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Quem é a drag Bianca Dellafancy, a primeira DJ "bicha abusada" do CarnaUOL

Bianca Dellafancy DJ Drag CarnaUOL  - Iwi Onodera/UOL
Bianca Dellafancy DJ Drag CarnaUOL
Imagem: Iwi Onodera/UOL

Leonardo Rodrigues

Do UOL, em São Paulo

10/02/2020 12h10

Ela se define como uma "bicha abusada", que começou a se montar a cerca de seis anos e que lutou para se estabelecer em uma cena machista e heteronormativa. Estamos falando de Bianca Dellafancy, 30, primeira drag queen a se apresentar no palco principal do festival CarnaUOL, depois da dupla Simone e Simaria, em evento realizado no sábado.

A DJ é o que se pode chamar de multiartista: modelo, fotógrafa, designer, hostess e youtuber. Ela tem um canal em que fala de maquiagem, dia a dia e conversa com seguidores, fala sobre aceitação e preconceito e que, assim como ela fez, inspirada em Ru Paul, também buscam uma virada na vida.

Cinco perguntas para Bianca Dellafancy

UOL - Como virou DJ?

Bianca Dellafancy - Hoje no Brasil as drags começam no meio artístico como DJ em boate. Ou fazendo hostess, fazendo porta, ou performance. Eu sou de uma leva de drag queens pós-performance, como a Márcia Pantera e outras mais antigas. Tenho um grande amigo meu que tinha uma festa em São Paulo e me deu a oportunidade de tocar. Foi assim que comecei. Fiquei muito feliz porque ali eu estava em um lugar destaque, onde a star queen merece estar. Também pude assim entrar mais em contato com meu público da internet.

Como virou youtuber?

Eu morava em Santos e tinha um trabalho que não gostava. Era publicitário. Fiquei sete anos em uma mesma agência. E resolvi então voltar pra São Paulo. Mas na época as drags DJs não eram muito valorizadas. Eu decidi que precisava de um projeto pessoal maior. Criei meu canal no YouTube e tive muito medo no início, porque eu era uma figura estática no Instagram. Achava que as pessoas iam me ver só como uma DJ drag, mas comecei a encontrar uma forma de me aproximar do meu público mais do que se fosse só DJ.

Como é o preconceito no mundo dos DJs, tão masculino?

Estou vivendo em mundo diferente. Por que, quando comecei tocando em festas, era só festas LGBT. Quando todo num lugar fora dessas festas, sempre rola uma preocupação: será que vou sair bem daqui, por ocupar esse lugar, como saía das festas? Se estou aqui hoje pelo meu trabalho, não foi por acaso. Mas esse é risco que todos os LGBTs correm saindo casa. Estando aqui eu posso perder o medo e dar a cara à tapa, sabe? Que sou um homossexual, afeminado e estou onde estou. Isso alimenta o meu trabalho.

Bianca Dellafancy DJ Drag CarnaUOL - Iwi Onodera/UOL - Iwi Onodera/UOL
Imagem: Iwi Onodera/UOL

Qual é a importância do sucesso de Pabllo Vittar para outras drags?

Ela é muito importante. As coisas que ela fala. O corpo presente dela, ativo, acho que ajuda a mudar a cabeça de muita gente. Minha mãe sempre me acompanhou como drag, mas ela pôde ver na Pabllo que isso é de fato um trabalho, que isso dá dinheiro, que é uma pessoa que não está se lançando no caminho do mal, do errado, sabe? Acho que ela ainda vai crescer muito mais. Porque ela ajuda a quebrar o medo, o preconceito. A pessoa a vê ocupando esse lugar e vida dela continua.

Como era o preconceito na sua casa?

Com meu pai foi difícil no início. Meu pai é um homem negro, que aprendeu o que era ser homem. E eu sou o oposto de tudo que ele havia aprendido. Então ele teve que ressignificar o que era isso, vivendo num país racista. Foi difícil. Passei por situações chatas com ele. Mas quando elw me viu creacendo, trabalhando, a relação ficou melhor. O medo dos pais, que não conhecem o mundo das drags, é que você entre no mundo da prostituição. Quando eles percebem que felizmente não é isso, eles baixam a guarda e te aceitam mais.

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