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Startup limpa embalagens plásticas contaminadas com óleo sem usar água

Com a tecnologia da Eco Panplas, embalagens com restos de óleo são recicladas sem o uso de água na descontaminação - Divulgação
Com a tecnologia da Eco Panplas, embalagens com restos de óleo são recicladas sem o uso de água na descontaminação Imagem: Divulgação

Carolina Vila-Nova

de Ecoa

15/11/2019 04h00

Foi para desenvolver um negócio "com benefícios adicionais" que o administrador de empresas Felipe Cardoso, 33, abandonou a carreira em multinacionais e deu início a uma startup socioambiental que processa embalagens plásticas contaminadas com óleo e as devolve ao mercado limpas com um método inovador: sem o uso de água.

Desenvolvida ao longo de três anos, a solução oferecida pela Eco Panplas, empresa criada em 2014 em Hortolândia, no interior de São Paulo, conta com uma espécie de solvente ecológico que não produz novos resíduos no processo de limpeza do plástico e que dispensa o uso da água. O componente principal é casca de laranja orgânica.

"Sempre tive vontade de montar um negócio, mas que tivesse algum propósito. Fiz uma pesquisa tecnológica e vi que, no Brasil, tudo era feito igual na reciclagem do plástico: você mói, lava para descontaminar e depois produz", conta Felipe, que é CEO da Eco Panplas.

Felipe Cardoso, CEO da Eco Panplas - Divulgação - Divulgação
Felipe Cardoso, CEO da Eco Panplas
Imagem: Divulgação
O solvente à base de casca de laranja foi desenvolvido em parceria com uma indústria química, e a empresa levou cinco anos para chegar ao modelo atual. "Ficamos três anos desenvolvendo e depois dois anos em operação até chegar à viabilidade econômico-financeira, além da viabilidade técnico-ambiental", explica o empresário.

Como funciona o processo

A Eco Panplas aplica a ferramenta da logística reversa, pela qual resíduos sólidos são coletados e depois restituídos ao setor empresarial para reaproveitamento em seu próprio ciclo ou em outros ciclos produtivos.

Funciona da seguinte forma: a empresa compra as embalagens contaminadas por óleo lubrificante e de cozinha de empresas que fazem coleta de lixo em postos de trocas e oficinas. Na fábrica em Hortolândia, plástico, óleo e rótulos são separados. Os recipientes são moídos, depois lavados com o solvente sustentável e então revendidos, já limpos, para serem transformados em novos produtos. Os rótulos, depois de lavados, também são vendidos, e o óleo é revendido para a indústria de refino.

Todo o processo é feito em sistema próprio da Eco Panplas, em circuito fechado automatizado, o que garante a segurança ambiental. "O processo não deixa resíduo. O próprio solvente é separado do óleo no circuito fechado, então ele volta limpo para o sistema para lavar novos materiais enquanto o óleo sai direto do sistema para um tambor e é vendido", esclarece Felipe.

Plástico limpo da Eco Planpas - Divulgação - Divulgação
Com o uso de um solvente ecológico à base de casca de laranja, o plástico moído sai limpo para que possa ser transformado em novos materiais
Imagem: Divulgação
Outra vantagem do método, segundo o empresário, é a remoção completa do óleo, permitindo que o plástico seja processado para a indústria de embalagem com um custo 10% inferior ao de um produto obtido de modo convencional.

No método tradicional de descontaminação, além do consumo de água e da geração de resíduos adicionais, inclusive de água contaminada, estima-se que 3% de óleo residual permaneça no plástico, o que acaba diminuindo seu valor de mercado para a cadeia de reciclagem e gerando impacto ambiental.

"Permitimos que o material seja valorizado por ter mais qualidade e possa ser usado na confecção de produtos com maior valor agregado", diz Felipe.

Prêmios e reconhecimento

A criação do solvente que não utiliza água rendeu à empresa a Patente Verde, uma certificação concedida pelo Instituto Nacional de Propriedade Intelectual (Inpi) a tecnologias de preservação ambiental.

Neste ano, a Eco Panplas ainda obteve o selo de Empresa B, movimento criado nos EUA que reconhece empresas que aliam o lucro à preocupação socioambiental, graças ao apelo à economia circular e à preservação do meio ambiente. E foi incluída no ranking das Empresas B mais bem avaliadas do mundo, na categoria meio ambiente.

A startup ainda faturou uma série de prêmios no Brasil e no mundo, estando inclusive na lista dos 13 vencedores do Prêmio ODS, do Pacto Global, que reconhece práticas empresariais e de ensino que contribuem para o alcance dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU (Organização das Nações Unidas). Foram 800 inscritos e 36 finalistas.

Impacto ambiental

Desde 2016, a Eco Panplas já processou 10 milhões de embalagens, recuperando e vendendo 500 toneladas de plástico reciclado e 17 mil litros de óleo recuperado. Em termos de impacto socioambiental, a estimativa é que 17 bilhões de litros de água tenham sido preservados e 530 toneladas de plástico contaminado tenham sido retiradas da natureza, além de 800 toneladas a menos de emissão de gases de efeito estufa e 75% de economia de energia.

"A empresa já nasceu com esse propósito de gerar impacto socioambiental bem na sua raiz", afirma Cardoso, CEO da Eco Panplas.

A fábrica, que tem seis funcionários, passou agora a operar em dois turnos. O processo automatizado permite processar 120 toneladas de plásticos por mês, o que representa cerca de 1,4 mil tonelada por ano - um crescimento de 30% em relação ao início das operações.

Óleo Eco Planpas - Divulgação - Divulgação
O óleo sai direto do sistema de descontaminação para tambores e é vendido para a indústria de refino
Imagem: Divulgação
A Eco Panplas busca agora consolidar parcerias para escalar a produção. A ideia é captar mais embalagens por mais fontes, como fabricantes e prefeituras, e fazer um trabalho que Cardoso chama de "expandir a consciência" em torno da necessidade de reaproveitamento de dejetos. Ele pretende ainda atrair catadores para o projeto.

Etapas posteriores preveem ainda outras aplicações da técnica, como em embalagens de tintas e de produtos químicos, que têm alto poder de contaminação ambiental.

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