Ela ama a parceira, mas não quer sexo: o que fazer no desencontro?

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Laura e Mônica estão juntas há sete anos. Uma parceria daquelas que faz inveja a quem olha de fora: afeto cotidiano, companheirismo sem falhas, planos divididos com naturalidade. Mônica é caseira, tranquila, amorosa. Gosta de noites silenciosas e de cafés longos na varanda. Laura, por outro lado, é puro movimento. Sociável, curiosa, cheia de energia.
Elas se amam. Muito. Mas isso não tem sido suficiente. Laura aprendeu a valorizar o amor, a acreditar que ele é o alicerce de tudo. E talvez seja mesmo. Só que esse mesmo amor tem sido usado como argumento para silenciar uma parte sua que grita: o corpo. A vontade. A curiosidade.
Ela sente falta de sexo, do encontro dos corpos, dos orgasmos obtidos pelas mãos e línguas de outras pessoas, de ser desejada e desejar.
Mônica nunca foi muito ligada em sexo. Não sente falta, não faz questão. E Laura, que já tentou se convencer de que isso era apenas um detalhe, hoje vive em silêncio com um dilema íntimo: como continuar num relacionamento onde há tanto afeto, mas tão pouco desejo?
Durante muito tempo, ela engoliu essa ausência como quem toma água demais. Lembrei-me de uma frase da escritora catalã Eva Baltasar no livro Boulder: "A vida pode não te agradar, mas ser inócua, como o cloro que você engole com água".
Penso que a vida, às vezes, está assim: morna, translúcida, sem cheiro, sem gosto. Não é boa, não é ruim — apenas continua. E a gente engole.
Tem dias em que se olha ao redor e tudo parece limpo demais, seguro demais, calmo demais. Não porque esteja bem, mas porque não há nada ali que exija fuga. Nenhum incêndio, nenhum abismo. Só o cloro — aquele leve incômodo que não assusta, mas também nunca some.
E então a gente vai ficando. Vai bebendo essa água porque é o que tem, porque mata a sede, porque... não mata. E com o tempo, acostuma-se. O estranho vira normal. O amargo vira tolerável. O insípido ganha ares de rotina.
O perigo não está no que nos fere — mas no que não fere o suficiente. No que deixa a alma meio adormecida, meio desperta. Um lugar onde não se sofre, mas também não se vive de verdade.
É aí que mora a armadilha: quando a vida não agrada, mas também não dói. Quando ela não pulsa, só persiste. E a gente engole.
Em seu processo terapêutico, Laura se deu conta que o amor, por mais lindo que fosse, não podia ser prisão. E o desejo não era um capricho — era uma parte legítima de quem ela era. Negar as necessidades do corpo em detrimento a bondade da alma não estava dando certo.
Acenou para Mônica a vontade de experimentar outro arranjo conjugal, onde pudesse dar vazão a sua necessidade de seduzir, fazer sexo, se aventurar. Entre lágrimas e silêncios, decidiram tentar o novo, não por falta de amor — mas porque era justamente o amor o único que permitiria essa ousadia.
Laura e Mônica estão nesse momento em que a gente percebe que, em se tratando de relações afetivas, nada é garantido. Ou se testa os limites, ou se mata as vontades. Pode ser que funcione, pode ser que não.
Mas uma coisa é certa: Laura não quer mais viver uma vida sem frisson. E Mônica, que também teme a perda, está disposta a trocar a angústia do dilema pelo aprendizado da permissão.
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