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Fundador do Cacique de Ramos diz que passou mal após críticas de racismo

Componentes do Bloco Cacique de Ramos - Luciola Villela/ UOL
Componentes do Bloco Cacique de Ramos Imagem: Luciola Villela/ UOL

Thaís Sant'Anna

Colaboração para o UOL, em São Paulo

18/02/2020 14h55

Depois de Alessandra Negrini ser criticada por desfilar vestida de índia no bloco de rua Acadêmicos do Baixo Augusta, em São Paulo, foi a vez do tradicional bloco carioca Cacique de Ramos ser alvo de críticas nas redes sociais.

Criado em 1961, o bloco tem seus integrantes fantasiados de índio, fato que gerou questionamentos de pessoas no Twitter, dizendo que se trata de apropriação cultural.

Ubirajara Félix do Nascimento, conhecido como Bira Presidente, fundador do Cacique de Ramos, conta que passou mal no último domingo, na Marquês de Sapucaí, onde o bloco fez parte do ritual de lavagem da Avenida. Ele conta que teve de ser atendido em um posto de saúde ao ouvir os comentários criticando o bloco.

"Como vai criticar e desmerecer quem leva alegrias e descontração? Somos humildes, mas temos cabeça erguida. Isso faz até sair lágrima dos meus olhos. Não sou marginal, sou homem íntegro. Isso me deixou até doente", declarou, emocionado, ao UOL.

"Bloco é homenagem ao índio"

Integrante do grupo Fundo de Quintal, Bira afirma que todos os seus irmãos têm nomes indígenas e que o objetivo do bloco é fazer uma homenagem.

"Isso nunca aconteceu. É coisa de alguém que não gosta de Carnaval, não gosta de ver as pessoas felizes. Deve ter frustação na vida. O Cacique é um bloco que só sai família, considerado o mais importante do Rio, que não tem droga, nem confusão. Não sei o que está acontecendo. Nunca tive processo na vida, sempre fui querido demais. Quem são essas pessoas que estão fazendo isso?", desabafou.

"O índio brasileiro merece esse respeito. Se ninguém nunca o exaltou no Carnaval, eu estou exaltando. É homenagear. Índios também têm família. Índios são o início de tudo que aconteceu na história do Brasil."

O músico fez ainda questão de convidar quem não conhece o bloco para ir aos desfiles, que acontecem dia 23, 24 e 25 de fevereiro, na Avenida República do Chile, no Centro do Rio.

"É um bloco de pessoas humildes que não têm possibilidade de sair em uma escola de samba, de ir ao Teatro Municipal. Quem for conhecer, vai se tornar integrante, porque vai se apaixonar", afirmou.

Bira ainda comentou sobre o fato de Alessandra Negrini também ter sido criticado por se vestir de índia no bloco Acadêmicos do Baixo Augusto. A APIB (Articulação dos Povos Indígenas do Brasil) divulgou uma nota defendendo a atriz. "Parabéns para ela por elevar o índio brasileiro, que merece nosso respeito", elogiou Bira.

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