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Leo Dias

Carnavalesco da Vila compartilha crítica à Mangueira por enredo sobre Jesus

Com cora de espinhos e chagas nos pés e mãos, a rainha da bateria da Mangueira não sambou durante todo o desfile - Júlio César Guimarães/UOL
Com cora de espinhos e chagas nos pés e mãos, a rainha da bateria da Mangueira não sambou durante todo o desfile Imagem: Júlio César Guimarães/UOL

27/02/2020 16h11

Edson Pereira, que assinou pelo segundo ano o desfile da Unidos de Vila Isabel, compartilhou nesta quinta-feira (27) em seu Facebook publicação de um internauta que critica indiretamente o enredo da Mangueira sobre Jesus Cristo. Após a repercussão da publicação, Pereira escreveu uma carta aberta dizendo que foi surpreendido com mensagens que não foram escritas por ele em suas redes sociais, afirmou que respeita o Carnaval como manifestação da cultura popular e informou que irá buscar medidas "junto aos órgãos competentes".

O texto que o artista republicou diz: "Ainda sobre as escolas de samba. Fantasia de índio não pode, fantasia de nega maluca não pode, mas ridicularizar Jesus Cristo pode. Hipócritas!". Não há menção clara ao desfile da Verde e rosa, elaborado pelo carnavalesco Leandro Vieira, mas os seguidores de Edson entenderam a que ele estava se referindo.

"Quanta indelicadeza sua falando do enredo de um colega de profissão. Não cai bem, né?", comentou uma usuária da rede.

Três horas após a crítica por tabela, Edson apareceu para se explicar e disse que seu telefone teria sido clonado, sem dar mais detalhes. Ele ainda não apagou a publicação sobre o Carnaval.

Intencional ou não, a crítica à Mangueira expõe diferenças de pensamentos que vêm se tornando cada vez mais nítidas nos últimos anos. Com a ascensão de artistas como Leandro Vieira, Jack Vasconcellos (Mocidade), Jorge Silveira (São Clemente), João Vitor Araújo (Tuiuti) e Gabriel Haddad e Leonardo Bora (Grande Rio), enredos críticos e politizados têm chamado a atenção do público, da mídia e até da classe política. Isso incomoda uma ala mais "conservadora" da festa, que acredita que a Passarela do Samba não deveria servir como palco para o que chamam de desfiles com "viés ideológico". Edson Pereira integra este grupo e, não à toa, elabora projetos que não incluem "recados à sociedade", como tem ocorrido nos demais. Em 2019, seu enredo sobre Petrópolis passou pela escravidão, mas manteve a Princesa Isabel como grande personagem da abolição (o movimento negro contesta essa narrativa atualmente). Este ano, ao falar de Brasília, a Vila não fez qualquer menção às questões políticas do local.

No resultado, a Estação Primeira desbancou a coirmã azul e branco. O Jesus de Leandro ficou em sexto lugar, e volta a desfilar no Sábado das Campeãs, enquanto a capital federal de Edson conquistou um sofrido oitavo lugar, contestado pela direção da escola.

Após a grande repercussão no mundo do samba, Pereira divulgou uma carta aberta. No texto, entre outras coisas, ele diz: "Respeito todas as escolas de samba, todas as manifestações artísticas que passaram na Sapucaí neste e em todos os anos, todas as classes sociais e, como um artista negro, me senti profundamente ofendido e triste quando vi que minhas redes foram invadidas e menagens ofensivas, lá postadas".

Carnavalesco da Vila compartilha crítica à Mangueira - Reprodução/Facebook - Reprodução/Facebook
Carnavalesco da Vila compartilha crítica à Mangueira
Imagem: Reprodução/Facebook

Carnavalesco da Vila escreve carta aberta com pedido de desculpas - Reprodução - Reprodução
Carnavalesco da Vila escreve carta aberta com pedido de desculpas
Imagem: Reprodução

Leo Dias