Após tara inusitada de ficante, Juliana descobriu um universo erótico

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Juliana tem 35 anos, é assistente administrativa numa empresa de logística, e — até pouco tempo atrás — sua vida era absolutamente comum. Acordava cedo, pegava ônibus lotado, respondia emails chatos, resolvia pepinos no RH, voltava para casa, via série e dormia.
Foi num desses encontros aleatórios de aplicativo de relacionamento, entre uma semana estressante e outra, que ela mergulhou em um universo erótico completamente diferente do que estava acostumada.
O nome dele era Rafael. Elegante, educado, cheio de conversa boa. Saíram para jantar e depois seguiram para o apartamento dela. A noite estava indo como qualquer outra, o sexo costumeiro, até que ele abaixou a voz e pediu: — Você pode apertar meus testículos com força? Com força mesmo. Pode machucar, se quiser.
Juliana ficou estática por um segundo e riu, meio sem graça. Mas Rafael a olhou nos olhos com uma mistura de coragem e entrega. Aquilo a pegou de surpresa e, de alguma forma que ela não soube explicar, ficou excitada.
De início, ela me conta que apertou com delicadeza. Ele insistiu. Disse que fizesse com mais intensidade. Ele gemeu, não de dor — mas de um prazer estranho, quase animal. E foi assim que ela descobriu o universo do ballbusting. O que parecia uma brincadeira virou curiosidade e depois, uma experiência máxima de poder.
Passou semanas sem conseguir parar de pensar naquilo. No olhar de Rafael, na entrega, no prazer em causar dor com controle. Decidida a entender melhor, entrou em fóruns, leu relatos, assistiu a vídeos explicativos.
O ballbusting — esse fetiche em que o prazer está ligado a dor nos testículos —tem vários adeptos e é uma das práticas dentro do universo BDSM. Está profundamente conectado a aspectos emocionais, psicológicos e até biológicos sobre prazer e excitação. A dor e o prazer ativam regiões muito próximas no cérebro, e um estímulo intenso — se bem controlado — pode desencadear ondas de prazer.
Para além do desejo de serem dominados, muitos homens relacionam o ballbusting a uma motivação intensa ligada à entrega — não apenas do corpo, mas do símbolo máximo da masculinidade. Ao colocarem seus testículos nas mãos de uma mulher, estão se despindo do poder social historicamente associado aos genitais masculinos como ícone de força e autoridade.
É como se, ao renunciarem temporariamente a esse "cetro simbólico", se permitissem vivenciar uma forma profunda de submissão. Ao mesmo tempo, há uma outra camada, quase oposta: para alguns, suportar essa dor — sobretudo numa região tão sensível — representa justamente uma prova de força e virilidade. Uma espécie de rito de passagem silenciosa, onde a dor não anula a masculinidade, mas a reafirma.
Essa ambiguidade — entre se render e se provar — pode tornar o ballbusting uma experiência paradoxalmente libertadora, em que o homem vê sua masculinidade desafiada e, ao mesmo tempo, reconstruída nas mãos de uma mulher.
Por intermédio de um fórum temático, Juliana começou a se envolver com outros homens que tinham o mesmo desejo, muitos com a vergonha de pedir para suas companheiras de vida que o excitassem dessa maneira peculiar. Foi aprendendo a ler o corpo, a mente, os medos. Descobriu como provocar dor sem machucar ao extremo, só com o seu olhar "a diferença entre um chute simbólico e um golpe perigoso", o que impingia confiança nos parceiros e ainda mais poder sobre eles, que sempre lhe reverenciaram com uma certa 'gratidão'. Homens que a buscam não apenas para lhes provocar dor — mas por fazê-los sentir algo que a vida comum não permite: entrega, vulnerabilidade, liberdade emocional.
Me contou sobre Ricardo e Julio que associavam a dor a uma espécie de libertação emocional — como uma forma de expurgar culpas e sobre Nilton, que pedia para ela chamá-lo de júnior, enquanto pisava em seu testículo, como uma reprimenda infantil.
Juliana ficou fascinada e se transformou em uma deusa do sadismo — com responsabilidade. Os testículos são vulneráveis. Um erro pode causar danos, como ruptura testicular, torção testicular, hematomas profundos e até infertilidade irreversível. Por isso, ela criou o próprio método: conversa longa antes, entendimento do histórico médico, criação de palavras de segurança, progressão lenta, e, se houver sinal de risco — fim de sessão.
No fim das contas, descobriu nesse universo algo que nenhuma planilha jamais lhe deu: a sensação de poder tocar — não só corpos — mas partes muito profundas da alma de alguém.
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