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O dia em que eu, roqueiro, me despi do preconceito e curti o CarnaUOL

Público curte o CarnaUOL, no Jockey Club, em São Paulo - Alexandre Schneider/UOL
Público curte o CarnaUOL, no Jockey Club, em São Paulo Imagem: Alexandre Schneider/UOL

Leonardo Rodrigues

Do UOL, em São Paulo

09/02/2020 04h00

Carnaval é sinônimo de folia, de dança, de serpentina, de amor, pegação e simpatia, mas não é exatamente a festa favorita de quem tem o rock e as guitarras no lado esquerdo do peito, como este que vos escreve, repórter que há sete anos cobre shows do gênero e grandes festivais como Rock in Rio e Lollapalooza.

Então, se essa também é a sua onda, o CarnaUOL, que aconteceu no sábado, 8, no Jockey Club de São Paulo, não passa de uma grande e irreversível roubada? Não. Com boa vontade e especialmente se você estiver em grupo, dá para se divertir e muito bem, seja com familiaridades com o seu, digamos, habitat natural, ou com coisas que você talvez nunca tenha visto na vida. Como diria o ET Bilú, o importante é buscar conhecimento.

Shows com bons instrumentistas

Você já torrou o saco de tanto ouvir funk, sertanejo e pop em qualquer lugar que vá? Eu também. Acha Luísa Sonza, Claudia Leitte e Simone e Simaria supervalorizadas? OK. Você não está sozinho. Mas todo esse ranço pode te fazer fechar os olhos para ótimos instrumentistas. Dois exemplos: o excelente guitarrista da Banda Eva, Jorginho Sancof, discípulo de Pepeu Gomes e Robertinho do Recife, e o funkeiro MC Zaac, que trouxe um bom suingue instrumental com guitarra e baixo no palco. Agora, citando Frank Zappa, a mente é como um paraquedas: só funciona quando está aberta.

Clima dançante

O clima do CarnaUOL não difere muito do de outros eventos com artistas famosos. E sabe aquela ideia de que este público festeiro só se liga mesmo é na pegacão e na vontade de brigar por qualquer motivo? Esse clichê é idoso. A música é, sim, a protagonista, como em qualquer apresentação roqueira. O público canta junto e participa dos shows. A principal diferença é que o "pula-pula" do rock é substituído na maioria das vezes pela dança. Dá para perder boas calorias. Não é a sua? Tudo bem. Mas ainda é bom de assistir.

Estrutura de rock

Outra ideia velha: o que vale é só a música em um show, que tem de ser "roots", com infraestrutura mínima: só assim para lavar a alma —com ou sem chuva. Nos festivais roqueiros, essa ideia já morreu. E no Carnaval nem se fala. Público quer ser bem tratado, ter muitos banheiros à disposição, bons lanches, preço justo —pelo menos no ingresso—, espaço para descanso e atrações em palcos paralelos quando a paciência acabar nos intervalos de música. Basicamente o CarnaUOL tem tudo isso.

Topzêras e LGBTQ+ em harmonia

Andar pelo festival é a certeza de encontrar no mínimo dois perfis de público, bem diferentes da maior parte do de shows de rock —pelo menos dos de bandas mais rodadas.

  1. Jovens de 20 a 30 e poucos anos felizes como pinto no lixo, que gritam "u-hú" e fazem sinal de "hangloose" na primeira oportunidade de foto, muito bombadões e meninas com tiaras.
  2. LGBTQ+, coloridos e dançantes, nem sempre tão jovens, mas fãs de DJs e do pop de Iza e Luísa Sonza. O mais importante: toda essa diversidade convive em harmonia.

Fantasias

Esta é a principal diferença do CarnaUOL em relação a festivais como o Rock in Rio, que até atraem cosplays de músicos, mas não na quantidade e irreverência vista no Jockey. Os shows são pop, mas o espírito é 100% Carnaval. Há quem vá de molho de soja, de sushi, go-go boy, de monstro verde, de bicheiro, de fantasma, de marinheiro, de Mulher Maravilha. Só políticos não foram vistos. Se nada disso funciona para você, roqueiro de coração, ao menos é grande a chance de dar boas risadas.

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