Já pensou em sexo com outra pessoa permitido pelo par? Você não está só

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Quantos casais monogâmicos você conhece que, no fundo, já fantasiaram com alguma forma de liberdade sexual fora da relação? Uma pesquisa conduzida pelo psicólogo Justin Lehmiller no Instituto Kinsey mostrou que isso é mais comum do que se imagina.
O estudo investigou o universo das fantasias sobre não monogamia consensual (CNMRs, na sigla em inglês) em pessoas que estão em relacionamentos românticos monogâmicos.
Ao todo, 822 adultos participaram da pesquisa, e os resultados revelaram uma realidade muitas vezes escondida sob os lençóis da convenção social.
Quase um terço dos entrevistados disse que estar em algum tipo de relacionamento sexualmente aberto fazia parte de sua fantasia sexual favorita. Mais do que isso: 80% dessas pessoas afirmaram que gostariam de realizar essa fantasia no futuro. E entre os que efetivamente vivenciaram a experiência, quase todos (96,9%) disseram que foi tão boa quanto, ou ainda melhor do que, o esperado.
As formas mais comuns de fantasias não monogâmicas identificadas foram: relacionamentos abertos, poliamor, swing e cuckolding (quando um dos parceiros assiste o outro ter relações sexuais com uma terceira pessoa). Entre elas, os relacionamentos abertos lideram o ranking.
Mas afinal, por que pessoas que optaram conscientemente por um relacionamento monogâmico fantasiam com outras possibilidades?
Segundo a pesquisa, a resposta passa por duas ideias interessantes da psicologia.
A primeira é o chamado "Efeito Coolidge", que sugere que, com o tempo, a excitação sexual tende a diminuir com a mesma parceria, mas pode ser reativada por um novo estímulo.
A segunda é a Teoria da autoexpansão, que aponta para o desejo humano de crescer e explorar novas experiências para se desenvolver emocionalmente e sexualmente. Acrescento que o desejo de variação sexual, satisfação em se sentir desejado por outras pessoas e também pensar que seu/a parceiro/a é uma pessoa desejada e cheia de erotismo — nas fantasias que envolvem estar presente assistindo-a/o fazer sexo com outras pessoas — são formas comuns de autoexpansão e de regulação do erotismo no relacionamento conjugal.
Ter esse tipo de fantasia, portanto, não necessariamente significa que há algo errado com o relacionamento atual. Pode ser apenas uma expressão natural da busca por novidade, liberdade ou autoexploração. Muitas vezes, são pensamentos que ficam só na imaginação, mas que dizem muito sobre o que nos movimenta internamente.
Outro dado curioso é que, mesmo quando a fantasia envolvia apenas um dos parceiros vivendo a experiência com terceiros, a maioria das pessoas ainda desejava realizá-la de forma consensual.
Aliás, 60,8% dos participantes que tinham fantasias CNMR já haviam compartilhado isso com suas parcerias. E, surpreendentemente, 64,6% relataram que a reação foi positiva, enquanto apenas 19,8% relataram uma reação negativa. Isso mostra que, ao contrário do que se teme, abrir esse tipo de conversa pode aproximar ao invés de afastar.
Os dados também revelam que homens, pessoas não binárias, não heterossexuais e adultos mais velhos são os grupos que mais fantasiam com relações não monogâmicas. Também houve correlações com certos traços de personalidade, como abertura à experiência, erotofilia (afinidade com o erotismo), e com menor satisfação sexual e relacional.
Mais importante do que julgar o conteúdo dessas fantasias é entendê-las como oportunidades de autoconhecimento e diálogo. Muitas vezes, abrir espaço para conversas francas sobre desejos pode fortalecer o vínculo entre o casal, criando cumplicidade e evitando que a curiosidade vire culpa ou distanciamento.
Fantasias são como janelas internas. Nem sempre abrimos, nem sempre queremos atravessar, mas saber que elas estão lá pode nos ajudar a ventilar a alma e arejar relações que, por vezes, sufocam sob o peso de silêncios e expectativas não ditas.
Relacionamentos não monogâmicos, para alguns casais, podem se tornar uma possibilidade concreta para lidar com o dilema do desejo por outras pessoas.
No entanto, para aqueles que cresceram com um aprendizado mais rígido sobre o que é ser fiel ou amar alguém, explorar essas fantasias na prática pode ser desafiador, até doloroso.
Para muitos, a concretização delas pode se limitar a uma ou outra experiência esporádica, sem a intenção de mudar a estrutura do relacionamento.
Ainda assim, só o fato de refletir sobre essas possibilidades já pode trazer alívio, curiosidade e até reaproximação. No fim das contas, pensar sobre o que nos excita é também pensar sobre quem somos. E talvez esse seja o tipo mais valente de honestidade: aquela que começa com a gente mesmo.
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