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OPINIÃO

Por que 'Não, Não Olhe' é perturbador e o melhor filme de terror do ano?

"Não, Não Olhe" é o terceiro filme lançado por Jordan Peele - Divulgação/ Universal
'Não, Não Olhe' é o terceiro filme lançado por Jordan Peele Imagem: Divulgação/ Universal

De Splash, em São Paulo

25/08/2022 04h00

Jordan Peele conta com apenas três filmes em sua carreira como diretor e roteirista. Parece pouco, mas foi o suficiente para que ele se tornasse um dos cineastas mais celebrados do cinema atual.


Logo em sua estreia, com "Corra!" (2017), o cineasta levou a estatueta de Melhor Roteiro Original do Oscar de 2018. Sua terceira produção cinematográfica, "Não, Não Olhe", chega hoje aos cinemas brasileiros e entrega o melhor filme de terror do ano.

No novo título, acompanhamos os irmãos Haywoods, interpretados por Daniel Kaluuya e Keke Palmer, tentando manter vivo o rancho da família, em Agua Dulce - perto de Hollywood - depois da morte do pai sob circunstâncias misteriosas.

Eles criam e treinam cavalos que aparecem em filmes, mas passam por dificuldades após a tragédia. No entanto, uma figura enigmática começa a aparecer no céu, e os dois enxergam uma possibilidade de mudar de vida.

"Não, Não Olhe", assim como os outros longas de Jordan Peele, é daqueles de alugar um duplex na cabeça do espectador. São grandes as chances de você se pegar pensando por dias e dias sobre a história apresentada no roteiro. Isso se deve não apenas à narrativa principal, mas também pela perturbadora fatalidade que é apresentada em paralelo.

Ao longo do título, acompanhamos algumas sequências que mostram a gravação de um seriado típico americano, no qual humanos interagem com um chimpanzé, considerado da família. Durante uma filmagem, o primata surta e ataca mortalmente os presentes. Entre os corpos, um sapato flutuando chama a atenção. A cena é assustadora.

A chacina é mostrada pelos olhos de Ricky "Jupe" Park (Steven Yeun), o dono de uma rancho perto do dos Haywoods que, quando criança, presenciou o massacre. A ligação entre a história principal e o assassinato dos humanos existe basicamente por este personagem. É claro que é possível desenvolver mil teorias a partir do que é mostrado e suas conexões. Porém, se Jordan Peele não explicar, serão dias e dias lembrando do chimpanzé enquanto lavo a louça: "meu Deus, o que foi que aconteceu?".

"Não, Não Olhe" é um filme de terror que mistura características de produções da década de 1970 e explora de uma maneira mais simples um dos gêneros que foi bastante esquecido pelo cinema de horror recentemente: o de alienígenas.

Mas se trata da mente brilhante de Jordan Peele, então toda a construção da narrativa, personagens e tensão é feita com muito esmero e qualidade.

A produção se destaca na fotografia, no roteiro, na atuação, nos efeitos e nas escolhas da direção. Em um ano com títulos como o fraco "Telefone Preto", o insuportável "A Médium" e o já esquecido "Pânico", é possível dizer que "Não, Não Olhe" é sim o filme de terror de 2022.

No entanto, é impossível pensar nas obras de Jordan Peele sem fazer uma ligação com racismo, um assunto abordado em peso em "Corra!" e que existe nas entrelinhas de "Nós". Já o novo filme pode decepcionar o espectador que espera novamente a militância do diretor.

É claro que ter uma produção de terror estrelada por pessoas negras e a cor da pele não ser o motivo de serem protagonistas, é revolucionário. Pense nos filmes do gênero em que personagens principais são negros e racismo não é o mote principal. Pois é, difícil.

"Não, Não Olhe" marca também a segunda parceria entre Daniel Kaluuya e Jordan Peele. Mais uma vez, o ator protagoniza o filme do diretor e prova que é um dos principais nomes do cinema atual. Junto a ele, a atuação apaixonante de Keke Palmer, que além de ter uma ótima química com Kaluuya, é o alívio cômico certeiro do longa.

Assistir novamente a uma produção de Peele na telona é uma experiência bastante prazerosa aos fãs de terror. Com a mistura na medida de mistério, terror, suspense, comédia e aventura, "Não, Não Olhe" foi feito para os apreciadores do gênero, que, diferente do título do longa, vão querer olhar mais e mais.