Sai o 'corno' e entra o protagonismo da mulher no sexo; entenda o hotwifing

Ler resumo da notícia
Uma nova tendência de relacionamento vem conquistando espaço entre os casais heterossexuais: trata-se de uma dinâmica em que a mulher é incentivada pelo próprio parceiro a ter experiências sexuais com outros homens.
Conhecida como hotwifing, essa nova prática é diferente do chamado cuckolding, já que coloca a mulher como a líder no ato sexual.
O que é hotwifing?
O hotwifing pertence ao universo kink, que contempla o uso de práticas, conceitos e fantasias sexuais não convencionais. Em uma relação adepta ao hotwifing, as mulheres que estão casadas ou em outro relacionamento teoricamente fechado mantém relações sexuais com outras pessoas de forma consentida, ou seja, com o conhecimento do parceiro.
A prática geralmente envolve um fetiche do homem, que nem sempre está envolvido no ato. Segundo Stéphanie da Selva Guimarães, psicóloga, mestre em psicologia e membro da Sbrash (Sociedade Brasileira de Estudos em Sexualidade Humana), a situação pode ou não gerar excitação sexual no homem cuja parceira está tendo experiências sexuais com outro. "[O parceiro] pode participar dessas práticas sexuais como observador ou somente compartilhar, com certo contentamento, os diálogos sobre os ocorridos", explica.
Existe também o que algumas pessoas denominam de 'nova versão do hotwifing', que é a prática de ver a parceira se relacionando sexualmente com produtores de conteúdos online pornográficos ou trabalhadores do sexo, via plataformas de webcamming [transmissão de imagem e som por meio de uma câmera conectada a um computador] ou por plataformas específicas [de produção de conteúdo adulto]
Stéphanie da Selva Guimarães
Apesar de serem parecidos, os termos hotwifing e cuckolding não são a mesma coisa. O hotwifing se refere a mulher que tem relações com outros homens com o desejo de agradar o marido que, por sua vez, sente desejo em ser traído. "O cuckolding se refere ao próprio parceiro que possui o fetiche em ver que a parceira o trai", explica a especialista.
Tudo acordado
A dinâmica proposta pelo hotwifing costuma estar relacionada a acordos entre o casal. "Em certos casos, também se refere às regras estabelecidas para a relação conjugal como um todo", diz Stéphanie. Segundo a psicóloga, a necessidade de estabelecer, negociar e adaptar esses acordos e regras pode aproximar os parceiros e estreitar a intimidade. "Para se manter uma relação saudável, estas práticas [tidas como não convencionais] podem solicitar do casal maior comunicação e cumplicidade para compreender os limites e prazeres de cada um dentro da relação, principalmente porque esta dinâmica pode envolver certo nível de relação de poder e prazer entre as parcerias".
Além disso, alguns outros sentimentos podem ser suscitados por estas práticas, como a compersão -- que é a possibilidade de sentir prazer ou felicidade ao ver o prazer do parceiro -- e a subversão em relação às regras socialmente impostas e o poder
Stéphanie da Selva Guimarães
A prática tem sido amplamente debatida internacionalmente. Jornais como o britânico Daily Mail e o norte-americano New York Post buscaram casais adeptos à prática. "Não há nada como poder compartilhar essa experiência com alguém que você ama e saber que isso não diminui o que temos", disse Rebecca, uma das entrevistadas, ao NY Post. Segundo ela, "sexo e amor são coisas totalmente diferentes". "Na verdade, tornou tudo muito mais forte. E é estranho dizer, mas eu o amo muito mais por causa disso", afirmou.
A sensação de que a prática melhora o relacionamento parece ser comum entre aqueles que praticam o hotwifing. "[Cada experiência de] hotwifing é um bloco de construção de amor e confiança, e isso [a relação] fica cada vez mais forte", disse Richard, também entrevistado pelo NY Post. "Então, vamos fortalecer nosso relacionamento, e eu vou me divertir e sentir a adrenalina".
Segundo Stéphanie, o desejo, a excitação e o prazer ao ver a parceira com outra pessoa pode envolver diversas questões psicológicas, que podem ser complexas e ter diferentes origens. "As causas para tais desejos podem ser melhor investigadas em processos psicoterapêuticos, em terapias sexuais individuais ou com a própria parceira", explica.
O que agrada as mulheres
No cenário ideal de hotwifing, a mulher não se sente humilhada pelo ato sexual com outro homem. Ao levar em consideração os próprios desejos, a mulher pode direcionar os atos de maneira prazerosa e satisfatória para ela, mesmo que tenha a intenção de agradar ao marido.
Segundo Stéphanie, algumas mulheres se sentem mais empoderadas quando passam a ser adeptas ao hotwifing. "Embora a prática parta de um fetiche masculino em ser traído, elas acabam com certo protagonismo durante a dinâmica sexual, o que pode gerar maior bem-estar e um sentimento de compartilhamento da intimidade", diz.
Para garantir que o resultado do hotwifing seja de fato satisfatório, o casal deve ter alguns cuidados. "Esta prática deve ser consentida e estar confortável para todos os envolvidos, [é necessário] que se respeite os limites de cada um e que a comunicação se mantenha clara e aberta para que se mantenha o respeito, a intimidade e a possibilidade de prazer para todos", alerta a psicóloga.
É importante avaliar se não há a objetificação da mulher nestas situações e de onde parte o desejo de compartilhamento da parceira, para que não se defina enquanto fetiche (que seria um desejo ou atrações sexuais saudáveis e específicas) um posicionamento que [na realidade] pode estar arraigado em avaliações machistas
Stéphanie da Selva Guimarães
Práticas não convencionais vêm ganhando espaço
O crescimento do hotwifing reflete, segundo a especialista, as mudanças atuais nas formas de ver e vivenciar os relacionamentos. "Aquilo que antes era estabelecido como uma forma correta de agir enquanto casal ou de se relacionar sexualmente se torna mais questionado e flexibilizado", explica. Essas mudanças podem abrir espaço para diferentes formatos de relação conjugal, e os acordos variam de casal para casal.
Segundo Stéphanie, os possíveis novos arranjos impactam a todos, independente da identidade de gênero e das orientações sexuais. "As mudanças facilitam, para alguns casais ou para solteiros, a busca por novas formas de se sentir bem e desejado", diz. O questionamento das dinâmicas de poder dentro das relações pode gerar uma preferência pelas relações não monogâmicas, ressalta a especialista, nas quais pode haver uma maior abertura para a prática dos desejos, mesmo que estes desejos fujam do considerado tradicional.
Deixe seu comentário
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Leia as Regras de Uso do UOL.