Histórias do Mar

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Reportagem

Homem que vive com sete cachorros num barco comove bairro do Rio de Janeiro

Os frequentadores do bairro carioca da Urca já se habituaram a ver uma cena tão frequente quanto curiosa: um homem remando um barquinho todo remendado até a margem de um pedaço de mar conhecido como Quadrado, trazendo com ele sete vira-latas - ou seis, já que um deles sempre prefere ir nadando atrás do barco.

O objetivo é que os animais façam as suas necessidades e se exercitem um pouco em terra firme, já que todos aqueles sete cachorros moram com ele em um precário barco, sem motor nem energia elétrica, e com o casco igualmente caindo aos pedaços, permanentemente ancorado a pouca distância da margem do Quadrado.

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Imagem: Reprodução

É nele que o marceneiro Alexandro de Oliveira, mais conhecido como Alex, de 50 anos de idade, vive com aqueles sete vira-latas - os "Sete Marinheiros", como os animais foram apelidados pelos moradores do bairro, já que eles também vivem sobre a água.

Uma cena com os dias contados

Só que, se tudo der certo, aquela cena de Alex remando com sete cachorros no barco, que tanto desperta a curiosidade dos moradores do bairro, pode estar com os dias contados.

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É que, depois de muitas conversas, uma ONG local de adoção de animais, a Urcapets, convenceu Alex a ceder os seus sete animais para adoção. E até criou um vídeo para divulgar a campanha.

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A adoção tem uma condição

Mas as adoções dos vira-latas do barqueiro Alex têm uma condição: a de que os animais permaneçam no próprio bairro, ou ali perto, para que possam ser visitados com frequência por ele, que tem aqueles cachorros como seus únicos companheiros.

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"Claro que o ideal seria deixar como está, porque o Senhor Alex ama aqueles cachorros e só quer o bem deles. Mas as condições do barco onde eles moram é muito precária, mesmo para os animais", explica Raquel Quelps, dona da ideia da adoção dos "Sete Marinheiros" por moradores do bairro, e responsável pela Urcapets, que cuida de cachorros de rua da região.

"Além disso, queremos ajudar o Senhor Alex a melhorar as condições do barco onde ele mora, para que ele e os animais que permanecerem com ele possam viver um pouco melhor", diz Raquel, autora também da ideia de criar uma vaquinha na internet (que pode ser acessada clicando aqui), a fim de coletar doações para uma reforma no barco que serve de casa para o marceneiro e os seus sete vira-latas "marinheiros".

"No barco dele. tudo é muito precário", diz Raquel.

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Não tem nem fogão

O barco que, há anos, serve de moradia para o marceneiro Alexandro - uma velha traineira de pesca, que ele ganhou porque já não servia mais para navegar -, não tem motor, não sai do lugar, está com a madeira do casco podre, e precisa ser drenado, com um balde, algumas vezes por dia, para não afundar de vez.

Também não tem nenhum tipo de energia elétrica (à noite, Alex usa a proximidade com um poste de rua para tentar enxergar algo dentro do barco), nem mesmo fogão - para cozinhar, ele usa um fogareiro a carvão.

Deque para os cachorros

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Para dar algum "espaço" aos animais no barco, Alex construiu uma espécie de deque flutuante ao redor da traineira, com pedaços de tábuas, restos de madeira, pellets, engradados, toldos de barracas e lonas plásticas, apoiadas sobre boias.

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Alexandro de Oliveira
Alexandro de Oliveira Imagem: Reprodução

É ali que os animais passam boa parte do dia, para surpresa de quem passa de barco ao lado, ou pelas ruas ao redor do Quadrado, onde os cães "Sete Marinheiros" já viraram até atração turística.

Atração também na feira de adoção

Mas, aos domingos, os animais de Alex são recolhidos pelos voluntários da Urcapets e levados para uma feirinha de adoção de animais que acontece no bairro, onde, já relativamente famosos, despertam a mesma curiosidade.

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"Todo mundo quer conhecer os cães marinheiros", diz Raquel. "Mas, até agora, não conseguimos doar nenhum deles, embora estejam todos saudáveis, castrados, vacinados e vermifugados e sejam muito dóceis", lamenta.

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"Talvez, isso esteja acontecendo porque estejamos sendo bem criteriosos na escolha dos futuros tutores dos Sete Marinheiros, já que eles são cachorros com uma história, e muito bem tratados pelo Senhor Alex, dentro das possibilidades que ele tem, é claro", diz Raquel.

"Mas tenho esperanças de que tudo terminará bem, para ele e para os animais", diz a responsável pela campanha de adoção daqueles cachorros, que sempre viveram na água.

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Um deles até pesca

Os sete vira-latas que moram no precário barco de Alex (batizados de Dollar, Vitória, Golias, Mulatinha, Nega, Davi e Caramelo - este, com aquela curiosa predileção em nadar atrás do barquinho a remo, até a margem) foram resgatados das ruas pelo marceneiro ou fruto do cruzamento entre eles no barco, antes de serem castrados.

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"Cada um deles é de um jeito, e gosto de todos. Mas o meu preferido é o Caramelo, que pesca até peixe", diz Alexandro, já dividido entre a futura saudade que sentirá dos companheiros, quando eles forem adotados, e a consciência de que isso será melhor para eles.

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"Só não quero ficar longe deles, para poder, de vez em quando, matar a saudade", diz o marceneiro, que vive de trabalhos esporádicos que faz nos barcos da região, e que, também por isso, não tem como sustentar tantos animais.

Ainda mais no espaço acanhado de um barco, feito uma ilha improvisada.

Outro caso exemplar

A relação de amor que o marceneiro Alex tem pelos seus companheiros peludos é a mesma que já levou milhares de navegantes a terem animais de estimação a bordo de seus barcos.

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E com eles até empreender grandes travessias, mundo afora.

Um dos casos mais recentes - e comoventes - aconteceu um ano e meio atrás, quando o velejador australiano Tim Shaddock, de 51 anos, passou mais de dois meses à deriva no meio do Oceano Pacífico, por conta de uma tempestade que danificou o seu barco, na companhia apenas de uma vira-lata, que ela havia adotado, na rua, pouco antes de partir.

Apesar de praticamente não ter mais o que comer e beber, após tanto tempo à deriva no mar, o velejador dividiu o pouco que tinha com o animal, e ambos só foram salvos por um incrível golpe de sorte, daqueles que só costumam acontecer em filmes.

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Imagem: Reprodução

Mesmo assim, ao ser resgatado, a primeira decisão do australiano foi doar a cadela que lhe havia feito companhia durante todo aquele tempo a um dos socorristas, mas por um bom motivo, como pode ser conferido clicando aqui.

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Texto que relata acontecimentos, baseado em fatos e dados observados ou verificados diretamente pelo jornalista ou obtidos pelo acesso a fontes jornalísticas reconhecidas e confiáveis.

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