Da Tesla à SpaceX: ligação de Musk com Trump emperra negócios do bilionário

(Toda semana, Diogo Cortiz e Helton Simões Gomes conversam sobre tecnologia no podcast Deu Tilt. O programa vai ao ar às terças-feiras no YouTube do UOL, no Spotify, no Deezer e no Apple Podcasts. Nesta semana, o assunto é: O paradoxo elétrico da IA; Chips 'made in USA'; Os maus negócios de Musk; Black Mirror)

O Elon Musk empresário talvez não esteja gostando da atuação do Elon Musk funcionário público. Ainda longe de alcançar a meta de economizar US$ 3 trilhões com as ações do Departamento de Eficiência Governamental dos EUA, o bilionário vê suas diversas empresas sofrerem reveses.

Se os analistas têm incerteza sobre uma recessão que pode ser revertida, a certeza é que o Musk está se dando muito mal por ter se aliado ao governo dos EUA
Helton Simões Gomes

Convicto de que conseguiria atingir rapidamente seus objetivos, Musk estipulou um mandato curto à frente do órgão criado para ele por Donald Trump 2 no governo norte-americano. Se não renovar, ele trabalha até 5 de maio. O magnata diz ter alcançado 15% de sua meta, mas especialistas contestam o número. Ainda assim, o corte veio da redução na humanitária e da demissão de quase 200 mil funcionários públicos.

Tesla queimado

Antes motivo de ostentação e orgulho, a Tesla tem amargado um desprestígio entre os motoristas que compraram carros da marca. Alguns chegam a esconder o logo do carro. Outras pessoas, em protesto, ateiam fogo nos veículos.

Essas pessoas terem vergonha mostra o estado de espírito do consumidor atual da Tesla, porque compraram um Tesla quando o Musk era o símbolo da mudança do capitalismo rumo a uma sociedade que se preocupava com as mudanças climáticas, só que de uns tempos para cá ele virou um ícone de outro movimento, que é da ascensão da extrema direita
Helton Simões Gomes

Com o repúdio, as vendas caíram 30% em 2024. O movimento, porém, também está associado ao avanço das montadoras tradicionais, como Volvo e Volkswagen, que correram atrás do prejuízo para oferecer carros elétricos em pé de igualdade aos da Tesla. Juntam-se a elas as chinesas, como a BYD.

A colonização emperrou

Ao chegar ao governo, Musk talvez esperasse que as empreitadas da SpaceX, sua empresa espacial, também decolassem. Mas ainda não aconteceu. A companhia segue uma das principais fornecedoras do plano espacial dos EUA, mas o bilionário vai precisar esperar um pouco mais para chegar a Marte, já que o retorno à Lua foi adiado.

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Até as vitórias que ele estava contando talvez não ocorram
Helton Simões Gomes

A Startlink, subsidiária da SpaceX para comunicação satelital, é outra empresa que vem sofrendo reveses inesperados.

O governo italiano suspendeu um contrato de 1,5 bilhão de euros (o equivalente a R$ 9,2 bilhões) para fornecer internet a diplomatas e autoridades do governo.

No Brasil, o líder do PT na Câmara dos Deputados, Lindbergh Farias, pediu ao governo para revisar os contratos feitos com a Starlink, afirmando que ela não respeitava a soberania do país.

Nesse segmento, o bilionário também precisa lidar com a concorrência, que cresce no setor, inclusive vinda de outro bilionário. A Kuiper, rede de satélites de Jeff Bezos, da Amazon, acaba de colocar seus primeiros equipamentos em órbita.

Várias ameaças vindas de todos os lados, e o empresário Musk não consegue se deter em todas elas, porque o funcionário público Musk está muito preocupado e pra lá de enrolado
Helton Simões Gomes

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Atrás de rivais nas redes sociais e em IA

Dono do X (ex-Twitter), o magnata resolveu unir a rede social à empresa de inteligência artificial, a XAi. O objetivo da manobra não ficou claro, mas a situação já não era boa antes.

Desde a aquisição, a rede social comprada por Musk perdeu muito de seu valor de mercado, mesmo que ainda a considere relevante do ponto de vista de produção de conteúdo

Ela vem perdendo cada vez mais esse valor de mercado, social e de comunicação e é um desafio para o Musk. Do ponto de vista de negócios está péssimo
Diogo Cortiz

Já o Grok, a IA do X, até conta com uma base de dados importante, que é a produção de conteúdo dos tuiteiros, mas sofre uma desvantagem em relação aos chatbots de rivais, como Meta e Google. Enquanto a quantidade de usuários de outras plataformas só cresce, a do X diminui a cada dia.

É um grande desafio de se posicionar nesse mercado de IA competindo com grandes outros players que tem uma penetração e capilaridade muito maior
Diogo Cortiz

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Por que Trump briga por chip nos EUA, enquanto Brasil mina empresa local?

Quando o assunto é chip, o mundo vai em uma direção, e o Brasil segue pelo caminho inverso. Na corrida pela soberania da inteligência artificial, os Estados Unidos têm brigado para produzir em seu território os poderosos semicondutores necessários à tecnologia, enquanto o Brasil dá à Ceitec, principal empresa de chips do Brasil e única fábrica da América Latina, um destino para lá de incerto.

O mundo todo está querendo fazer chips e aqui tem gente que está querendo jogar a única empresa que faz do começo ao fim o chip fora
Helton Simões Gomes

Diferentemente do Brasil, o governo dos Estados Unidos segue uma cruzada para voltar a ter uma produção nacional de chips.

Black Mirror: série sobre distopia futurista agora usa o presente para assustar

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"Os episódios antigos me davam a sensação de olhar para o futuro e ficar com receio dele, mas, nessa temporada, o sentimento que me deu é que o presente está me assustando. Muitas coisas que a gente enxerga nos novos episódios já estão em alguma medida entre nós", diz Helton Simões Gomes.

IA usará 3% da energia global em 2030; Tem como reduzir essa conta de luz?

No ritmo atual, a inteligência artificial vai ser responsável pelo consumo de 3% de toda a eletricidade do mundo em 2030, nos cálculos da Agência Internacional de Energia (IEA, na sigla em inglês). O volume é equivalente à energia elétrica consumida pelo Japão por todo ano.

Daqui a 5 anos, ao atingir esses 3% de consumo, a IA vai se igualar a aviação civil, que é usada por muito mais pessoas do que quem usa IA
Helton Simões Gomes

Para alguns países, os pesquisadores da agência conseguiram mensurar a tendência de consumo da IA em relação a outros segmentos econômicos que consomem eletricidade intensamente. Nos cálculos da agência, a previsão é que os Estados Unidos gastem mais energia com IA do que na fabricação de bens de consumo e itens como alumínio, aço e produtos químicos.

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DEU TILT

Toda semana, Diogo Cortiz e Helton Simões Gomes conversam sobre as tecnologias que movimentam os humanos por trás das máquinas. O programa é publicado às terças-feiras no YouTube do UOL e nas plataformas de áudio. Assista ao episódio da semana completo às 15h.

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