Navio mais estranho do mundo é salvo do desmanche no último instante

Era o fim do mais extraordinário navio da história - uma peculiar embarcação que, mudava da posição horizontal para a vertical e virava uma espécie de torre fincada no mar, a fim de permitir aos cientistas o estudo in loco dos oceanos, realizando pesquisas que iam da medição de intensidade das correntes marítimas ao significado do canto das baleias.

Mas não.

No meio da sua última viagem, o destino daquele curioso navio que afundava e voltava, mudou completamente: em vez de ser demolido no México, ele passou a ser levado para uma reforma completa na Europa.

Com isso, ganhou uma nova vida.

Com num filme de ação

Quem estava por trás daquela reviravolta digna de um filme de ação eram os dirigentes da Deep, uma empresa inglesa dedicada a criar maneiras de as pessoas viverem debaixo d´água, em módulos submarinos tecnológicos.

Tal qual os ex-técnicos e tripulantes do Flip, a diretoria da Deep ficou tocada com a decisão de desmanchar aquele peculiar navio, único do mundo no gênero, e despachou, uma equipe para o México, a fim de deter o processo de demolição do Flip.

Em seguida, comprou o navio o redirecionou para um estaleiro em Barcelona, onde agora ele será reformado e modernizado, a fim de servir de suporte aos planos da empresa de construir módulos submersos habitáveis.

"O Flip nasceu da audácia de um grupo de engenheiros, que ousou construir um navio que afundava de propósito. E a nossa missão é tão ousada quanto aquela: permitir aos humanos habitar o mar", explicou a CEO da empresa, Kristen Tertoole, ao anunciar a surpreendente reviravolta no destino do navio mais original do mundo.

Engenharia e ousadia

A decisão foi festejada por todos. Até pelos engenheiros que haviam, a contragosto, determinado o fim operacional do navio, no ano passado.

"Ainda bem que salvaram o Flip a tempo", comemorou o responsável pelo Departamento de Pesquisa Naval da Marinha americana, Tom Drake. "O desmanche dele representaria o fim de uma era da indústria naval, na qual a engenharia se uniu à ousadia".

A reforma do Flip, que começará em breve, levará cerca de um ano e meio, e a estimativa é que ele volte a impressionar as pessoas com seu jeito estranho de atuar em 2026, quando, então, já terá quase três quartos de século de existência, o que não deixa de ser outro detalhe impressionante.

Como ele afunda e volta?

O Flip foi criado no final da década de 1950 por dois geniais engenheiros americanos, e inaugurado (com certa desconfiança) em 1962, para atuar em pesquisas oceânicas.

Com um simples comando, o mar passava a invadir a parte frontal do casco (um grande cilindro oco, repleto de válvulas e compartimentos), e, com o peso da água entrando, o Flip começava a erguer a popa e mergulhar gradativamente no oceano.

Minutos depois, o navio ficava espetado no mar, totalmente na vertical, só com a popa fora d´água, feito um periscópio.

Para voltar à posição normal, bastava fazer o processo inverso, injetando ar comprimido no interior do casco - que, gradativamente, retornava à superfície.

Vaso sanitário na parede

Era um prodígio da indústria naval, especialmente pelas soluções originais que continha, como anteparas internas que giravam junto com o casco e certas peculiaridades, como dois vasos sanitários em cada banheiro, sendo que um ficava no chão e outro na parede - clique aqui para conhecer outras curiosidades deste interessante navio, que tão diferente acabou sendo salvo do desmanche em um inesperado lance no último instante.

Jorge de Souza estará hoje à noite, a partir das 19h, no podcast Inteligência Ltda, contando casos do seu novo livro Histórias do Mar - Volume 3. Acesse pelo link
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