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Anderson Baltar

Escolas do Grupo de Acesso carioca sofrem com a falta de barracões

Incêndio atinge o barracão da Porto da Pedra, no Rio de Janeiro - Reprodução/YouTube
Incêndio atinge o barracão da Porto da Pedra, no Rio de Janeiro Imagem: Reprodução/YouTube

08/08/2018 18h25

Sinal amarelo ligado para as escolas de samba da Série A (equivalente ao Grupo de Acesso) do Carnaval Carioca.

A pouco mais de seis meses dos desfiles do Carnaval 2019, oito das 13 agremiações que disputam uma vaga no Grupo Especial na sexta-feira e sábado de Carnaval estão sem barracões para a confecção de suas alegorias e fantasias.

Nos últimos anos, um festival de desapropriações e de incêndios suspeitos têm feito estas agremiações, que possuem um orçamento dez vezes menor do que de uma escola do desfile principal, passarem por momentos de desespero.

Localizados na Zona Portuária, em antigos galpões próximos à moderna Cidade do Samba (que abriga as escolas do Grupo Especial), os barracões destas agremiações sofrem, há muitos anos, com a falta de estrutura física e a insegurança jurídica sobre as permissões de uso.

Encravadas em uma outrora zona degradada da cidade, mas que por conta do Jogos Olímpicos de 2016 tornou-se uma área promissora para o setor imobiliário, as escolas do Grupo de Acesso vivem uma rotina de desapropriações e incêndios.

O último capítulo desta triste novela, que se tornou recorrente no Carnaval carioca, aconteceu há duas semanas, quando um incêndio destruiu completamente o barracão da Unidos do Porto da Pedra, inutilizando os chassis de três carros alegóricos.

A escola, que receberá a ajuda de co-irmãs para repor os prejuízos, já foi previamente informada de que será despejada do local. Em um barracão vizinho, a Alegria da Zona Sul já foi desalojada e hoje tem seus carros em um terreno na Avenida Brasil, na altura do bairro de São Cristóvão, onde seus materiais ficam expostos à chuva e sol. Escolas como Inocentes de Belford Roxo e Acadêmicos de Santa Cruz também já foram notificadas e deverão deixar os seus barracões.

O curioso é que, das oito desapropriações, seis foram pedidas pela Cdurp (Companhia de Desenvolvimento Urbano da Região do Porto), órgão da Prefeitura do Rio de Janeiro.

Em nota divulgada nesta quarta-feira (08), a Lierj (Liga das Escolas de Samba do Rio de Janeiro),informa que  a Riotur (autarquia municipal responsável pelo turismo e pela organização do Carnaval) havia prometido a cessão do terreno da Avenida Brasil onde já se encontram os carros da Alegria para que se montasse uma estrutura provisória para as escolas.

Porém, tal negociação não vingou e agora o órgão promete um outro local na Avenida Presidente Vargas, próximo ao Sambódromo. A entidade cobra uma definição e afirma que a falta de prazo para a solução do problema pode se tornar um entrave à preparação dos desfiles de 2019.

O sonho das escolas da Série A é a construção da Cidade do Samba 2 – o que foi prometido pelo prefeito anterior, Eduardo Paes, mas nunca concretizado. Com uma estrutura semelhante ao complexo usado pelas escolas do Grupo Especial, representaria um salto de qualidade na preparação das escolas do Acesso.

Paes deixou a prefeitura e o atual prefeito, Marcelo Crivella, já deu demonstrações mais do que suficientes de que, no mínimo, ignora a importância das escolas de samba para a economia criativa da cidade.

Além dos mais de R$ 2 bilhões que o Rio de Janeiro recebe durante os 10 dias em que os turistas permanecem na cidade para a folia, os barracões das escolas e toda a cadeia de fornecedores garantem dezenas de milhares de postos de trabalho durante quase o ano inteiro.

Com uma prefeitura que não só ignora o apelo das escolas de samba, mas lhe retira os barracões, os dirigentes pretendem, ao menos neste primeiro momento, um terreno em que seja possível  construir uma estrutura provisória.

A maior preocupação passa a ser o curto período necessário para a solução deste problema. Se as escolas da Série A não tiverem uma resposta rápida a este impasse, a realização do desfile de 2019 começa a ficar seriamente comprometida.

O que pode acelerar o processo é o fato de vivermos um ano eleitoral. Nestes momentos, a despeito de suas crenças e prioridades, governantes costumam ser um pouco mais suscetíveis ao apelo popular. A esperança é de que o momento pré-urnas seja propício para uma solução deste problema.

E, principalmente, que os dirigentes (cuja maioria esmagadora apoiou o atual prefeito nas eleições de 2016) entendam que um pleito legítimo não pode ser trocado por apoios politiqueiros e pontuais.

Anderson Baltar