Dá pra voltar? Na Europa, elite ignora 'perfil Neymar' e aposta em jovens
A volta de Neymar ao Santos é vista por parte do entorno do jogador como uma etapa de transição. A ideia seria recuperar a forma física e a felicidade no clube da Vila Belmiro, para depois voltar ao futebol europeu, onde ele jogou entre 2013 e 2023 por Barcelona e PSG.
Só que, entre o sonho e a realidade, existem os fatos: há pelo menos uma década, os principais clubes europeus têm evitado contratar jogadores acima de 30 anos. A situação piora para quem tem um amplo histórico de lesões, o que é o caso do camisa 10 brasileiro, que completará o 33º aniversário no dia 5 de fevereiro.
No Barcelona, o "sonho impossível" de Neymar, o projeto de futuro tem nome e sobrenome: Lamine Yamal. O ponta já é destaque do clube e campeão europeu pela seleção. A boa temporada de Raphinha é vista como uma grata surpresa, Robert Lewandowski ajuda com gols e experiência, mas a aposta da próxima década é no jovem de 17 anos.
Sem a mesma capacidade de revelar seus ídolos em casa, o Real Madrid renovou o elenco à base da observação atenta de jovens ao redor do mundo — foi assim com Vini Jr., Rodrygo, Camavinga, Endrick, Valverde. Depois, foi comprar o jogador que o presidente Florentino Pérez vê como a base do projeto, seu novo Cristiano Ronaldo: Kylian Mbappé.
O Atlético de Madrid, terceira força na Espanha, já tem seu craque veterano no elenco: Antoine Griezmann, 33 anos, ainda é uma das referências do time. Só que a procura por outro líder técnico já começou: em agosto passado, o clube pagou 80 milhões de euros por Julián Álvarez, 24 anos, campeão do mundo com a Argentina.

Na Inglaterra, o Manchester City empilhou títulos da Premier League sob o comando de Pep Guardiola e a liderança técnica de Kevin de Bruyne. Mas, desde a temporada 2022-23, teve início uma transição. Rodri pode até ser o Bola de Ouro, mas o City já é e será por muitos anos time de Erling Haaland, que já assinou contrato até 2034.
No Liverpool, o cenário é diferente: aos 32 anos, Mohammed Salah ainda é o grande líder do time, que gira em torno dele e lidera a Champions League e o Campeonato Inglês. Mas aqui entra um segundo fator: o egípcio nunca teve uma lesão grave na carreira. Ainda assim, a "era Salah" parece estar chegando ao fim, e o clube deve ir ao mercado procurar um novo protagonista. O brasileiro Rodrygo é um dos favoritos. Ele tem 24 anos.

Na Alemanha, o cenário não muda muito: o Bayern, que hoje celebra os gols de Harry Kane, já tem o caminho aberto para que Jamal Musiala, de 21 anos, seja o próximo protagonista. No Bayer Leverkusen, que renasceu sob o comando de Xabi Alonso, o nome da vez é Florian Wirtz, também de 21 anos.
A lista poderia seguir com o Milan de Rafael Leão, 25 anos, ou a Internazionale de Thuram e Lautaro, ambos com 27, mas não é preciso esticá-la indefinidamente para mostrar que, na elite da Europa, as transferências de jogadores veteranos são raras.

O caso Van Persie
"Quando vi que o United contratava Robin van Persie, percebi que Alex Ferguson estava perto de se aposentar".
A frase é de Arsène Wenger, histórico técnico do Arsenal, sobre o mais lendário treinador do Manchester United. Em 2012, o United pagou 30 milhões de euros pelo atacante, então com 29 anos.
A história ilustra bem como funcionam os clubes europeus. O técnico francês achou estranho que Ferguson fosse atrás de um atacante que já se aproximava dos 30 anos. Ali, ele detectou que o escocês já não planejava pensando em longo prazo — Sir Alex tinha urgência por resultados.
De fato, Ferguson se aposentou ao final daquela temporada, com o United campeão e Van Persie artilheiro da Premier League. Nos anos seguintes, o holandês viu sua carreira entrar em declínio na Inglaterra e, em 2015, ele foi para Fenerbahce, da Turquia, já distante do primeiro escalão europeu.

Rotas possíveis
Diante de um cenário em que os principais clubes europeus parecem destinados a apostar em jogadores num outro momento da carreira, Neymar teria dois caminhos a seguir: o primeiro, seria aceitar uma condição de coadjuvante, algo que não condiz com o restante da trajetória do craque brasileiro.
O segundo, ir para um clube que esteja num momento de urgência ou distante dos grandes centros. Uma alternativa no primeiro escalão seria o Manchester United, que vive em turbulência há anos. O preço a pagar seria não ter a certeza de jogar a Champions League, torneio que Neymar sempre disputou enquanto esteve na Europa.
Nesse mesmo perfil de clube está a Juventus, que apostou em Cristiano Ronaldo em 2018, com idade semelhante à de Neymar. Só que, com Thiago Motta no comando, os tempos são outros: o elenco tem média de idade de 24 anos e quatro meses. O lateral Danilo, de 33 anos, deixou a equipe por não estar nos planos do técnico.
Pensar em Neymar numa equipe média das grandes ligas europeias — Everton, RB Leipzig, Lazio ou Sevilla, por exemplo — esbarraria em questões financeiras e esportivas. O entorno do jogador pensa em um retorno à Europa em grande estilo, não em uma volta que significasse redução salarial e perda de relevância.

Sendo assim, abrem-se as portas de um outro roteiro, distante da Europa, mas de fácil adaptação aos anseios do jogador e de quem o rodeia: a MLS. Na liga norte-americana, Neymar teria a companhia de estrelas veteranas como Lionel Messi, Luis Suárez, Sergio Busquets e Jordi Alba, todos seus ex-companheiros de Barcelona.
Nos EUA, Neymar seria uma estrela para muito além do futebol. Entraria de cabeça no jet set das celebridades norte-americanas. E não custa lembrar: a Copa de 2026 terá os Estados Unidos como sede principal.
Deixe seu comentário
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Leia as Regras de Uso do UOL.