Apostando na devoção de seus torcedores, Salgueiro lança enredo sobre Xangô
Com evento restrito aos seus compositores e membros da comunidade, os Acadêmicos do Salgueiro lançaram o enredo “Xangô” para o Carnaval 2019. Assinado pelo carnavalesco Alex de Souza, o tema da vermelho e branco da Tijuca é a realização de um desejo antigo dos torcedores da escola, que têm a divindade como o seu orixá de proteção. Em um evento marcado pela presença das baianas da escola, que prepararam comidas e doces em homenagem a Xangô, foi apresentada a sinopse a partir de onde será composto o samba. A disputa na quadra começará em 11 de agosto e a final do samba será em 11 de outubro.
O desfile salgueirense será dividido em cinco momentos diferentes. O primeiro setor apresenta a figura histórica de Xangô, rei de Oyó (região atualmente pertencente à Nigéria). No segundo setor, a transformação do mito do monarca em um divindade poderosa na religiosidade africana. O terceiro momento do desfile mostra o sincretismo religioso no Brasil e a ligação de Xangô com os rituais de candomblé no Nordeste. O quarto quadro traz a influência do orixá no Salgueiro e homenageia o destaque Júlio Machado, que entrou para a história do Salgueiro ao encarnar Xangô nos desfiles da escola. Como Xangô é conhecido como o orixá da Justiça, o desfile se encerra com um pedido de um Brasil mais justo.
Alex de Souza pediu aos compositores um samba com emoção, para impulsionar o Salgueiro a um grande desfile: “Não queremos samba com muitos detalhes históricos. Queremos um samba forte e inspirador, para que possamos conquistar o Carnaval”, pediu o artista, que também afirmou que o Salgueiro busca uma parceria com a Nigéria para patrocinar o enredo. “Todos os anos, na região de Oyó, acontece um festival mundial de devoção a Xangô. Estamos em contato com os organizadores para tentarmos uma parceria”, informou o carnavalesco.
Confira a sinopse do Salgueiro:
XANGÔ
Abram alas ao Homem que nasce do poder e morre em nome do poder. Apodera-se do trono de seu irmão para se tornar o verdadeiro líder de uma nação.
Sàngó, Rei absoluto, forte, imbatível, Aláàfìn Òyó, o Homem do Palácio; o grande Obá, o grande Rei.
Batam cabeça pro orixá dos raios, trovões e do fogo. “Senhor do Raio” ou “Senhor das Almas”. Viril e atrevido, violento e justiceiro; implacável com os mentirosos, os ladrões e os malfeitores. Xangô é a representação máxima do poder de Olorum. O desafio é feito sempre para confirmar seu poder. O seu machado duplo, seu Oxé, é o símbolo da imparcialidade. É uma divindade da vida, representado pelo fogo ardente e por essa razão não tem afinidade com a morte e nem com os outros orixás que se ligam à morte.
Sàngó, Ioruba Orisà; Nzazi / Loango, Bantu Nkisi; Xangô, Ketu Orixá; Heviossô, Jeje Vodum; Chango / Jebioso, Santeria Cubana; Ogoun Shango , Vodou Haiti.
É a realeza nas vestes e a sua riqueza, a sua forma de gerir o poder. Usa o vermelho da nobreza e - se grandes reis pisavam sobre o tapete vermelho - Xangô pisa sobre o fogo.
Três esposas: Oya, que divide o domínio sobre o fogo. Oxum, a mais amada. E Oba, que por amor ao seu rei, foi capaz do seu próprio corpo mutilar.
Chega ao Brasil por seus devotados filhos. É cultuado como religião. No Nordeste, influenciado por Daomé, é denominado também de Xangô, em virtude da popularidade e importância da entidade nessa região. A raiz é do Sitio de Pai Adão. É o Xangô de Pernambuco, Xangô do Recife, Xangô do Nordeste e Nagô Egbá.
Sincretizado: das Pedreiras à São Jerônimo, que amansa o leão e que tem o poder da escrita e escreve na pedra suas leis e seus julgamentos. Na cachoeira, com São João Batista, por causa do batismo de Jesus, de lavar a cabeça na água doce para se purificar. Com o poder do fogo, queima, destruindo tudo o que é de ruim e ocorre a transmutação, trazendo tudo o que é de bom, todo o bem possível, de acordo com o nosso merecimento. Isso é o que pedimos nas fogueiras do mês de junho.
São Judas Tadeu, por ter um livro na mão ligado a trabalhos e pedidos de estudos. São Miguel Arcanjo é guerreiro, não das guerras sem propósito, mas, da guerra de cada um contra seu próprio “demônio”. Miguel desce dos céus com o vermelho em suas roupas, em sua árdua batalha contra o mal, quase sempre apontando de cima para baixo seu golpe. A autoridade máxima de São Pedro, a pedra. O primeiro papa, que tem as chaves da igreja e do céu.
Hoje os meus olhos estão brilhando, minha querida Bahia, terra abençoada pelos deuses. Felicidade também mora no Salgueiro. Naquela manhã de 1969, o saudoso professor, na escola tijucana, se incorporou pela primeira vez, ao se trajar como o orixá. E daí à eternidade, consagrado como o Xangô do Salgueiro.
Senhor do que é justo e correto, como o respeito à igualdade de todos. Se a justiça dos homens tem olhos vendados, onde "todos seriam iguais perante a lei". Os de Xangô estão sempre bem abertos. Apelamos ao supremo tribunal, com seus doze Obás- Ministros de Xangô do Axé Opó Afonjá. Todos serão julgados sem privilégios! Presidido pelo Grande Juiz, que bate o martelo e dá seu veredicto: Chega de impunidade! Seus filhos pedem justiça. Cumpra-se!
Xangô é nosso pai é nosso Rei ! Kawó Kabiesilé !!!
Alex de Souza
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