Ana Canosa

Ana Canosa

Siga nas redes
Só para assinantesAssine UOL
Opinião

Eliza trocou sexo casual por companheirismo sem tesão. Ela está errada?

Eliza tem 28 anos e, depois de muito aproveitar o sexo casual, notou que havia chegado a hora de ter laços mais duradouros.

Conheceu o atual namorado, com quem tem uma relação que ela julga ótima e tem projetos em comum, mas ela não sente assim tanto tesão por ele - "Diria que é uma relação de conveniência, pois gosto mais da vida com ele do que exatamente dele".

Seu questionamento é se essa escolha é muito ruim para alguém com sua idade.

Começo dizendo que, depois de mais de 30 anos ouvindo o dilema humano, já vi de quase tudo.

Desde casais que se conheceram na adolescência, casaram e vivem uma vida feliz juntos há mais de 20 anos, sem nunca terem olhado para os lados (talvez só uma espiada rápida), até gente que não se adapta ao casamento, justamente porque ele traz uma série de conveniências que podem ser ótimas, mas difíceis de se abrir mão depois.

Todas as relações se baseiam em conveniência, a diferença é que algumas começam por ela, outras a desenvolvem durante o tempo. Bens, filhos, famílias, conforto, cumplicidade, divisão de contas, tarefas, perrengues e afins.

A conveniência de estar junto pode até ser do tipo narcísica, aquela que tem na parceria alimento para a própria autoimagem, como no caso dos que estão usufruindo do status ou do corpo de alguém.

Quando alguém me diz angustiado que não se separa de um casamento que é relativamente bom por causa dos filhos, super entendo. Por causa do conforto, super entendo. Porque dá uma preguiça começar tudo de novo, rá, também sou solidária.

Há 3 grandes alicerces que sustentam um vínculo conjugal: a conveniência, a função psicológica e o amor/sexo. Na viga do amor e sexo está o afeto e o erotismo; na função psicológica o papel que cada um exerce na vida do outro.

Continua após a publicidade

Imagine, por exemplo, uma pessoa que passa a relação orientando a outra, nas escolhas e decisões. Em outro caso, há os que cuidam em complementariedade aos que são cuidados. Também, para ilustrar, ainda os que fazem a função de censura da parceria, julgando o que está certo, errado, o que se deve ou não fazer. Qual o alicerce que sustenta o seu vínculo conjugal, o mais importante?

Eliza demonstra que ter um companheiro, para compartilhar a vida, é hoje a sua grande motivação, o que sustenta a sua escolha. O amor e o sexo são pilares menos importantes. No momento. Mas nada garante que lá na frente ela sinta falta de desejar alguém, com todas as suas entranhas.

Aliás, já vi isso acontecer inúmeras vezes: a formação familiar, no formato segurança, depois dos 25 e, lá adiante, a necessidade sexual vir com tudo. É uma questão de ciclo de vida: a vida adulta traz mais autonomia, é a fase na qual as pessoas reforçam escolhas profissionais, começam a usufruir de suas conquistas, estão com estrutura física surpreendente, aliada a energia e alguma experiência. Parece que se sentam no formigueiro e o sexo passa a ser uma questão fundamental.

Ah, mas ela fez muito sexo casual e já viveu a base do tesão, verdade, mas não há garantia nenhuma que o tesão não volte, direcionado a outras pessoas. Bom, mas mesmo que a gente tenha tesão nas parcerias, ele também aparece, não é mesmo?

Enfim, para embarcar nessa jornada da conveniência em relações monogâmicas, é preciso pensar se dá para abrir mão da atração sexual e do sexo praticado com verdadeira "combustão". Se mesmo sem tanta atração, a relação sexual é gostosa? Íntima? Satisfatória? Divertida?

Porque se for um martírio, digo a Eliza que ninguém merece uma agrura dessa natureza, tenha a idade que for. Eu sei que a estabilidade e a calmaria não são fáceis de encontrar, mas deus me livre algum parceiro amoroso olhar para mim e me ver só como "gente boa". Penso que é preciso um encantamento maior. Mas essa sou eu, Eliza é Eliza.

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

Deixe seu comentário

O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Leia as Regras de Uso do UOL.