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Reportagem

80 anos depois, Marinha confirma naufrágio de navio que todo mundo já sabia

A Marinha do Brasil acaba de confirmar o que o mundo já sabe há mais de 80 anos: que o casco que jaz naufragado nas proximidades do Cabo São Tomé, entre as cidades de Macaé e Quissamã, na costa norte do litoral do Rio de Janeiro, é, de fato, o do navio de apoio Vital de Oliveira, da própria corporação, afundado pelo submarino alemão U-861 na noite de 19 de julho de 1944, durante a Segunda Guerra Mundial - o único navio militar brasileiro afundado pelos nazistas durante aquele conflito.

A confirmação de algo que é sabido há mais de oito décadas (primeiro, pelos relatos dos próprios sobreviventes do naufrágio, depois por pescadores e mergulhadores que encontraram o navio afundado e passaram a sua identificação e localização para a própria Marinha Brasileira, dez anos atrás) só veio agora, por conta de uma questão de ordem prática: a necessidade de uma comprovação inequívoca de que aquele naufrágio, que está a 50 metros de profundidade, a cerca de 65 quilômetros da costa do litoral norte do Rio de Janeiro, é realmente o do Navio-Auxiliar (NAp) Vital de Oliveira, o que, no entanto, ninguém nunca teve dúvidas.

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Imagem: Reprodução

Era preciso ter certeza

"Para fins científicos, era preciso ter uma confirmação cabal da identificação do navio, o que só foi possível agora, com a utilização de um navio de pesquisa equipado com modernos sonares e captadores de imagens", explica o capitão de corveta Daniel Gusmão, encarregado da pesquisa, cujo objetivo é alimentar o maior banco de dados de naufrágios da costa brasileira, o Atlas de Naufrágios de Interesse Histórico da Costa do Brasil, que vem sendo preparado pela Marinha do Brasil há anos.

"Até hoje, não tínhamos uma embarcação capaz de fazer isso com precisão. Mas, dias atrás, surgiu uma oportunidade e um navio de pesquisas foi enviado ao local, para comprovar a identidade do NAp Vital do Oliveira, afundando pelos nazistas na guerra. As imagens que ele colheu não deixam dúvidas de que se trata realmente daquele navio. Mas, ainda assim, é preciso esperar a comprovação 100% científica, através da análise detalhada das imagens", diz o militar.

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Dois navios com o mesmo nome

O curioso é que o navio que fez a identificação da embarcação naufragada possui o mesmo nome do navio que ele buscava: também se chama Vital de Oliveira, ambos em homenagem ao capitão-de-fragata Manoel Antonio Vital de Oliveira, patrono da hidrografia brasileira, que morreu na Guerra da Tríplice Aliança, também conhecida como "Guerra do Paraguai", em 1867 - e cujo nome já batizou três navios da Marinha do Brasil, todos ele, coincidentemente, com relevância histórica.

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Primeiro a dar a volta ao mundo

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O primeiro Vital de Oliveira, uma corveta lançada 12 anos após a morte do oficial que a batizou, ainda na fase da transição da navegação à vela para os motores a vapor, foi a primeira embarcação com bandeira brasileira a dar uma volta ao mundo navegando, entre os anos de 1879 e 1881, embora tenha voltado com 25 homens a menos, vítimas de beribéri, uma doença causada pela falta de vitamina B no organismo - clique aqui para ler esta interessante história.

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Fotografa o fundo do mar

Já o atual Vital de Oliveira é um moderno navio de pesquisas hidroceanográficas (NPqHo, na sigla da corporação) lançado dez anos atrás, que sempre que sua agenda permite é também usado pela Divisão de Arqueologia Subaquática, da Diretoria do Patrimônio Histórico e Documentação da Marinha, para documentar, com suas avançadas tecnologias de varreduras subaquáticas - que incluem um sonar lateral capaz de captar imagens detalhadas do fundo do mar, como a que serviu para comprovar a identidade do navio naufragado dias atrás -, naufrágios no fundo do mar.

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A partir destas imagens, agora será criado um modelo tridimensional do naufrágio, que ficará disponível no banco de dados do Atlas, na internet.

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Falha causou a tragédia

Já o segundo Vital de Oliveira - aquele que teve sua identidade só agora confirmada - foi o ex-cargueiro mercante Itaúba, transformado em navio militar de apoio da Marinha do Brasil na Segunda Guerra Mundial, posto a pique por aquele submarino nazista quando vinha de Natal para o Rio de Janeiro, com 250 marinheiros - dos quais 100 morreram no ataque.

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Foi a maior tragédia envolvendo um navio militar brasileiro naquele conflito, e só aconteceu por causa de uma absurda falha - nunca explicada - na escolta que o navio deveria ter tido naquela noite, como pode ser conferido clicando aqui.

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Texto que relata acontecimentos, baseado em fatos e dados observados ou verificados diretamente pelo jornalista ou obtidos pelo acesso a fontes jornalísticas reconhecidas e confiáveis.

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