: Divulgação/Universal Pictures

M.M. Izidoro

Colaboração para Ecoa, em São Paulo (SP)

27/08/2022 06h00

Na última quinta-feira (25), estreou nos cinemas brasileiros o terceiro filme do cineasta Jordan Peele. Criador de obras como "Corra!" (2017) e "Nós" (2019), agora é a vez de apresentar ao público "Não! Não Olhe!".

O filme é apenas a terceira produção do diretor. Mas não se engane: Jordan Peele conta com uma vasta coleção de prêmios, sendo, inclusive, indicado ao Oscar por Melhor Filme, Melhor Diretor e Melhor Roteiro Original — e o último ganhou. Sem contar o respeito e reconhecimento que conquistou nos últimos anos, considerado um dos melhores e mais importantes cineastas da atualidade.

Em "Não! Não olhe!", uma cidade do interior começa a registrar eventos, no mínimo, inusitados. Peele explora um dos gêneros atualmente esquecidos pelo cinema de horror: o de alienígenas.

Ecoa: Por que você usa o cinema para colocar uma lupa em questões sociais?

Jordan Peele: Bem, eu penso no gênero como basicamente qualquer coisa que não seja drama. Eu adoro filmes porque adoro escapismo. Adoro poder fugir. E eu sempre adorei a ideia desse grande sucesso de bilheteria com uma história original para gente ver nas férias. Esse era um sonho meu. De ser capaz de fazer algo com esse escopo e com essa escala e com esse tipo de colaboradores talentosos. Acho que quando as pessoas vão se divertir, elas podem se divertir, ter uma experiência visceral e fantástica, e então espero que voltem para casa e tenham uma ótima conversa sobre isso também.

Você fala muito sobre trauma, especialmente o que homens não fazem com sua saúde mental. Por que isso era importante para você?

Isso é importante para mim de várias maneiras. Existe uma linha direta entre os personagens de Daniel Kaluuya em "Corra!" e neste filme: ambos os personagens são pessoas que precisam resolver um trauma.

Na verdade, há vários personagens neste filme que estão fazendo isso. Para mim, o trauma é a base para o horror. Há algumas coisas pelas quais todos nós meio que passamos. Se você puder identificar isso e transformar em uma experiência agradável, acho que é catártico para as pessoas.

E por que é importante falar sobre saúde mental? Você faz algo para cuidar de si mesmo?

Bem, obrigado por perguntar. É uma pergunta maravilhosa. Quando eu comecei com "Corra!", uma das coisas que eu queria explorar eram os medos que eu tenho como homem negro. Um dos medos que ainda existe é o medo com a própria saúde mental. Eu queria usar isso de várias maneiras.

Mas também sinto que é muito importante que pessoas negras aceitem ajuda quando necessário. E eu sei que é uma cultura que não está necessariamente aberta a isso o tempo todo.

Ao mesmo tempo, a cultura da saúde mental é algo que não necessariamente se abre à comunidade negra. Faz parte da história. Parte de retratar pessoas negras em histórias de terror é entender qual é o verdadeiro horror de ser negro — ou de pelo menos ser negro nos Estados Unidos.

Então, antes de ir, algo que você queira dizer aos brasileiros que vão assistir isso?

Eu espero que vocês gostem desse filme. Se você gosta de filmes originais que são grandes, que são ousados, que são filmes de terror como eles costumavam fazer no passado e que eles não fazem mais... Isso é o que eu estava tentando trazer para vocês, então espero que gostem.

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