Não é só o ciumento que confunde amor e posse. Como acabar com este ciclo?

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Existem várias maneiras de expressar o afeto e de fazer vínculos. Porém, quando o amor se torna uma obsessão, vinculando a relação amorosa ao sentimento de posse, são as ferramentas de controle que se destacam. Essas borram a principal motivação do amor, que é querer a felicidade do par, respeitando a sua individualidade.
Nada é mais libertador do que se perceber alinhado à própria identidade, assim como nada é mais angustiante do que passar o tempo tentando se moldar às expectativas da outra pessoa, se explicando ou tentando convencer a parceria a aceitação.
Não são poucas as pessoas com tendência a desenvolver relações baseadas na posse. E, quando encontram alguém que lhes dê corda, não tardam a colocá-la, rapidamente, no pescoço da vítima.
Os motivos podem ser vários, mas quase sempre a raiz do problema está na imaturidade emocional, na falta de identidade ou na autoestima baixa.
O primeiro caso tem a ver com a resistência em ultrapassar aquela fase da infância em que a criança abandona a relação simbiótica com a figura parental. E, por causa desta resistência em crescer, ela continua, vida afora, necessitando que alguém viva em função dela.
No caso dos que padecem de uma identidade estruturada, a parceria amorosa acaba servindo como um prolongamento do que o outro quis ser e não conseguiu, e tem a dura tarefa de ter que tomar as decisões, reagir às situações, opinar etc.
Para os que sofrem com a autoestima, o problema está em jamais sentir-se amado pelo que se é, o que causa uma insegurança pungente. Esta sensação de desamor pode ter raízes na infância ou na adolescência, quando os pais não dão voz aos filhos e filhas, negligenciam os cuidados essenciais, criticam em excesso, julgam negativamente ou depreciam suas ideias e comportamentos.
Embora muitas vezes nem mesmo a pessoa se dê conta de seu comportamento obsessivo e tóxico, e encontre justificativas para suas atitudes de controle, os sinais de alerta estão sempre acesos, desde o princípio da relação.
O hábito de trocar mensagens frequentes com a justificativa de compartilhar cotidiano, pode ser uma maneira de saber onde e com quem a pessoa está, e o que ela está fazendo. A gentileza de buscar a parceria em todos os lugares pode ser advir da mesma necessidade de controle. Abandonar atividades, hobbies ou planos de carreira em prol do "plano amoroso", ou mesmo se afastar dos amigos e da família, as demonstrações de ciúmes, o intenso interesse na vida amorosa pregressa do outro, os presentes exagerados... estes são exemplos de uma rede de sintomas que compõem relacionamentos dessa natureza.
Infelizmente, muitos destes comportamentos são bem-vistos pelas pessoas, entendidos, como prova de amor e de interesse, principalmente na fase da paixão, quando a dose de simbiose é peculiar.
O caso é que, não raro, o que parece bom no começo na verdade encobre uma obsessão prestes a se apresentar. Mas não se engane se pensa que amores obsessivos causam horror a todo mundo, pois na formação do vínculo uma certa complementariedade pode se estabelecer.
Veja, por exemplo, a situação da pessoa ciumenta cuja parceria não lhe dá muita confiança, sai muito sozinha, viaja com amigos/as e convive com outras pessoas: o comportamento dela alimenta as fantasias de rejeição e traição do par. Por outro lado, a pessoa que parece à primeira vista mais independente pode também camuflar uma necessidade de alguém que viva atrás dela, que reclame sua ausência, que confesse seus ciúmes, porque é assim que ela alimenta sua autoestima.
Deste modo, mesmo que o casal viva às turras, mantêm o jogo no qual cada um recebe seu quinhão.
No entanto, essas histórias de amor obsessivo podem evoluir para grandes tragédias, porque geralmente o obsessivo necessita aprisionar cada vez mais o outro, até que ele se sinta asfixiado, perca sua identidade e abandone todos os seus prazeres fora da relação.
Mas pouca gente é tão manipulável a este ponto, e é aí que mora o perigo: muitos crimes passionais acontecem justamente nesta hora, quando o prisioneiro quer se libertar. O obsessivo acredita que, matando seu companheiro, conseguirá imortalizá-lo na fase em que estavam vivendo juntos, o que lhe proporciona quase uma fantasia de "amor eterno".
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