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Vitor Guedes

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Seleção brasileira é vítima da fé cega no 'processo' e no 'ciclo' inútil

Colunista do UOL

11/12/2022 04h00Atualizada em 12/12/2022 07h32

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"O Processo" bom, sensacional, fundamental, que deve ser estudado e foco de reflexão, é a obra genial de Franz Kafka, livro que, ao contrário do que declarou certa vez um dos ex-ministros da Educação do genocida de aviso prévio, não tem nada a ver com a iguaria árabe. Recomendo também, ainda que não seja o mesmo sucesso de crítica, a adaptação cinematográfica do clássico assinada por Orson Welles.

Feitos os registros, futebol é bem menos complexo que Kafka e Welles: é um esporte que objetiva vencer o rival com as armas do presente e, pois, o "processo" é uma bobagem argumentativa utilizada, normalmente com afetação e patético ar professoral, por gente que estuda muito o jogo, mas é incapaz de ler a sua alma, a sua essência e a delícia que é a sua crueza e simplicidade.

Uma das maiores imbecilidades, que não param (nunca pararam!) em pé, é analisar o trabalho de uma seleção pelo tal "ciclo", quando ele, o tal "ciclo", que é tão falando que parece até um sujeito, só existe, óbvio ululante, para dar resultado na Copa do Mundo. Em futebol de seleções, especialmente para o Brasil, que não é o Canadá para festejar a classificação ao Mundial como um título, Copa do Mundo é a ÚNICA coisa que importa e, pois, o objetivo do "ciclo", forma afetada para dar um ar pseudocientista à palavra "preparação".

Imaginemos o Carnaval... Na avenida, uma determinada escola é uma tragédia, abre buracos, não evolui, não encanta, atravessa o samba, faltam baianas, sobram destaques sem qualquer ligação com a comunidade... Aí vem o técnico, digo, o diretor de harmonia, e minimiza o papelão da sua agremiação porque a escola deu um show no ensaio técnico e foi apontada antes do desfile como uma candidata ao caneco... Bacana, com todo o respeito, OBRIGADO POR NADA!!!

Já desejando toda a sorte do mundo à minha Estação Primeira de Mangueira, no Rio, e torcendo muito pelo acesso da minha Leandro de Itaquera e da Camisa 12, em seus respectivos grupos, voltemos ao não menos apaixonante e popular futebol:

Não existe campeão de Eliminatórias! Parafraseando Padre Quevedo, repito: "Isso non ecziste"!!! Ser primeiro, segundo ou entrar na bacia das almas, na repescagem, não muda nada. Um time ganha ou perde o Mundial unicamente pelo que fez no mês da Copa, na competição, e tudo o que vem antes não serve para nada, coisa nenhuma, nem mesmo como critério de desempate. O Brasil, que passou apuros antes do tetracampeonato, em 1994, e do penta, em 2002, e sobrou na turma, antes dos vexames de 2006, 2018 e 2022, já deveria ter aprendido a óbvia lição. OBRIGADO POR NADA!!!

Da série "viva a memória", depois do fracasso da seleção lazarenta em 1990, Falcão, que nunca havia sido técnico (e foi poucas vezes depois disso), foi chamado para suceder o bizarro Sebastião Lazaroni, o cidadão que preferiu Bismarck a Neto, entre outras 818 barbaridades. Como meu texto não tem nem de muito longe o tempero kafkaniano, vou resumir: Parreira assumiu no meio do "ciclo", apanhou de todo o mundo, de adversários, torcedores e mídia, e, na bacia das almas, com Romário chamado às pressas para o último jogo, se classificou para a Copa dos Estados Unidos. Durante o Mundial, Raí, capitão e principal jogador do ciclo, perdeu posição e três dos principais destaques do tetracampeonato não participaram da base do "ciclo": Romário, Aldair e Márcio Santos.

O "ciclo" conturbado que resultou no título não é exceção de 1994. De 2002, foi ainda mais louco. Teve CPI/Nike, caiu Luxemburgo, depois caiu Leão, Felipão assumiu no final, apanhou até de Honduras, chegou à Copa vencendo a Venezuela no último jogo das Eliminatórias e, no Mundial, o Brasil foi penta com um time que não tinha nada a ver com a preparação. Nem com a estreia na própria Copa.

Sempre foi óbvio que o Brasil, como acontece desde 1930, estaria na Copa do Qatar. Como estará em 2026, 2030, 2034... E o grande momento do "processo" e do "ciclo", inútil, foi o título da Copa América-2019. Vocês lembram quem foram os dois grandes jogadores daquela conquista, que não contou com Neymar? Eu refresco a memória: Daniel Tantã Alves, que ainda nem era o Vovô Olímpico e não era considerado um lateral café com leite, e Everton Cebolinha, que hoje não é nem sequer titular do Flamengo.

Até 2026, o torcedor brasileiro ganhará muito mais se mergulhar na obra de Franz Kafka e revisitar toda a carreira brilhante de Orson Welles, o diretor de "Cidadão Kane", do que se preocupar com qual cidadão sucederá Tite e o que ele fará até o próximo Mundial. O Brasil só vai ganhar a próxima Copa, ou, ao menos, ter chance e disputar à vera, se o treinador que estiver no banco na ocasião escalar quem tiver melhor durante o Mundial e não ficar preso ao inútil "processo".

Vale para o Brasil e para todos. A Argentina de Lionel Scaloni chegou ao Qatar como a segunda maior recordista de invencibilidade da história, a um jogo de igualar a Itália. Pois bem: a Itália, do recorde durante o "processo" em que nem sequer se classificou para o Qatar. E a Argentina, no jogo que igualaria a marca, passou vergonha contra a Arábia Saudita. Lembremos o que fez Scaloni: deu uma banana para o tal "processo" que levou à invencibilidade, trocou literalmente meio time e a Argentina está na semifinal. Em tempo: em 2002, no ano do penta brasileiro, quem fez o 'ciclo' fantástico e chegou como candidatíssima ("favoritaça", diria Arnaldo Ribeiro) foi a Argentina... Viva a memória!

Beijos de luz.

PS: Força, Pelé!

AQUI todas as colunas Vitor Guedes

Leia as colunas dos jogos da Copa do Mundo do Qatar

França 2 x 1 Inglaterra

Marrocos 1 x 0 Portugal

Argentina 2 x 2 Holanda

Brasil 1 x 1 Croácia

Portugal 6 x 1 Suíça

Marrocos 0 x 0 Espanha

Brasil 4 x 1 Coreia do Sul

Croácia 1 x 1 Japão

Inglaterra 3 x 0 Senegal

França 3 x 1 Polônia

Argentina 2 x 1 Austrália

Holanda 3 x 1 Estados Unidos

Camarões 1 x 0 Brasil

Polônia 0 x 2 Argentina e Arábia Saudita 1 x 2 México

País de Gales 0 x 3 Inglaterra e Irã 0 x 1 Estados Unidos

Holanda 2 x 0 Qatar e Senegal 2 x 1 Equador

Portugal 2 x 0 Uruguai

Brasil 1 x 0 Suíça

Coreia do Sul 2 x 3 Gana

Sérvia 3 x 3 Camarões

Espanha 1 x 1 Alemanha

Croácia 4 x 1 Canadá

Bélgica 0 x 2 Marrocos

Japão 0 x 1 Costa Rica

Argentina 2 x 0 México

França 2 x 1 Dinamarca

Polônia 2 x 0 Arábia Saudita

Tunísia 0 x 1 Austrália

Inglaterra 0 x 0 Estados Unidos

Holanda 1 x 1 Equador

Qatar 1 x 3 Senegal

País de Gales 0 x 2 Irã

Brasil 2 x 0 Sérvia

Portugal 3 x 2 Gana

Uruguai 0 x 0 Coreia do Sul

Suíça 1 x 0 Camarões

Bélgica 1 x 0 Canadá

Espanha 7 x 0 Costa Rica

Alemanha 1 x 2 Japão

Croácia 0 x 0 Marrocos

França 4 x 1 Austrália

México 0 x 0 Polônia

Dinamarca 0 x 0 Tunísia

Argentina 1 x 2 Arábia Saudita

Estados Unidos 1 x 1 País de Gales

Senegal 0 x 2 Holanda

Inglaterra 6 x 2 Irã

Qatar 0 x 2 Equador

Eu sou o Vitor Guedes e tenho um nome a zelar. E zelar, claro, vem de ZL! É nóis no UOL!

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