Isabel Gueron: de dublê de Fernanda Torres aos amores e perrengues do palco
Isabel Gueron, 49, é a minha entrevistada dessa semana, e o assunto tem tudo a ver com um pensamento que eu tenho há muito tempo sobre a vida dos artistas, por trás desse glamour todo que eles exibem.
Ela apareceu pela primeira vez na televisão em 1999, em "Andando Nas Nuvens", novela da Globo, que tinha no elenco Marco Nanini, Mariana Ximenes, Caio Blat, entre outros. Porém, sua participação não rendeu uma carreira televisa e ela focou o teatro e o cinema —tanto que Isabel ganhou o Kikito de melhor atriz em 2001, por seu trabalho em "Bufo & Spallanzani". Não foi sua escolha não continuar na televisão, ela explica que "uma coisa foi levando a outra" e que não pegou contratos longos ou trabalhos longos em novelas.
"Acho que pela época, o prêmio foi como um... Foi como se me dissesse: 'Vai em frente'. Segue, que esse é o seu caminho. Um incentivo nesse sentido", afirmou a atriz sobre ter ganhado o Kikito, em Gramado, aos 24 anos.
Isabel conta que o prêmio lhe ajudou a ser respeitada em sua profissão: "Me sinto uma pessoa muito benquista e muito respeitada pela minha classe. E isso, realmente, é muito precioso. É muito precioso, porque são essas as pessoas que convivem comigo, são as pessoas com quem eu trabalho".
Uma curiosidade... Ainda em 1999, Isabel atuou como dublê de Fernanda Torres —que está sendo aclamada mundialmente—, no filme "Gêmeas", e conta que foi uma experiência incrível e que ajudou muito em sua construção como atriz.
"Eu era uma atriz começando e fui jogada naquele set de filmagem, ainda sem o compromisso de mostrar serviço, porque eu não ia aparecer no filme, mas aprendendo muito de perto. A Fernanda já tinha ganhado o prêmio em Cannes (em 1986), então ela já era a 'Fernanda Torres', já era aquela pessoa que eu tinha visto fazer aqueles filmes todos".

Sua paixão pela interpretação começou quando Isabel ainda era muito nova, quando ia assistir a peças de teatro acompanhada de sua mãe e não se encantava somente com as histórias, mas com os bastidores, em como os atores se ajudavam, em como eles recebiam o público no fim da peça e, foi aí, que decidiu que era com isso que gostaria de trabalhar. Começou a fazer teatro e, com a maioridade, fez faculdade de artes cênicas na Unirio e não saiu mais desse ramo.
"Eu me lembro de uma vez em que estava vendo um musical e que teve um número de coreografia. Durante esse número, uma das atrizes deixou cair um acessório da roupa. Logo, ela saiu de cena e entrou um outro grupo para uma outra coreografia e alguém pegou aquele acessório e resolveu o problema para ela. E eu pensei: quero fazer isso, um trabalho em que um está sempre ajudando o outro, é uma coisa de um trabalho em conjunto que é muito explícito"
Foi a faculdade que a ajudou a entrar para o elenco da novela em 1999. Enquanto estudava, ela participava de muitos comerciais e, após sua formação, entrou na oficina de atores da Rede Globo, "entrando no radar" da emissora e entrou na trama para fazer parte de um triângulo amoroso entre Caio Blat e Mariana Ximenes. "Andando Nas Nuvens" foi reprisada pelo Canal Viva no ano passado.
Na última quinta-feira (9), Isabel estreou a peça "Entressafra", que fala exatamente sobre a vida por trás do glamour de ser artista, sobre uma atriz que precisa se equilibrar entre um trabalho e outro. O monólogo é uma comédia dramática baseada em seu livro homônimo.
"Como é que os atores vivem da profissão? Essa é uma angústia constante, que a gente precisa aprender a lidar desde o início, porque vivemos num mercado em que a gente não tem domínio, principalmente TV e cinema, porque o teatro não nos abandona. O teatro tem uma coisa que a gente consegue fazer com as nossas próprias mãos, mas ele nem sempre consegue sustentar a nossa vida".

Durante a peça, Isabela fica sozinha no palco, vivendo diferentes situações cotidiana, como uma reunião de pais na escola dos filhos, a descoberta de que precisa trocar os óculos, a venda do carro que descortinou, o trajeto do ônibus e outras experiências e reflexões.
Inclusive, sua experiência pessoal ajudou bastante na construção de seu livro e da peça, já que entre as "entressafras" da vida, como um pouco antes da pandemia de covid-19, ela entrou no mundo dos audiolivros, narrando livros, desde o prefácio até os agradecimentos, fazendo todas as vozes e todos os personagens. Durante a pandemia, ela continuou fazendo, em casa, onde montou um pequeno estúdio. "No começo, eu mesma falava: 'Que pessoa vai ouvir um livro em vez de ler?' Eu tinha uma leitura um pouco preconceituosa em relação a isso, mas, depois eu entendi", afirma.
Isabel conta ainda que, devido à insegurança entre um trabalho e outro, já pensou pensou em desistir da profissão, mas não conseguiu. "E fiquei angustiada por não conseguir desistir daquilo e procurar uma outra coisa, sabe? É realmente uma relação muito... Nem sei explicar. Para mim, é muito difícil. Às vezes, eu fico brava comigo e falo: 'Pô, que saco! Que romantismo! Vai fazer outra coisa, vamos arrumar um emprego!'. Mas não consigo. Não consigo."
"Mas tem também uma coisa muito curiosa, que o inesperado, ele está sempre presente na profissão do artista. Então, a sensação que eu tenho é que isso é que me segura. De vez em quando acontece uma coisa muito bonita. Eu, às vezes, vivo momentos muito preciosos. É como se fosse uma esperança, sempre. Fica guardada ali. Tem um inesperado. Assim, parece que eu tenho sempre algum lugar ainda novo para conhecer, sabe? No sentido artístico".
"Entressafra"
Onde: Espaço Abu, na av. Nossa Senhora de Copacabana, 249, no Rio de Janeiro
Quando: De quinta à domingo, às 20h, até 2 de fevereiro
Quanto: R$ 60 (inteira) | R$ 30 (meia) - compras aqui.
Classificação: 12 anos
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