Histórias do Mar

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Mais famoso transatlântico dos EUA faz a última viagem. Para o fundo do mar

Na quarta-feira da semana passada, o mais famoso navio transatlântico da história dos Estados Unidos, o SS United States, desativado 56 anos atrás - e desde então parado no porto americano da Filadélfia - iniciou sua última viagem.

Agora, rumo ao fundo do mar.

Naquela ocasião, diante de uma plateia de saudosos ex-passageiros e admiradores de um navio que marcou época na história marítima dos Estados Unidos, o SS United States deixou lentamente aquele porto da Pensilvânia puxado por um comboio de rebocadores, com destino ao litoral do condado de Okaloosa, na Flórida, onde será propositalmente afundado no ano que vem, a fim de virar atração turística para mergulhadores.

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Imagem: Wikipedia

Até lá, o garboso ex-transatlântico passará por um processo de limpeza e retirada de poluentes, o que será feito em um estaleiro da cidade de Destin, diante da qual ele será afundado mais tarde.

O objetivo é transformar o navio no maior recife artificial do mundo, já que ele tem quase 300 metros de comprimento, e atrair vida marinha para o mar da região - além de turistas mergulhadores.

Também será criado um museu na cidade, com equipamentos retirados do navio e narrando sua história, para os turistas regulares.

Duas semanas para chegar lá

A operação de transporte do transatlântico até a Florida é complexa e cara. Foi orçada em quase US$ 7 milhões (R$ 40 milhões), e levará cerca de duas semanas para ser finalizada, dependendo das condições do mar para a navegação do comboio.

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Mas a previsão é que o investimento, feito pelo governo do condado de Okaloosa, que também comprou o navio por US$ 1 milhão (R$ 5,8 milhões), renda sete vezes mais ao longo dos anos, já que, de acordo com um estudo da Universidade da Flórida, cada dólar gasto na construção de recifes artificiais marinhos gera sete dólares em benefícios econômicos para a economia da região onde eles são instalados, na forma de despesas dos visitantes em hotéis, restaurantes e empresas de mergulho.

A fim de permitir a visitação de mergulhadores de todos os níveis de habilidade, de iniciantes a avançados, o SS United States será afundado em local de baixa profundidade, bem perto da costa, a cerca de 25 milhas da praia da cidade de Destin - que, com isso, espera se tornar uma espécie de Meca para os mergulhadores no futuro.

Fim de uma longa novela

O início da última viagem do SS United States marca também o fim de uma novela que vem se arrastando há mais três anos, desde que a empresa proprietária do pier no qual ele estava atracado há décadas na Filadélfia entrou com uma ação de despejo contra a proprietária do navio, a organização não governamental SS United States Conservancy, gerida pela americana Susan Gibbs, neta do projetista do próprio transatlântico, William Francis Gibbs (uma espécie de Oscar Niemeyer da indústria naval americana do início do século passado), pelo não pagamento dos aluguéis pendentes.

Sem recursos para quitar a dívida e sem interessados em transformar o navio em um museu a céu aberto, como era o seu desejo, Susan Gibbs decidiu vender o navio para que ele seja afundado e vire uma atração turística submersa, além de estimular a vida marinha no mar da região.

"Acho que será um bom último capítulo para a história de um dos mais emblemáticos navios da história marítima dos Estados Unidos", disse Susan, ao aceitar a proposta.

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Imagem: Divulgação/United States Conservancy

Recordista até hoje

Apelidado The Big Ship ("O Grande Navio", com capacidade de transportar perto de 2.000 passageiros, metade deles em Primeira Classe), o SS United States foi lançado em 1951 e navegou até 1969, quando o crescimento do transporte aéreo entre Europa e Estados Unidos - e a diminuição paulatina na quantidade de pessoas interessadas em fazer aquela longa viagem pelo mar -, forçou a sua aposentadoria.

Para os americanos, a importância histórica do SS United States vem do fato de que, além de ter sido o primeiro grande transatlântico de alto luxo construído nos Estados Unidos - e motivo de orgulho para a engenharia naval do país na época -, ele é detentor, até hoje, de um recorde conquistado 72 anos atrás, e jamais batido.

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Imagem: Divulgação/United States Conservancy

Logo na sua viagem inaugural, em 1952, o SS United States quebrou o recorde da travessia do Atlântico Norte, cruzando o oceano a uma velocidade média de 66 km/h - marca impressionante mesmo para os dias atuais.

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O feito lhe rendeu o direito de usar a Blue Riband, a "Fita Azul", um prêmio criado no início do século passado, para ser concedido ao navio de passageiros que atravessasse o Atlântico com a maior média horária de velocidade...

Como o SS United States foi um dos últimos transatlânticos a operar a rota regular entre a Europa e os Estados Unidos - e como, a partir dos anos 1960, as viagens marítimas entraram em franco declínio -, ele acabou ficando com o recorde da maior velocidade média daquela travessia para sempre.

Com isso, mantém até hoje a posse da Blue Riband, a mais alta honraria que um navio poderia receber por sua eficiência - um prêmio que, durante décadas, rendeu uma vibrante disputa entre as grandes empresas marítimas, com enormes transatlânticos participando de uma improvável corrida de navios em pleno oceano, como pode ser conferido clicando aqui.

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Texto que relata acontecimentos, baseado em fatos e dados observados ou verificados diretamente pelo jornalista ou obtidos pelo acesso a fontes jornalísticas reconhecidas e confiáveis.

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