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Leo Dias

Rio quer repensar o Carnaval e fazer mudanças radicais na forma de julgar

Desfile da Beija-Flor na Sapucaí - Fernando Grilli / Divulgação/Riotur
Desfile da Beija-Flor na Sapucaí Imagem: Fernando Grilli / Divulgação/Riotur

28/02/2020 07h17

Pronto, acabou. Finalmente acabou um dos mais difíceis Carnavais da história do Rio de Janeiro. Faltou, principalmente, dinheiro para fazer a festa. A Prefeitura do Rio não deu um centavo sequer e o Estado prometeu, a uma semana da folia, uma ajuda de cerca de 2 milhões para cada agremiação. Mas não há previsão de quando essa grana chegará. Isso sem falar na iniciativa privada, que desapareceu em ano de crise econômica.

Prova maior de que a falta de recursos atingiu em cheio as escolas cariocas é o resultado final: das seis primeiras colocadas, apenas três são da cidade do Rio, Mangueira, Mocidade e Salgueiro. Viradouro, a campeã, recebe incentivos da Prefeitura de Niterói.

Antes das escolas começarem a produzir o Carnaval 2020, elas sentaram com a direção da TV Globo que pediu uma renovação no espetáculo, com novos temas e abordagens mais culturais e menos comerciais, os famosos enredos patrocinados. De fato, viu-se mais cultura. Na reunião, foi anunciada ainda que em 2021 o desfile será mais curto em cinco minutos e passará a ter 60 minutos de duração. Por isso, já se discute a mudança das obrigatoriedades

A expectativa de enredos revolucionários e surpreendentes, simplesmente não veio. As escolas não inovaram nas histórias e o que se viu foi mais do mesmo. A Portela pisou feio na bola ao falar do assunto mais batido da história do Carnaval: o índio. O fato é que ainda faltam grandes ideias, grandes apostas.

O curioso, quando o assunto é enredo, é que havia uma divisão clara entre os enredos culturais e os patrocinados. Os primeiros sempre carregaram um forte tom político e social, como foi o caso da Mangueira, e até mesmo a Mocidade, que finalmente resolveu homenagear Elza Soares, nascida na Vila Vintém, comunidade da escola. A agremiação decidiu carregar na tinta política para contar o calvário vivido pela cantora, a primeira a falar abertamente sobre violência doméstica no país. E falar de política num país dividido como o nosso, é dar um tiro no pé.

Mas o grande acerto do Carnaval 2020 foram os sambas-enredo, que acertaram em cheio no gosto do público. Mocidade e Mangueira eram os mais populares. Na hora H da Avenida, o canto da Grande Rio e da Viradouro também explodiram.

Os especialistas em Carnaval apontam a belíssima safra de sambas como a principal razão para a super lotação do Sambódromo em relação aos anos anteriores. Desta vez, a venda de ingressos deu lucro. E muito.

Mas a grande expectativa para o ano que vem é que hajam diversas mudanças na maneira de se julgar o Carnaval. A maior prioridade é que a cada dia de desfile, os jurados entreguem as notas dadas às escolas. Hoje em dia, eles levam as notas para casa e podem alterá-las até a terça -feira de manhã.

Outras mudanças no júri do Carnaval que já foram sugeridas mas que ainda são consideradas embrionárias dentro da Liesa são o fim da justificativa das notas, considerado algo obsoleto para os dias de hoje. A ideia é que as notas sejam fracionadas e com essa "decupagem" através de números, seja afirmar com precisão onde foi perdida a pontuação.

Última e mais surpreendente sugestão que surgiu na Liesa é que, em algum ano, haja um troca de jurados entre o Carnaval do Rio e o de São Paulo. Detalhe: os julgadores só seriam comunicados da "transferência" no dia do desfile.

Leo Dias