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Allan Simon

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Estreia do UFC na Band expõe desafio de fazer mesma transmissão na TV e PPV

Primeira transmissão do UFC na Band, que teve sinal compartilhado com o pay-per-view Fight Pass - Reprodução/UFC Fight Pass
Primeira transmissão do UFC na Band, que teve sinal compartilhado com o pay-per-view Fight Pass Imagem: Reprodução/UFC Fight Pass

Colunista do UOL

15/01/2023 04h00

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A tão esperada estreia do UFC na Band mostrou muito do que as notícias sobre a montagem do projeto de transmissões já sinalizavam: os telespectadores da TV aberta voltaram a ter acesso ao maior evento de MMA do mundo, mas com cara, linguagem e jeito de transmissões de um PPV (pay-per-view) que aos poucos teria que buscar o ponto de equilíbrio entre os dois públicos, aquele que é totalmente fã da modalidade e o mais casual que pode se interessar ao encontrar o evento na televisão.

A transmissão entrou no ar com apresentação de Mirelle Moschella e de Rodrigo Minotauro com o esperado e natural tom de boas-vindas. O UFC estava fora da TV aberta desde 2018, quando a Globo deixou de fazer as lutas nessa mídia, mantendo até o fim do ano passado os direitos de PPV no Combate. Diferentemente de quando a emissora carioca passou a exibir no sinal aberto, em 2011, a Band não adotou um tom extremamente didático sobre a modalidade.

Depois de 20 minutos de materiais exibidos lembrando os 30 anos do UFC e também sobre as lutas do card principal, a Band ainda abriu uma janela para exibir ao vivo um trecho do round final de uma luta do card preliminar, que estava até então exclusiva do UFC Fight Pass, que tinha o brasileiro Mateus Mendonça contra Javid Basharat. Mas foram apenas alguns poucos segundos.

A integração com o novo PPV da organização de MMA era lembrada o tempo todo. A repórter Evelyn Rodrigues é contratada do Fight Pass e usava a marca do serviço de streaming em seu microfone. Nessas entradas diretamente de Las Vegas também rolaram entrevistas com personalidades como a lutadora Mackenzie Dern. Propagandas oferecendo a assinatura do pacote também apareceram durante a transmissão da Band.

A parte exclusivamente gerada para a Band durou apenas meia hora. Com o fim do card preliminar, o sinal do Fight Pass se integrou de vez ao canal aberto. O narrador André Azevedo e os comentaristas Carlão Barreto e Demian Maia já estavam no ar fazendo as lutas anteriores, e ganharam a companhia de Minotauro quando começou a transmissão conjunta com a TV aberta.

No geral, a linguagem começou parecida com a que nos acostumamos a ver no Combate. Afinal de contas, praticamente toda a equipe já passou pelo pay-per-view da Globo. Sendo uma transmissão única no Fight Pass e na Band, também era de se esperar que o "didatismo" típico da TV aberta não ficasse tão acentuado, como a abertura dos trabalhos já sinalizava.

O conteúdo da transmissão foi muito bom, com destaque para a volta de Carlão Barreto, que tinha deixado o Combate há alguns anos e fazia falta com seu conhecimento durante as lutas do UFC. Foi ele quem pareceu mais preocupado em "traduzir" para o público geral algumas questões muito características da modalidade. Valeu até uma explicação sobre o peso e a importância do evento, que Carlão chamou de "Fórmula 1 do MMA".

Não é uma missão fácil, pois o espectador que paga o PPV pode se incomodar com algumas pausas para essas explicações. Ao mesmo tempo, fazer uma transmissão totalmente nichada e não "conversar" com o público mais casual pode afastar a audiência na TV aberta. A primeira transmissão expôs esse desafio que será encarado em pelo menos mais 11 eventos ainda este ano.

Um ponto a ser melhorado é a distribuição da palavra, que ficou um pouco confusa devido à quantidade alta de comentaristas. Em poucos minutos de round, era preciso encaixar as opiniões de toda a equipe, e nisso alguns comentários acabaram atropelando a narração.

Como todo trabalho que está começando (o UFC Fight Pass também estava estreando neste evento), houve alguns problemas como áudio com um pouco mais de eco, alguma falta de sincronia nos cortes de câmeras no estúdio durante a pré-hora, uma imagem um pouco menos nítida nos primeiros minutos pós-integração, áudio vazando de Evelyn enquanto era exibida uma entrevista que ela mesma havia gravado após o fim das lutas, entre outras coisas. Falhas que até passam sendo esta a primeira vez, mas que precisam ser corrigidas nas próximas transmissões.

A imagem gerada das lutas é a mesma de sempre, o UFC apenas mudou de plataformas no Brasil. O que lembra muito a mudança de "casa" da Fórmula 1, há dois anos, quando a Band também substituiu o Grupo Globo e usou vários de seus ex-profissionais, como Sérgio Maurício, Felipe Giaffone, Reginaldo Leme e Mariana Becker. A diferença é que no caso das corridas a equipe é da própria emissora, sem gasto de tanto tempo para fazer merchandising do PPV.

No que se refere às questões de áudio ambiente, microfones, cortes de câmeras, tudo isso terá mais tempo para ser arrumado, uma vez que o PPV terá 100% dos eventos do UFC para transmitir. No próximo fim de semana, a parceria entre UFC Fight Pass e Band vai transmitir o UFC 283, que será realizado no Rio de Janeiro. Uma boa chance de apresentar mais credenciais ao público, que deverá se interessar mais por este evento. A equipe já anunciou que estará in loco para narrar as lutas do lado do octógono.