TOC vai além da mania e pode se manifestar com pensamentos repetitivos

Lavar as mãos o tempo todo com medo de germes, checar várias vezes se a porta está trancada ou se irritar quando os talheres não estão alinhados são exemplos de comportamentos ligados ao TOC (Transtorno Obsessivo-Compulsivo). Muitas pessoas pensam que a doença é só um conjunto de "manias esquisitas", mas ela vai muito além disso.

A psicóloga Nívea Mello explica que existem diversos tipos de TOC, um transtorno psiquiátrico com bases neurológicas muito bem estudadas. "Ele se caracteriza por pensamentos obsessivos por vezes repulsivos, que produzem muita ansiedade, medo e compulsões", diz. Antes, só era considerado TOC quem tinha pensamentos obsessivos e também comportamentos compulsivos. Hoje, só os pensamentos já podem ser suficientes para o diagnóstico.

"A pura obsessão é raríssima, geralmente a pessoa tem rituais somente mentais, não são manias visíveis para os outros", diz Mello. A psicóloga explica também que os pensamentos obsessivos criam uma discussão mental, em que a pessoa tenta argumentar com eles e até sente um alívio, mas depois o pensamento e a angústia voltam.

Ela destaca que isso é diferente de uma preocupação normal, em que a pessoa pensa no problema, avalia se ele é real e, caso não seja, consegue seguir em frente.

O transtorno também pode se manifestar em outras áreas, como preocupações exageradas com doenças, trabalho ou até religião, sempre com pensamentos que se repetem e causam sofrimento.

O TOC de relacionamento, por exemplo, tem como característica os pensamentos obsessivos indesejados e angustiantes sobre o parceiro: se o ama de verdade, se são compatíveis, se o outro sente o mesmo. É uma busca incansável por certeza.

Os impactos da doença na vida do paciente

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Imagem: iStock

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Dependendo da gravidade dos sintomas da doença, ela passa despercebida pela família. Isso colabora para a demora na busca pela ajuda. O transtorno começa na infância e na adolescência e, observados os sintomas pelos pais, o tratamento deve ser iniciado cedo.

Um prejuízo associado ao TOC não tratado é o desenvolvimento de outros transtornos psiquiátricos, como a depressão e o TAG (Transtorno de Ansiedade Generalizada). Segundo a psicóloga Alice de Mathis, existem duas linhas de tratamento, a medicação e a terapia cognitiva-comportamental, e é importante fazer uma avaliação para decidir o tipo de tratamento mais adequado para o paciente.

"Se for um caso leve, só a terapia comportamental tem um bom resultado. Se o caso for de moderado a grave, aí seria interessante a associação tanto do remédio quanto da terapia", sinaliza Mathis.

Os medicamentos mais usados são os inibidores seletivos da receptação da serotonina, como o famoso Prozac, mas existem outros antidepressivos mais específicos e os antipsicóticos também vem sendo utilizados.

Mathis também fala sobre os gatilhos que as pessoas com a doença podem identificar: "Ela [pessoa com o transtorno] sabe que se vai em um lugar cheio de pessoas, ela vai ter mais preocupação, mais sintomas". Esses casos podem levar a quadros como o sintoma de evitação, quando o paciente evita ir a determinados locais pois sabe que, se ele for, alguns pensamentos podem ser desencadeados. Isso contribui para que ele fique recluso em casa e outras doenças psiquiátricas sejam desenvolvidas.

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*Com informações de reportagem publicada em 14/02/2020 e matéria do Jornal da USP de 11/06/2022

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