Anna, Bonobo e até Senna brilham na primeira noite de Tomorrowland
Com quase 20 anos de história, o festival belga Tomorrowland mostrou na noite desta sexta-feira (11), em Itu (interior de SP), que a maturidade só chega mesmo com o tempo. A edição brasileira do festival mais icônico da música eletrônica mundial ocupou pela quinta vez o Parque Maeda trazendo mais diversidade musical e um olhar mais cuidadoso para equidade de gênero, com 24% de mulheres compondo o line-up de artistas em seus cinco palcos.
Se ainda são minoria, as mulheres têm deixado claro que seu lugar é atrás da cabine de DJ comandando o som. Exemplo disso foi o set da brasileira ANNA, uma das estrelas da noite de sexta, que assinou seu nome no suntuoso Adscendo Mainstage com uma seleção de músicas carregadas de emoção, com direito a brasilidades, como a clássica "Magalenha", de Sergio Mendes e Carlinhos, num edit assinado por ela. Um momento de explosão de orgulho da nossa titular brasileira dos toca-discos, reforçado pela imponência do palco principal, construído no formato de um castelo medieval ornamentado com um enorme pássaro de asas abertas.
Senna
Fazendo uma mistura de techno melódico com faixas inspiradas por sua busca por sons mais introspectivos e espirituais, ANNA deixou claro que é um dos maiores talentos da cena eletrônica da atualidade, entregando o palcão para Armin Van Buuren, conhecido por ter construído uma trajetória de sucesso no trance.
O holandês emocionou o público que esperava um som mais comercial, com direito a várias homenagens ao Brasil, como o momento em que Buuren convidou seu "grande amigo" Alok para o palco para tocarem juntos uma música composta pelos dois, sem falar no tributo a Ayrton Senna.
Iluminado com as cores da bandeira nacional, o palco foi preenchido com samples de entrevistas do piloto, que foram usados na faixa "Racing Spirit", composta por Buuren e que integra o álbum "Senna Driven", com diversos DJs e produtores do mundo todo fazendo um tributo a Senna.
Família Petrillo
Além de estrelar o set do amigo holandês, Alok também estava presente no palco Freedom, prestigiando o set do irmão gêmeo, Bhaskar. A família toda, aliás, marcou presença nesta sexta no Tomorrowland Brasil, com direito a um set back2back (termo usado quando dois DJs tocam juntos) dos pais de Alok, os DJs Ekanta e Swarup, que se apresentaram no palco Youphoria, mais voltado para o trance.
A história do goiano Alok, aliás, tem muita sinergia com a evolução do Tomorrowland. Na primeira edição nacional do festival belga, Alok se apresentava como um talento nacional em ascensão, antes ainda de seu primeiro hit, "Hear Me Now", explodir no mundo. Na época, o palco do festival não lembrava em nada a grandiosidade do novo Adscendo, que levou mais de dois anos para ser concebido, medindo 43 metros de altura e 160 metros de largura, com um total de 230 alto-falantes.
Nos quase 10 anos que separam a primeira edição do Tomorrowland Brasil desta atual, a cena eletrônica nacional ganhou força e capilaridade, e os DJs deixaram de ser meros coadjuvantes em festivais, passando a ocupar horários nobres em grandes eventos para além da eletrônica.
Choveu, mas tudo bem
A sensação de maior mobilidade entre os palcos não foi apenas impressão. O público foi realmente menor do que em outras edições, caindo de 60 mil para 52 mil pessoas por dia, sendo 12 mil participantes do camping Dreamville.
A temida chuva, que no ano passado causou enormes danos ao festival, cancelando, inclusive, um dos dias do evento, se fez presente. Por volta das 18h, um forte vendaval assolou o festival, seguindo de uma chuva forte que durou pouco mais de uma hora. Graças aos investimentos feitos como pavimentação e aplicação de piso plástico nos acessos aos palcos, a lama que se formou não chegou a estragar a festa. Além disso, um novo e enorme palco, o Freedom, foi totalmente coberto, entregando uma atmosfera de clubão ao festival, com uma boa programação de DJs de house e tech-house, que encerrou o dia com um set do alemão Boris Brejcha.
Fadas e gnomos
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Quero receberPara além da música eletrônica e dos DJs, o Tomorrowland é conhecido pela sua narrativa onírica, onde do nada você poderá cruzar com fadas, gnomos e muita gente fantasiada performando pelo festival. Essa estética tem fundamento no início da cultura das raves, quando performers como malabaristas, cuspidores de fogo e dançarinas se misturavam ao público ou ocupavam os palcos.
No Tomorrowland, essa atmosfera de sonho é elevada à máxima potência, com altos investimentos em fantasias, cenografia, efeitos especiais e logotipia, que impactam os participantes desde a forma como os textos são escritos até a concepção dos palcos. Tudo conspira para que o evento ganhe uma vibe de Disney dos festeiros. Uma vibe "Senhor dos Anéis" da música eletrônica.
Cabeça rachada
Para quem busca mergulhos mais profundos na música eletrônica mais conceitual, a estreia do palco Core foi um alento. Alinhado com um momento mais maduro da produção musical de techno e house, o palco Core estreou no Tomorrowland Brasil trazendo DJs com pegada mais underground.
Nesta sexta, o line-up teve brasileiros icônicos da cena, como DJ Due e Gop Tun DJs, até os ingleses Eliza Rose e Bonobo. Nas mãos desse último, o palco virou um grande playground para experimentos que expandiram as mentes de quem estava por lá, criando uma bela analogia com a cenografia do palco, que trazia uma cabeça "rachada" em duas partes, com um enorme telão de led no centro. Para quem busca uma imersão multissensorial aliada a um belo espetáculo audiovisual, este é o palco.
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