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Vitor Guedes

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

10 lições que a seleção brasileira pode aprender com o título argentino

Lionel Scaloni, técnico da Argentina, fez a diferença e ofereceu as condições para a consagração de Messi - Carl Recine/Reuters
Lionel Scaloni, técnico da Argentina, fez a diferença e ofereceu as condições para a consagração de Messi Imagem: Carl Recine/Reuters

Colunista do UOL

20/12/2022 04h00

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O merecido título da Argentina no Qatar ensinou algumas lições e reiterou outros pontos que sempre foram óbvios e que devem ser considerados caso o Brasil queira, em 2026, lutar à vera para colocar fim ao jejum que no próximo Mundial será de 24 anos:

1) Treinador faz toda a diferença no futebol contemporâneo. Técnico sempre foi importante, mas hoje é ainda muito mais importante do que era nos anos de ouro do futebol brasileiro, no século passado. E, 20 anos após 2002, ano da última conquista verde-amarela, é evidente que só ter bons jogadores não é suficiente para ser campeão. Messi é craque, ainda joga muito, mas está longe do seu auge e só fez a diferença em 2022, como nunca tinha feito antes para a Argentina, porque Lionel Scaloni fez um grande trabalho, não ficou preso em "processos" inúteis nem refém ao "ciclo" e mexeu jogo a jogo na equipe, oferecendo a melhor estratégia e os melhores coadjuvantes para o melhor jogador deste século!

2) Os problemas do futebol brasileiro, como um todo, são muito mais graves e complicados do que os problemas da seleção brasileira. O nosso dia a dia precisa de dinheiro e melhorar a estrutura, o calendário, a arbitragem, a formação e resgatar a credibilidade. Seleção? A CBF, por incrível que pareça, não é pior que a AFA, a "CBF argentina". Com todos esses problemas estruturais, administrativos, financeiros e políticos, que atrapalham os nossos clubes, a seleção brasileira teria ido mais longe se tivesse um treinador que fizesse diferença. Tite, que falhou nas duas Copas e morreu abraçado aos "processos", não se mostrou à altura do Mundial, mas é, disparado, o melhor treinador brasileiro. Repito, disparado. Imagine os outros... Ou alguém acha que com Renato Gaúcho ou Fernando Diniz, que nunca ganhou nada, o destino seria melhor? O Brasil não tem menos jogadores nem menos organização do que Argentina, Croácia e Marrocos. Mas não forma treinadores! E o tal curso da CBF é uma bica! Voltando a questão do treinador, que não tem nada a ver com estrutura, projeto e cartolagem: o Brasil começou e terminou a Copa do Mundo com Rodrygo no banco e Raphinha em campo e quando precisou de um lateral olhou para o banco e tinha o Vovô Olímpico Daniel Tantã Alves.

3) Se posse de bola servisse para alguma coisa, a Espanha (que passou vergonha e foi eliminado nas oitavas por Marrocos depois de ter apanhado do Japão na fase de grupos) teria sido campeã mundial. A Argentina? Teria caído já nas quartas, para a Holanda, quando "perdeu" a posse de bola (52% ou 48%) , ou, na melhor das hipóteses, teria sido despachada na semifinal pela Croácia, quando foi "humilhada" na supimpa posse de bola (61%a 39%).

4) Torcida não ganha sozinha, mas faz muita diferença no futebol. Muita. Muita mesmo. A Argentina não teria sido campeã e Marrocos não seria o primeiro africano semifinalista da história se não fosse pelo decisivo apoio da arquibancada. A CBF e os seus patrocinadores, que adoram fazer média com cartolas, políticos e 'influencers", teria muito mais resultado prático se bancasse ou intermediasse patrocinadores para torcedores de verdade, gente que está acostumado a viver arquibancada e que sabe a diferença entre futebol e festival sertanejo.

5) Futebol, especialmente o de seleções, também é uma questão de alma e pertencimento. É impossível para um argentino ver a entrega de seus jogadores (e ex-jogadores e ídolos presentes nas arquibancadas) e não se sentir representado por sua seleção. No caso do Brasil, é exatamente o oposto, a antítese da alma argentina. Não há na postura, nos posicionamentos e nas declarações nada que aproxime a seleção brasileira (ex-idolos vips inclusos) da realidade do povo brasileiro.

6) Os jogadores brasileiros, na imensa maioria dos casos, jogam em times melhores e ocupam posições de mais destaque que os argentinos. No entanto, o futebol de clubes não tem nada a ver com o de seleção. O Di Maria da Argentina é maior que o Di Maria dos clubes, o De Paul da Argentina é melhor que do Atlético de Madrid... E o Alisson, que, no Liverpool, chegou a ser eleito o melhor do mundo e ainda ocupa o status de um dos melhores, não fez a defesa que precisava nem contra a Bélgica, na Rússia, nem contra a Croácia, no Qatar. Repito, joga no Liverppol. Com muito mais valor de mercado e destaque que Emiliano Martínez, do Aston Villa, o melhor arqueiro da Copa, com direito a vencer duas disputas de pênaltis, contra Holanda e França. Alisson? Nem viu a cor da bola contra a Croácia. O Brasil não é o Liverpool. À Argentina, não importa o tamanho do Aston Villa, mas o Martínez da Argentina!

7) A Argentina mudou para muito melhor quando Enzo Fernández e Julián Álavarez, que até o meio deste ano eram atletas do River Plate, ganharam a posição. A Croácia, que eliminou o Brasil, tem quase um terço dos seus jogadores atuando no próprio país. Tite não levou jogadores com identidade e que poderiam fazer a diferença e serem úteis, inclusive nas penalidades, como Gustavo Scarpa e Gabigol, Que o Campeonato Inglês ("Premier League" é frescura de colonizado afetado) é melhor que o brasileiro é tão óbvio quanto é óbvio que Gabigol e Scarpa (que agora foi para a Inglaterra e, pois, é capaz de ser convocado!) acrescentaria muito mais à seleção brasileira do que Fred e Gabriel Jesus.

8) Dancinhas, chuteiras coloridas e cabelos descoloridos não ganham nem perdem Copas do Mundo. Nem Copas América. À vera, nem Copas São Paulo. Emiliano Martínez, o melhor goleiro da Copa, também é chegado numa excentricidade e está tudo certo. A questão, óbvia, é não colocar fatores particulares e para lá de secundários à frente do foco na preparação coletiva.

9) Ligas profissionais e formação de atletas são melhorados a médio e longo prazos, com dinheiro e competência aplicados em diversos fatores do jogo. Copa do Mundo se ganha respeitando que futebol é momento, decidido na hora, por quem está melhor no momento e não respeita hierarquia nem mérito pretérito. O que foi feito de julho de 2018 a novembro de 2022 tem ZERO importância para decidir a final da Copa vencida pela Argentina em 18 de dezembro de 2022.

10) No futebol de hoje, como de ontem e o de anteontem, craques fazem diferença e podem, sim, ter "privilégios" táticos, para se manterem descansados para serem acionados na hora de atacar e decidir. Messi, o craque da Copa, é, disparado, quem corre menos na Argentina e não participa da "fase defensiva", a equipe é armada para que ele fique livre, posicionado para a hora do bote. Não se trata de uma exceção. A França, a penúltima campeã e atual vice-campeã, tem a mesma estratégia para preservar Mbappé.

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Leia as colunas dos jogos da Copa do Mundo do Qatar

Argentina 3 x 3 França

França 2 x 0 Marrocos

Argentina 3 x 0 Croácia

França 2 x 1 Inglaterra

Marrocos 1 x 0 Portugal

Argentina 2 x 2 Holanda

Brasil 1 x 1 Croácia

Portugal 6 x 1 Suíça

Marrocos 0 x 0 Espanha

Brasil 4 x 1 Coreia do Sul

Croácia 1 x 1 Japão

Inglaterra 3 x 0 Senegal

França 3 x 1 Polônia

Argentina 2 x 1 Austrália

Holanda 3 x 1 Estados Unidos

Camarões 1 x 0 Brasil

Polônia 0 x 2 Argentina e Arábia Saudita 1 x 2 México

País de Gales 0 x 3 Inglaterra e Irã 0 x 1 Estados Unidos

Holanda 2 x 0 Qatar e Senegal 2 x 1 Equador

Portugal 2 x 0 Uruguai

Brasil 1 x 0 Suíça

Coreia do Sul 2 x 3 Gana

Sérvia 3 x 3 Camarões

Espanha 1 x 1 Alemanha

Croácia 4 x 1 Canadá

Bélgica 0 x 2 Marrocos

Japão 0 x 1 Costa Rica

Argentina 2 x 0 México

França 2 x 1 Dinamarca

Polônia 2 x 0 Arábia Saudita

Tunísia 0 x 1 Austrália

Inglaterra 0 x 0 Estados Unidos

Holanda 1 x 1 Equador

Qatar 1 x 3 Senegal

País de Gales 0 x 2 Irã

Brasil 2 x 0 Sérvia

Portugal 3 x 2 Gana

Uruguai 0 x 0 Coreia do Sul

Suíça 1 x 0 Camarões

Bélgica 1 x 0 Canadá

Espanha 7 x 0 Costa Rica

Alemanha 1 x 2 Japão

Croácia 0 x 0 Marrocos

França 4 x 1 Austrália

México 0 x 0 Polônia

Dinamarca 0 x 0 Tunísia

Argentina 1 x 2 Arábia Saudita

Estados Unidos 1 x 1 País de Gales

Senegal 0 x 2 Holanda

Inglaterra 6 x 2 Irã

Qatar 0 x 2 Equador

Eu sou o Vitor Guedes e tenho um nome a zelar. E zelar, claro, vem de ZL! É nóis no UOL!

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** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL