Dor e prazer, mas também transparência e sensibilidade devem ditar BDSM

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As interações no universo BDSM demandam uma reflexão mais aprofundada sobre os limites entre dor e prazer, bem como sobre a vulnerabilidade inerente às partes envolvidas, mesmo com a existência de regras e palavras de segurança (safewords).
Transparência e sensibilidade são elementos cruciais para garantir que as dinâmicas de dominação e submissão permaneçam saudáveis, exigindo que ambas as partes possuam autoconhecimento e confiança na capacidade do parceiro dominante de respeitar fronteiras.
BDSM é uma sigla que abrange práticas eróticas variadas, como amarrações (bondage), disciplina, dominação e submissão, e sadomasoquismo.
Consentimento é a pedra angular dessas práticas, mas a sua complexidade é ampliada em relação às interações "baunilha" (relações sexuais tradicionais e sem fetiches).
No BDSM, aceitar algo que não corresponde exatamente ao seu desejo pode ser parte do fetiche do submisso, obscurecendo os limites pessoais. Um submisso pode, por exemplo, suportar mais do que gostaria, não por desejo autêntico, mas para corresponder à "performance" esperada.
Ademais, a mistura de dor e prazer, impulsionada pela adrenalina e endorfina liberadas durante as práticas, pode levar o corpo a ultrapassar seus limites - uma dinâmica comparável ao que ocorre com atletas em competições de alta performance.
É essencial que o consentimento seja constantemente revisitado e compreendido em sua profundidade. Motivações como dependência emocional, manipulação ou inseguranças podem transformar relações saudáveis em dinâmicas tóxicas ou abusivas.
Um exemplo extremo disso foi o caso do escritor britânico Neil Gaiman, acusado por diversas mulheres de forçar relações sexuais com violência e coerção.
Quando medos ou sentimento de culpa dificultam dizer "não", o consentimento perde seu caráter genuíno. Uma instabilidade emocional pode transformar o jogo em algo destrutivo, com riscos graves para a integridade física e mental.
Para iniciantes nas práticas de dominação e submissão, ir com calma, ser honesto e estar atento às próprias reações é fundamental. Na teoria, tudo pode parecer simples, mas a experiência real pode ser muito diferente, especialmente porque as referências da pornografia tendem a distorcer as expectativas.
Como comentou uma praticante: "Você só vai descobrir se bondage é para você, quando for amarrado". Esse processo de descoberta deve ser gradual, e a parte dominante precisa ter experiência, conhecimento técnico e cuidado com as palavras usadas para estimular a submissão. Comentários como "Não aguenta, é?" podem gerar sentimentos de insuficiência no submisso, agravando inseguranças e prejudicando a dinâmica.
Usar uma palavra de segurança não deve jamais ser interpretado como fraqueza ou desmerecimento. Por outro lado, o dominante também tem o direito de estabelecer limites, recusando práticas que não deseja realizar, sem que isso afete sua posição na relação.
Caminhos para aprimorar o consentimento incluem o uso de safewords intermediárias para indicar desconforto crescente, substituição de práticas mais dolorosas por outras e a compreensão sobre quais áreas do corpo são mais seguras para intervenções.
Vale lembrar que, mesmo no sexo "baunilha", elementos de submissão e dominação aparecem de forma instintiva e menos estruturada. Práticas como amarrar, bater, usar linguagem de subjugamento ou xingamentos muitas vezes ocorrem sem reflexão sobre intensidade ou impacto emocional.
Assim, há muito o que aprender antes de se aventurar no BDSM ou em qualquer dinâmica que envolva submissão. Saber dizer "não", de forma clara e segura, é uma condição indispensável para qualquer relação verdadeiramente consensual.
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