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Com celular por menos de R$ 900, agora o 5G decola no Brasil?

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Assistimos de camarote ao festival de tarifas trocadas entre Washington e Pequim, mas os efeitos da última guerra comercial protagonizada por Estados Unidos e China são sentidos por diversos países. Como a Casa Branca minou a Huawei, a adoção do 5G foi retardada em vários cantos do globo.

Com alguns descompassos, o Brasil driblou a pressão norte-americana e hoje é um dos países com maior cobertura do sinal. Mas talvez você não tenha provado isso.

Com apenas 16% dos acessos móveis, o 5G é a geração de telefonia móvel com a adoção mais lenta. Não é um mistério pra ninguém entender por que uma tecnologia tão promissora e disputada pelas grandes potências não decolou —explico abaixo, mas adianto: tem a ver com você. Já as ações para ela alçar voo são complexas, estão em curso e essa semana ganharam novo reforço. Vem aí um smartphone 5G abaixo dos R$ 900. Vai funcionar?

O que rolou?

Gustavo Assunção, vice-presidente sênior da Samsung, e Carlos Baigorri, presidente da Anatel
Gustavo Assunção, vice-presidente sênior da Samsung, e Carlos Baigorri, presidente da Anatel Imagem: Bruno Ayres Martínez/Arquivo Pessoal

Não basta o 5G cobrir hoje 1.225 cidades brasileiras, número bem maior do que a meta estipulada para ser batida em 2027. Ainda que 78% da população tenha acesso ao sinal, quem quer usufruir de altas velocidades e baixas latências (tempo de resposta de uma aplicação) precisa de um aparelho compatível. E esse tem sido apontado pelas operadoras como o principal enrosco, já que:

  • Os smartphones 5G custam em média R$ 2.780, mais de três vezes os R$ 901 cobrados por um aparelho 4G, segundo a GfK. Na hora de você, brasileiro, trocar de celular, o que rola a cada três anos, uma conta simples mostra que há mais de um salário mínimo de motivos para continuar com o 4G. As fabricantes sabem disso, tanto é que...
  • ... A Samsung, maior vendedora de celulares do Brasil, lançou na semana passada o aparelho 5G mais barato do país. Ontem...
  • ... O vice-presidente da sul-coreana, Gustavo Assunção, informou negociar com as três principais operadoras (Claro, TIM e Vivo) para o Galaxy A06 5G sair a R$ 899. Ele foi até Brasília para mostrar como a empresa está impulsionando o 5G ao presidente da Anatel, Carlos Baigorri, que ponderou:

Não cabe à Samsung nem às operadoras, mas, quando mais pessoas tiverem celulares 5G na mão, aumenta o potencial de surgir aplicações que demandem necessariamente o 5G. Hoje, Netflix, WhatsApp, TikTok, Instagram e todas essas aplicações ainda são viáveis no 4G
Carlos Baigorri

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Por que é importante?

Tecnologia 5G
Tecnologia 5G Imagem: Admc/Pixabay

Dito de outra forma: que incentivo teria alguém que migrasse para o 5G? Há na Europa serviços exclusivos para a tecnologia do 5G. O "speed boost" dá um grau na transferência de dados para quem não quer ficar na mão na hora de uma exibição ao vivo ou uma partida online.

Bastante útil para consumidores profissionais da rede, como influenciadores e gamers, o recurso usa justamente um dos trunfos do 5G, o "fatiamento". Com ele, é possível dar condições diferentes de uso (velocidade e latência) a fatias de uma mesma rede.

De cara, Baigorri diz que essa possibilidade é lícita e não interfere na neutralidade da rede, princípio de que os pacotes de dados devem ser tratados de forma isonômica. Por que não existe algo assim por aqui? Em outra coluna, contei que o consultor Ari Lopes, da Omdia, atribuiu a ausência de serviços atrativos para o 5G à falta de criatividade das operadoras.

Para Assunção, um serviço que usufrua das altas capacidades do 5G pode surgir assim que muita gente acessar a rede.

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Esse é o tipo de gatilho que acaba ocorrendo quando você tem uma base instalada maior de aparelhos. Ele puxa a inovação (...) O que a gente quer promover aqui é o aumento do número de assinantes 5G, o que vai levar as plataformas de conteúdo a criar serviços dedicados a aplicações 5G. Essa é a nossa expectativa agora
Gustavo Assunção

Okay, a Samsung pode no máximo vender celulares baratos, e os desenvolvedores e operadoras vão ser cautelosos e só apostar em modelos de negócio que já atinjam muitas pessoas. Mas parece uma inversão lógica o consumidor adotar uma tecnologia com a esperança de que só no futuro ela venha a ser vantajosa.

Não é bem assim, mas tá quase lá

Imagem

Para além de preço e oferta de serviços, Samsung e Anatel apontam um terceiro fator que emperra o 5G. Este, porém, joga fora das quatro linhas das regras de mercado: são aqueles aparelhos não homologados pela Anatel ou que entram no país de forma ilegal.

O mercado cinza já é responsável por um a cada quatro celulares vendidos no Brasil. Em 2023, foram mais de 6 milhões de unidades, segundo a Abinee com base em dados da consultoria IDC.

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"Esse mercado ilegal joga contra essa tendência [do 5G], porque 99% dos aparelhos que entram ilegalmente no Brasil são 4G", diz Assunção.

E nove a cada dez desses celulares foram vendidos em marketplaces, calcula a entidade setorial. Para coibir a prática, a Anatel tem acionado a Justiça e feito acordos com as principais lojas. Mas, para Baigorri, é jogo de gato e rato.

O que nos incomoda é a participação das plataformas de comércio eletrônico, completamente condescendentes e negligentes. Você não encontra cocaína ou armamento, porque elas têm essa responsabilidade. Mas, quando a gente fala de equipamentos de telecomunicações, o jogo muda completamente. Existe um interesse econômico muito forte em continuar vendendo isso
Carlos Baigorri

Depois de sobreviver às balas geopolíticas do primeiro mandato de Donald Trump, agora o 5G amarga uma disputa com o subterrâneo da tecnologia.

DEU TILT

Toda semana, Diogo Cortiz e Helton Simões Gomes conversam sobre as tecnologias que movimentam os humanos por trás das máquinas. O programa é publicado às terças-feiras no YouTube do UOL e nas plataformas de áudio. Assista ao episódio da semana completo.

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