O plano de R$ 2 tri para data centers que Haddad mostrará a Amazon e Nvidia
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O governo Lula finalizou o Plano Nacional dos Data Centers, e o batismo de fogo será diante das Big Tech, envolvidas na corrida da inteligência artificial, tecnologia altamente dependente dessas instalações.
Fernando Haddad, ministro da Fazenda, vai detalhar o plano a executivos de Amazon e Nvidia durante viagem aos Estados Unidos nesta semana. Segundo um interlocutor ministerial afirmou ao Radar Big Tech, a ideia do "road show" é mostrar a quem "está com a caneta do investimento a visão de país, ancorada em um plano de transformação ecológica".
A primeira fatia da estratégia para datar centers a ganhar vida será um regime tributário especial para destravar a instalação dessa infraestrutura no Brasil. Em troca, os interessados deverão cumprir exigências de sustentabilidade, reservar poder computacional para o mercado nacional e destinar parte da receita a pesquisas na área. O governo calcula que o plano pode atrair R$ 2 trilhões em investimentos ao longo de dez anos.
O que rolou?
A indústria de tecnologia brasileira vê uma janela de oportunidade para os data centers. Seja pelo hype da IA, pelo avanço da computação em nuvem ou pela maioria do processamento de dados ser feito no exterior. O Brasil tem ainda a seu favor a posição geográfica e energia abundante e limpa. Contei isso em Deu Tilt. Mas:
- O país possui sérios gargalos. Devido à carga tributária, construir data centers e importar equipamentos é, respectivamente, 30% e 45% mais caro que em outros países. Isso vai para o preço final, e fica mais barato rodar dados de brasileiros em Ashburn (Virgínia), meca dos data centers nos EUA, do que aqui. Por isso...
- ... A Fazenda criará um regime de benefícios fiscais, apelidado de Redata, para isentar investimentos em centrais de dados dos tributos federais, como Pis/Cofins e IPI. Com validade de cinco anos...
- ... O plano, na prática, antecipa os efeitos sobre a cadeia da reforma tributária...
"Se a gente pudesse dar um fast forward para 2033, não precisava de política, porque o CAPEX já estaria 100% desonerado. Eu não tô dando benefício fiscal, estou simplesmente antecipando os efeitos da reforma tributária
Igor Marchesini, assessor especial do Ministério da Fazenda
- Segundo cálculos vistos pela Radar Big Tech, o governo espera que, com o Redata, os investimentos cheguem a R$ 2 trilhões --não é dinheiro público, mas, sim, recurso de investidores privados. A iniciativa vem sendo tratada como "ecológica", pois data centers são medidos conforme sua potência energética e...
- ... Como o Brasil tem energia limpa abundante, o objetivo é transformar esse recurso natural em riqueza: atrair empresas que precisem de grandes quantidades de eletricidade e usar o dinheiro gerado para fomentar o ecossistema digital nacional...
"Data center, ao contrário do que muita gente imagina, não é um negócio de energia. Data center é um negócio de amortização de computador. E o Brasil é um dos lugares mais caros do mundo para importar computador"
Interlocutor ministerial
- Para mostrar que o Brasil quer mudar esse quadro, Haddad incluiu na agenda conversas com executivos de Amazon e Nvidia. Na volta dele ao Brasil...
- ... O governo pretende enviar o Redata ao Congresso Nacional em forma de Medida Provisória até a segunda semana de maio. Em seguida, vai regulamentar o regime. Depois...
- ... Vai apresentar os outros pontos do Plano Nacional dos Data Centers.
Por que é importante?
O Redata exigirá dos participantes:
- Sustentabilidade como 'regra para jogar': os data centers precisarão ter energia 100% renovável e limpa, provavelmente solar ou eólica; alta eficiência energética e hídrica ("zero water", ou seja, ficar no zero a zero em consumo de água), circularidade e neutralidade de carbono (tanto nas emissões diretas quanto naquelas decorrentes da energia comprada).
- Duas contrapartidas estratégicas:
- 10% da capacidade dos data centers contemplados deverão ser ofertadas exclusivamente no mercado doméstico, seja para empresas, projetos de pesquisa ou universidades e políticas públicas. Caso não tenha modelo de negócio que permita a venda, a empresa pode doar. Nesse caso, o cálculo é dobrado. Ou seja, bastam 5%.
- Contribuição de 2% da receita para o FNDIT (Fundo Nacional de Desenvolvimento Industrial e Tecnológico), dinheiro a ser usado para fomentar pesquisas relacionadas a data centers, como refrigeração líquida e software de otimização do uso de energia.
"Quer instalar Mega data center de 1 Gigawatt para treinar modelo e exportar para fora? Beleza. 10% dessa capacidade tem que ser ofertada no mercado doméstico."
Igor Marchesini, assessor especial do Ministério da Fazenda
Não é bem assim, mas tá quase lá
Alguns pontos ainda estão indefinidos, outros geraram desconfortos. São os seguintes:
- Dinheiro não é 'carimbado': O dinheiro pode até entrar no FNDIT com o propósito de fomentar pesquisas ligadas a data centers, mas o governo não dispõe de meios legais e regulamentares para forçar que a grana tenha essa finalidade. Já há conversas com BNDES, gestor do fundo, e MDIC, que preside o conselho do FNDIT, para chegar a um arranjo.
- Investidor descontente à vista: Áreas onde alguns impostos são zerados, as ZPE (Zonas de Processamento de Exportação) foram criadas para atrair fábricas voltadas à exportação de bens físicos. Nova lei recente liberou a presença de serviços. Com isso, governos estaduais atraíram data centers para ZPEs locais -é o caso do Ceará com Pecem e do Piauí com Parnaíba. O Redata e seus benefícios fiscais similares tornam esse esforço inócuo. Para contornar a saia justa, o governo alinha um mecanismo para aproximar as condições das ZPEs às do Redata. O objetivo é desestimular o uso das zonas em projetos futuros, mas não penalizar quem já investiu.
"A coisa toda foi desenhada para o ponto de chegada de longo prazo é operar fora do ZPE. A ZPE não é uma boa solução para data center. Ela concentra muita carga num lugar só e tem essa exigência da exportação"
Igor Marchesini, assessor especial do Ministério da Fazenda

Juro dizer a verdade... Sundar Pichai, CEO do Google, escolheu um dos momentos mais inusitados para dar uma notícia quente. Durante seu testemunho na segunda fase do julgamento que condenou a empresa por monopólio na busca online, ele contou que o Google negocia com a Apple a chegada do Gemini ao iPhone. A inteligência artificial deverá ser integrada ao Apple Intelligence.
"Ele [Tim Cook, CEO da Apple] estava tentando entender nosso plano de evolução das tecnologias de IA, nossos próximos passos e, em meio a isso, conversamos sobre a distribuição do aplicativo Gemini também"
Sundar Pichai, CEO do Google
Os bilhões pagos pelo Google à Apple —assim como a outras empresas— fizeram da busca online o padrão do iPhone. Esse negócio foi peça-chave para o governo dos EUA convencer a Justiça do uso do poder econômico pela Big Tech. Na etapa atual do julgamento, o juiz definirá como remediar as práticas que minavam a concorrência.
Por falar em Gemini... O Google deve dedicar a edição 2025 do I/O exclusivamente à sua plataforma de IA. O evento para desenvolvedores geralmente é palco para as novidades do Android. Mas, neste ano, a empresa concentrará em uma apresentação solo, no dia 13, o que haverá na próxima versão de seu sistema operacional. O Google I/O começa no dia 20.
Por falar em Gemini [2]... O Google avisou a pais e mães norte-americanos que vai liberar uma versão do Gemini para menores de 13 anos. O app será disponibilizado àqueles que usam Family Link, um serviço que permite aos responsáveis supervisionarem como seus rebentos usam plataformas do Google. No email de anúncio, a companhia recomenda que as crianças sejam lembradas que o "Gemini não é humano".

Voo solo...
O Meta AI, aquele botão azul no WhatsApp, virou um app à parte. Disponível apenas nos EUA por enquanto, o programa é um chatbot convencional à la ChatGPT. Você escreve um prompt ou fala qual sua demanda, e ele responde em texto, gera imagens ou traz resultados da web. A novidade é que o app dá um passo adiante: traz um feed à lá rede social para exibir como contatos do Instagram ou Facebook usaram o Meta AI.

É golpe...
A AGU (Advocacia Geral da União) entrou com ação civil pública contra a Meta por enriquecimento ilícito e danos morais causados por anúncios fraudulentos. O órgão relata ter identificado 1.770 anúncios falsos para aplicar golpes financeiros circulando em plataformas da Meta. Destacou ainda o uso por golpistas de imagens de serviços do governo federal, como Pix, Bolsa Família, Polícia Federal, Receita e "gov.br".
DEU TILT
Toda semana, Diogo Cortiz e Helton Simões Gomes conversam sobre as tecnologias que movimentam os humanos por trás das máquinas. O programa é publicado às terças-feiras no YouTube do UOL e nas plataformas de áudio. Assista ao episódio da semana completo.
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