Sexo anal não é presente: parar de romantizar prática pode empoderar mulher

O sexo anal é um tema, desde os tempos remotos, permeado por polêmicas e tabus. Se na Grécia Antiga era praticado livremente por homens com outros caras e prostitutas, conforme avançou a religião católica, foi tido como pecaminoso e imoral, uma vez que seu objetivo único e o prazer, e não a concepção.

Por mais que a evolução dos costumes venha, desde o final dos anos 1960, empoderando as mulheres para o controle de seus corpos, a prática ainda enfrenta alguns preconceitos e ideias equivocadas.

Uma delas é que muitos casais hétero enxergarem o sexo anal por um viés "comemorativo", ou seja, um presente para uma ocasião especial, como um aniversário de relacionamento. Outra é o fato de que não são poucos os homens que costumam pedir o sexo anal como uma "prova de amor" ou "uma prova de confiança" da parceira.

As duas atitudes estão diretamente relacionadas ao machismo. No primeiro caso, por mais simples e dócil que possa ser o pedido, ele revela, mesmo que inconscientemente, o pensamento do homem como 'macho alfa', o ativo da situação. É uma projeção de sua presumida superioridade sobre a mulher, colocando-a numa posição bem submissa a ele.

Projetar o desejo de fazer sexo anal com a mulher numa pegada de "celebração" seria apenas uma grande jogada para aproveitar o êxtase do momento em que o casal está vivendo. A ideia de prêmio surge diretamente relacionada ao proibido e aos tabus que estão entrelaçados ao sexo anal. Por não ser uma prática tão usual entre os casais héteros, ela se torna um prêmio para aqueles que o praticam.

O o sexo anal, bem como a primeira vez (a perda da virgindade), não são provas de amor nem de confiança. Isso acontece porque o corpo da mulher é um lugar de fascínio e preconceito.

Negociações e acordos devem ser sempre feitos nos relacionamentos, como uma forma de ajuste, mas quando falamos de sexualidade estamos nos referindo a comunicação, consentimento e prazer. Uma mulher 'dar' algo dela para um homem simplesmente para agradá-lo passa pelo sentimento de invasão e pelo limite de cada uma. Não adianta dar um presente ou celebrar alguma coisa e sentir dor e aflição em vez de prazer.

Novas práticas podem ser negociadas

Novas práticas a serem experimentadas por um casal sempre irão envolver alguma negociação. Tem que haver comunicação e confiança e, principalmente, a liberdade de expressar se não agradou e não quiser repetir a experiência.

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A negociação, nesse caso, não é prejudicial, porque para que o sexo anal seja realizado com segurança é importante que algumas coisas sejam acordadas entre os parceiros, como higiene, proteção e preliminares.

O que não é bem-vindo é a exigência de que o sexo anal faça parte do repertório, tornando-se obrigatório. Infelizmente, ainda existem mulheres que se submetem para que o parceiro não procure outra.

O próprio machismo ainda presente no pensamento de muitas mulheres acaba colocando-as numa situação de submissão ou levando-as a adotar comportamentos em prol do outro, nunca de si mesmas. A prática do sexo anal deve ser experimentada com delicadeza, desde que os parceiros concordem, e não como um presente que a mulher dá ao homem.

Nenhuma mulher deve se submeter a algo que não esteja disposta e lembra que uma das premissas básicas do sexo anal é estar muito segura disso e disposta a se entregar. Caso contrário, fuja.

Para romper essa visão de "troféu" o ideal é que as pessoas deixem de encarar o sexo anal como uma espécie de "contravenção" e entendam que o ânus é uma zona erógena como outra qualquer e, portanto, uma região de prazer e descobertas.

Somente assim, desmistificando o assunto, é que conseguimos trazer o sexo anal para o lugar ao qual pertence: uma prática sexual prazerosa cujo deleite começa nas preliminares.

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É fundamental parar de usar o sexo como moeda de troca e ter sempre em mente que, quando confiamos e sentimos segurança no relacionamento, a química nasce naturalmente e é possível exercer a sexualidade sem medo de críticas ou julgamentos.

Fontes: Carolina Freitas, mestre em psicologia e especialista em sexualidade da plataforma Sexo sem Dúvida; Ricardo Desidério da Silva, sexólogo e docente do Mestrado em Educação Sexual da Unesp/Araraquara; e Rosely Salino, psicóloga, sexóloga e terapeuta de casal de São Paulo (SP)

*Com matéria publicada em 25/10/2019

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