Será que você está lidando com um narcisista? Conheça os sinais

O narcisismo é uma característica presente em todos nós. Mas, em alguns casos, ele pode se tornar excessivo, resultando em um transtorno de personalidade. Isso causa problemas tanto para o indivíduo que sofre com essa condição quanto para aqueles ao seu redor, podendo até gerar situações de agressividade.

Enquanto a maioria das pessoas experimentam uma sensação boa ao ouvir um elogio (e tudo bem!) de tempos em tempos, os narcisistas têm uma necessidade constante de admiração, e a falta dela pode gerar reações de descontrole. Esse transtorno é marcado por uma visão exagerada de si mesmo, busca incessante por validação e uma grande dificuldade de se conectar emocionalmente com os outros.

Vale ressaltar que muitas pessoas apresentam traços narcisistas sem, necessariamente, terem um diagnóstico. Esse transtorno é uma condição psiquiátrica específica e afeta aproximadamente 1,6% da população. Tábata Mascarenhas, psiquiatra da Rede D'Or Bahia

Qual a origem do transtorno narcisista?

Estudos sugerem que o transtorno de personalidade narcisista (TPN) tem uma forte influência genética hereditária, embora os mecanismos biológicos exatos ainda não sejam totalmente compreendidos.

Hipóteses indicam que variações em genes ligados à dopamina e serotonina, neurotransmissores envolvidos no processamento de recompensa e no controle emocional, podem estar associadas ao transtorno, enquanto pesquisas em neuroimagem mostram alterações no córtex pré-frontal e na amígdala, regiões relacionadas à regulação emocional, empatia e tomada de decisões sociais.

Mas, apesar dessas descobertas, o desenvolvimento do TPN não pode ser atribuído apenas a esses fatores. O ambiente durante a infância também desempenha um papel importante, com cuidadores excessivamente críticos ou excessivamente elogiosos e apegados contribuindo para o desenvolvimento desse padrão de comportamento.

Além disso, muitos com esse transtorno possuem habilidades ou aptidões excepcionais em determinadas áreas e, desde cedo, associam sua autoestima à aprovação dos outros, tornando essa validação externa de máxima relevância para sua visão de si mesmos.

Sinais de um narcisista patológico

1. Pessoas com transtorno de personalidade narcisista tendem a supervalorizar suas habilidades e conquistas, acreditando serem únicas e superiores;

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2. Possuem um sentimento de grandiosidade que, muitas vezes, faz com que desvalorizem os outros;

3. Vivem fantasias de sucesso, prestígio e admiração, acreditando que só devem se relacionar com pessoas excepcionais;

4. Sua autoestima é frágil e depende da aprovação dos outros;

5. Reagem mal a críticas ou fracassos, sentindo-se humilhados e derrotados;

6. Podem responder com raiva, desprezo ou se afastar para preservar sua autoimagem;

7. Muitas vezes, evitam desafios por medo de falhar e ver sua grandiosidade abalada.

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"Saiba que o narcisista não tem empatia e busca admiração apenas para si. Portanto, não queira ganhar aprovação ou admiração por parte dele", afirma a psicóloga Luciana Oliveira, pós-graduada em psicopatologia pelo Grupo PBE.

Como é se relacionar com um narcisista

Indivíduos com transtorno narcisista procuram parceiros que os valorizem constantemente e reforcem sua autoestima. Ao não receberem a atenção desejada, tendem a desvalorizar o outro, criando um ambiente tóxico e abusivo no relacionamento.

Se a relação com um narcisista evolui, no longo prazo pode prejudicar a autoestima e a saúde mental da outra pessoa, levando ao isolamento, à impotência e ao desenvolvimento de problemas como ansiedade e depressão.

"Narcisistas geralmente não conseguem manter relacionamentos saudáveis por muito tempo, pois seu comportamento sedutor e manipulador acaba se tornando evidente com a convivência", explica a psiquiatra Tábata Mascarenhas.

Ao serem confrontados, eles tendem a inverter o jogo, fazendo o cônjuge se sentir culpado. Geralmente, não reconhecem a necessidade de ajuda profissional e ignoram o impacto alheio de suas atitudes.

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Sendo homens, como se comportam?

Segundo Marcos Magalhães Ferreira, psiquiatra pela ABP (Associação Brasileira de Psiquiatria), a personalidade narcisista é mais comum em homens.

Sendo um pai controlador, pode exigir admiração dos filhos e desvalorizar suas conquistas, tornando a relação marcada por manipulação emocional e críticas constantes, dizendo frases como: "Eu me sacrifiquei tanto por você, e é assim que me retribui?".

Como chefe, tende a ser autoritário, intolerante a críticas e opiniões contrárias e apropriar-se do mérito alheio, criando um ambiente hostil. Por exemplo: "Se essa empresa funciona, é porque eu carrego tudo nas costas!"

"São arrogantes e ambiciosos, buscando poder e sucesso sem limites. Exageram suas conquistas e exigem reconhecimento, mesmo sem mérito. Para se destacar, frequentemente desvalorizam os outros", acrescenta Marcos Magalhães.

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Já num relacionamento amoroso, podem ser sedutores no início, mas logo passam a desqualificar a parceira ou o parceiro, exigindo submissão e invalidando seus sentimentos, com comportamentos como: "Ninguém mais vai te aguentar como eu, você deveria me agradecer."

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Quando se é uma mãe narcisista

O relacionamento entre uma mãe narcisista e seu filho também é geralmente marcado por constantes discussões e manipulações. Essas mulheres costumam tratar os filhos como uma extensão de si, muitas vezes se colocando como vítimas para obter atenção máxima. Elas têm dificuldades em reconhecer as conquistas das crias e, ao invés de celebrá-las, podem agir com recalque.

Também são invasivas, não respeitam a privacidade e frequentemente expõem os filhos de maneira constrangedora, o que pode gerar insegurança e mal-estar. Esse comportamento constante cria um ambiente de criação e convívio nocivo, prejudicial sobretudo para crianças.

Por isso, é importante que os filhos procurem apoio psicológico para desenvolver sua autonomia emocional. Caso ainda dependam dessa mãe, a ajuda de outros familiares pode ser necessária. A terapia, tanto na infância quanto na fase adulta, ajuda a superar os efeitos desse tipo de relação, pois os traumas tendem a ser duradouros.

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"Para se proteger, use a empatia a seu favor. Compreender a forma de pensar e sentir da narcisista, mesmo sem concordar, pode evitar confrontos desnecessários e ajudar a manter a paz na convivência", sugere o psiquiatra Marcos Magalhães.

Como diagnosticar um narcisista?

O transtorno de personalidade narcisista não é definido por um único critério. Segundo a 5ª edição do DSM (Manual de Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais), o diagnóstico pode ser feito se o sujeito apresentar ao menos cinco dos nove critérios listados:

  1. Sentimento exagerado de importância. A pessoa aumenta suas conquistas e espera ser reconhecida sem justificativa.
  2. Fantasias de grandeza, como sucesso ilimitado, poder, beleza ou amor ideal.
  3. Crença de ser especial e único, acreditando que só pode se relacionar com pessoas igualmente grandiosas.
  4. Necessidade constante de admiração.
  5. Sentimento de direito. Espera privilégios sem motivo aparente.
  6. Tendência a explorar os outros para alcançar objetivos pessoais.
  7. Falta de empatia, com dificuldade de reconhecer as emoções alheias.
  8. Inveja constante ou crença de que os outros o invejam.
  9. Comportamento arrogante e prepotente.

Entretanto, embora alguém possa se identificar com algumas dessas características, não significa que se tenha o transtorno. O diagnóstico adequado deve ser feito por um psiquiatra após uma avaliação profissional.

"Pessoas com esse tipo de condição geralmente demoram a procurar um diagnóstico e ajuda. Elas buscam um médico ou psicólogo mais por questões secundárias, como ansiedade, depressão, insônia, sensação de vazio, raiva, solidão ou até pelo uso de álcool e outras drogas", esclarece Magalhães.

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Pode ser confundido com outro transtorno?

Sim, o transtorno de personalidade narcisista pode ser confundido com outros transtornos, confirma a psiquiatra Tábata Mascarenhas. Mas existem diferenças importantes entre eles:

Transtorno bipolar: narcisistas podem ter episódios de depressão, o que pode ser confundido com transtorno bipolar. No entanto, as oscilações de humor no transtorno bipolar são mais intensas e independentes, enquanto no narcisismo, as mudanças emocionais ocorrem em reação a críticas ou falhas percebidas.

Transtorno de personalidade antissocial: os dois transtornos envolvem o abuso dos outros, mas com finalidades distintas. Enquanto o transtorno antissocial busca ganho material ou pessoal, o narcisista explora os outros para manter sua autoestima e sensação de superioridade.

Transtorno de personalidade histriônica: pessoas com esses dois transtornos buscam atenção, mas, de novo, de formas diferentes. Narcisistas preferem ser admirados sem se expor ao ridículo, enquanto os histriônicos podem agir de forma dramática ou exagerada para chamar a atenção.

Existe tratamento para narcisista?

Sim. A principal forma de tratamento para o transtorno de personalidade narcisista costuma ser a psicoterapia, permitindo ao paciente compreender melhor suas emoções e interações com os outros. Duas abordagens eficazes incluem:

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Terapia baseada em mentalização: ajuda o sujeito a refletir sobre seus próprios sentimentos e pensamentos, além de entender melhor as intenções dos outros.

Psicoterapia focada na transferência: trabalha os padrões de relacionamento do paciente, ajudando-o a lidar com conflitos internos e a forma como percebe a si mesmo e aos demais.

Além dessas abordagens, a terapia cognitivo-comportamental (TCC) pode ser útil, pois o desejo de se destacar pode tornar o paciente receptivo a mudanças sugeridas pelo terapeuta. No entanto, alguns narcisistas podem considerar essa abordagem simplória demais para suas expectativas.

Quando há condições associadas, como ansiedade intensa, depressão ou uso de substâncias (álcool, drogas, sedativos), o tratamento pode incluir medicamentos. Mas a abordagem a ser aplicada depende da necessidade de cada caso e não deve gerar expectativas nos outros.

"Lidar com um narcisista requer estabelecer limites firmes e ser assertivo. Como eles manipulam para controlar os outros e as situações, é essencial evitar esse ciclo para proteger sua saúde mental. Se isso não for possível, o afastamento total se faz necessário", reforça a psicóloga Luciana Oliveira.

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