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Anderson Baltar

Ao contar a história do pão, Tijuca trará mensagem de solidariedade

Integrantes da Unidos da Tijuca na dispersão da Sapucaí, após o desfile no 1º dia do Grupo Especial - Lucas Landau/UOL
Integrantes da Unidos da Tijuca na dispersão da Sapucaí, após o desfile no 1º dia do Grupo Especial Imagem: Lucas Landau/UOL

12/07/2018 21h35

Última escola do Grupo Especial do Rio de Janeiro a divulgar o seu enredo, a Unidos da Tijuca lançou, com evento em sua quadra nesta quarta-feira (11), o tema para o seu desfile no Carnaval 2019. “Cada macaco no seu galho. Ó, meu Pai, me dê o pão que eu não morro de fome”, desenvolvido pela comissão de carnaval formada por Laíla, Fran Sérgio, Annik Salmon, Hélcio Paim e Marcus Paulo, contará a história do alimento mais popular do planeta com uma mensagem forte de solidariedade.

De acordo com Fran Sérgio, o enredo não será simplesmente descritivo e cronológico. O objetivo é propiciar uma reflexão sobre o momento atual da humanidade. “A Tijuca vai falar do pão material .o principal alimento da humanidade e que sustenta o corpo.  Mas também traremos o pão da vida e a fé em Deus que alimenta a alma. Não poderia faltar o pão social - a fraternidade que temos que promover uns com os outros em um momento em que nossos governantes não estão cuidando de nós “, explica o carnavalesco.

A sinopse do enredo foi entregue aos compositores nesta quinta. O coordenador geral da Comissão de Carnaval da escola, Laíla, afirmou que pretende mudar o patamar dos sambas-enredos da escola – a Unidos da Tijuca, a despeito dos bons resultados dos últimos carnavais, invariavelmente perde pontos nesse quesito. Em discurso direcionado aos compositores, nesta quarta-feira, ele deu dicas do que pretenderá do samba da azul e amarela para o Carnaval 2019: “Quero um samba cadenciado e com métrica bem definida. Estamos em busca de retomar uma trajetória de grandes sambas e conto com o talento e a criatividade de vocês. A sinopse é o fio condutor, mas vocês estão livres para fazer seus sambas da forma que acharem melhor”.

Sétima colocada no último Carnaval, a Unidos da Tijuca deverá dar início a disputa de sambas em meados de agosto – as inscrições dos sambas serão realizadas no dia 16 do mesmo mês.

Confira a sinopse da Unidos da Tijuca:

Cada macaco no seu galho. Ó, meu Pai, me dê o pão que eu não morro de fome!

Através dos “olhos” do pavão, animal que traz a visão de  Deus  pela  alma  e  elimina  o  mal  com  suas  garras,  a Unidos da Tijuca vai passar uma mensagem de esperança em dias melhores por meio da história e simbologia do pão. Assim como no pavilhão tijucano, o pavão guiará a escola a revelar a trajetória do alimento mais popular do planeta.

Em tempos de ódio gratuito, intolerância para todos os lados, e do politicamente correto, o enredo se utiliza de um ditado  popular  para  sinalizar  que,  se  cada  um  fizer  a  sua parte,  o  mundo  há  de  ser  mais  justo.  A  agremiação  frisa aqui que a expressão “cada macaco no seu galho” utilizada no  tema  nem  de  longe  lembra  o  significado  primitivo  do termo, que era usado para discriminar a população negra. Dentro do contexto do desfile da Tijuca, o ditado assume o sentido  irreverente  característico  dos  cariocas.  Ou  seja,  é “cada  um  no  seu  quadrado”  em  busca  de  uma  sociedade melhor.

Essência  de  todas  as  escolas  de  samba,  os  negros foram   (e   são)   o   pilar   desta   festa.   Portanto,   seria contraditório denegrir quem fez e faz pelo maior espetáculo da Terra.

O título do enredo ainda traz uma frase de clamor pelo pão  que  alimenta,  seja  o  corpo  ou  a  alma.  Desde    a  sua descoberta,  ele  vem  curando  as  necessidades  de  muitos, fortalecendo  a  construção  de  sociedades.  O  pão  é  o  fio condutor que nos levará até os dias atuais.

Afinal,  de  acordo  com  o  historiador  alemão  Heinrich Eduard Jacob, “nenhum outro produto, antes ou depois da sua   descoberta,   dominou   o   mundo   antigo,   material   e espiritualmente, como o pão foi capaz de fazer”.

Desenvolvimento

Através dos “olhos do Criador”, revejo o surgimento do alimento   mais   importante   e   sagrado   do   mundo.   Na Mesopotâmia,  um  dos  berços  da  civilização,  o  homem primitivo  percebe  que  a  simples  exposição  ao  sol  de  um punhado  de  cereal,  batizado  como  trigo,  faz  nascer  uma massa intrigante. A “descoberta” dali para frente alimentaria a humanidade.

Foram os egípcios que, com inteligência e sagacidade, iniciaram o processo de fermentação dessa massa, dando origem ao Pão. Ele rapidamente ganhou traços simbólicos, seja como moeda de troca ou instrumento político.

Do pão, foi  mantido um Império. Reis e rainhas caíram. Revoltas e revoluções surgiram.

O  povo  explorado,  muitas  vezes  escravizado,  sempre trabalhou pelo alimento de cada dia. O humilde proletário, que madruga atrás de condução, também está em busca de uma vida melhor. E é na fé que esse homem se sustenta. Fé encontrada no filho de Deus, que se fez carne entre os pecadores.  O  Cordeiro  de  Deus  deixou-nos  o  exemplo  da multiplicação e partilha do amor com os irmãos.

Assim   como   Jesus   Cristo,   outras   santidades   dão verdadeiras  lições  de  que,  se  cada  um  fizer  a  sua  parte, mesmo   que   pequena,   fabricaremos,   amassaremos   a mistura, que ao crescer, salvará nosso mundo da fome de alimento, e de sentimentos.

Até  porque  vivemos  em  uma  realidade  tão  cruel,  em que muitos ainda não têm acesso ao básico para viver. Os abusos  de  poder  massacram  os  desfavorecidos.  Estamos no  forno,  assando,  sofrendo,  queimando  no  descaso  de quem deveria olhar pela prosperidade de todos.

Ah se todos fizessem a sua parte...

Se  os  ardilosos  com  seu  egoísmo  e  ambição  fossem extintos...

O ditado popular "Cada macaco no seu galho" nunca foi tão essencial como agora. Não no seu significado primitivo, que  era  usado  para  discriminar  a  população  negra  -  povo que é a essência das nossas escolas de samba. Se cada um dentro do seu ofício fizer o melhor, teremos o nosso pão e não morreremos de fome.

É  preciso  colocarmos  no  coração  verdadeiramente  a mensagem do Pão da Vida para podermos viver nas glórias de um Paraíso Real.

Enquanto  não  desfrutamos  desta  abundância,  sei  que tudo poderá me faltar: água, pão... Mas nada tirará o meu ânimo  de  viver.  Nada!  Porque  sei  que  nunca  me  faltará  o teu  amor,  Pai. Amor  que  gerará  filhos,  nascidos  sem  dor. Filhos   que   crescerão   como   homens   de   bem,   direitos. Direitos que serão ensinados para vivermos em um mundo melhor.

Ouço o teu clamor, por isso, cubro-te de amor e fé pois este é o verdadeiro alimento da sua alma.

Unidos pela arte e cultura popular

Coordenação geral: Laíla

Diretor de carnaval: Fernando Costa

Carnavalescos:  Annik  Salmon,  Fran  Sérgio,  Hélcio

Paim e Marcus Paulo

Desenvolvimento:  Annik   Salmon,   Fernando   Costa, Fran Sérgio, Hélcio Paim, Igor Ricardo, Laíla, Marcus Paulo

Pesquisa e texto: Igor Ricardo 

Anderson Baltar