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Rainha da Barroca pede desculpas após usar máscara de tortura de escravos

Renata Spallicci usa máscara de flanders, acessório de tortura de escravos - Reprodução / Instagram
Renata Spallicci usa máscara de flanders, acessório de tortura de escravos Imagem: Reprodução / Instagram

Colaboração para o UOL

Em São Paulo

28/01/2020 09h52

Renata Spallicci, rainha de bateria da Barroca Zona Sul, causou polêmica com a fantasia que escolheu para usar no ensaio técnico no Anhembi, no último sábado. Ela estava com uma a máscara de flanders, acessório de tortura de escravos, utilizado para impedir que eles comessem e bebessem.

Spallicci postou o figurino em seu Instagram e não demorou muito para receber uma enxurrada de críticas. Percebendo a indignação que causou, ela apagou a publicação e fez outra, para pedir desculpas e explicar que sua fantasia tinha o objetivo de contextualizar o samba-enredo da Barroca, "Benguela... a Barroca Clama a Ti, Tereza", sobre a líder quilombola Tereza de Benguela.

"Nosso propósito não foi representar de forma exclusiva a luta de Tereza, mas sim o de denunciar a situação de todas as mulheres que foram e continuam sendo, muitas vezes, subjugadas, silenciadas e reprimidas por uma sociedade machista e patriarcal", escreveu a rainha de bateria.

Spallicci negou a intenção de se colocar no lugar dos negros e que sua fantasia era "subjetiva", o que gerou diversas interpretações.

"Acredito que esse é, de fato, um dos maiores propósitos da arte: provocar reflexão, discussão e crescimento. Assim, a todos que, de alguma forma, tenham se sentido ofendido: peço aqui meu mais sincero perdão! E em respeito à dor e lembrança que a imagem evocou e pode gerar em algumas pessoas, preferi excluí-la do meu feed", completou.

Coletivo repudia fantasia

O Coletivo Samba Quilomba, movimento de conscientização da história e da reconstrução de discurso das mulheres no Carnaval, divulgou uma nota de repúdio para Renata Spallicci e para a Barroca Zona Sul, dizendo ser inaceitável que "uma escola de samba, originariamente criada para lutar por direitos e luta de um povo, não compreenda a complexidade que foi a escravidão".

"Os corpos das mulheres pretas não podem mais ser motivo de chacota e utilização de suas dores devem ser, sim, rechaçados pela sociedade. Buscamos, contudo, o diálogo e reiteramos a premissa da equidade e pedimos que as escolas de samba, componentes e a Liga andem em consonância com os preceitos de uma boa convivência, o respeito", diz o texto, assinado pelas fundadoras do coletivo, Lyllian Bragança, jornalista e musa da Vai-Vai, e Juliana Fênix, escritora e rainha de bateria da Unidos de São Lucas.

Leia a nota na íntegra:

"O Coletivo Samba Quilomba, que é um movimento de conscientização da história e da reconstrução de discurso das mulheres no Carnaval, vem a público repudiar a utilização da faceta das mulheres negras por parte de mulheres brancas na Folia de Momo.

É inaceitável que uma escola de samba, originariamente criada para lutar por direitos e luta de um povo, não compreenda a complexidade que foi a escravidão e que ainda nos inflige dores profundas, arraigadas numa sociedade racista e paternalista, e que não revê privilégios dessa narrativa. Os corpos das mulheres pretas não podem mais ser motivo de chacota e utilização de suas dores devem ser sim rechaçados pela sociedade.

Buscamos, contudo, o diálogo e reiteramos a premissa da equidade e pedimos que as escolas de samba, componentes e a Liga andem em consonância com os preceitos de uma boa convivência, o respeito. Essa é nossa luta, essa é a nossa bandeira.

Lyllian Bragança e Juliana Fênix"

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