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Bom pra todo mundo

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Plataforma de ajuda permite doações em cartão pré-pago

A plataforma Grande Ajuda conecta doadores com pessoas que precisam de ajuda - Divulgação
A plataforma Grande Ajuda conecta doadores com pessoas que precisam de ajuda Imagem: Divulgação

Antoniele Luciano

Colaboração para Ecoa, de Curitiba (PR)

16/11/2020 04h00

A chegada da pandemia trouxe também o atraso das contas na casa da diarista Luciana Modesto de Jesus, de 42 anos. Moradora na região do Butantã, em São Paulo, ela foi um dos 4,9 milhões de brasileiros que perderam postos de trabalho desde que os casos do novo coronavírus começaram a ser confirmados no país, ainda no primeiro trimestre. Rapidamente, a doméstica viu uma a uma das diárias que fazia serem canceladas. A renda mensal de R$ 1,4 mil desapareceu. "A maioria das diárias era em casa de idosos, então os filhos, para proteção dos pais, pediram para parar o serviço", conta. Hoje, o reflexo dos números do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) no dia a dia de Luciana e dos cinco filhos que vivem com ela está nos armários e na geladeira da família. "Não temos nada em casa, só açúcar e sal", resume.

Sobrevivendo por meio de doações, ela decidiu recorrer à internet para tentar levantar dinheiro - R$ 1,5 mil. O perfil de Luciana agora é um dos que faz parte da Grande Ajuda, plataforma que reúne histórias de pessoas que precisam de auxílio. Diferentemente de outras vaquinhas online, o site permite que os valores arrecadados sejam transferidos imediatamente para um cartão pré-pago ou que sejam usados na quitação de boletos cadastrados pelos usuários. Os doadores também podem acompanhar o extrato de gastos de quem recebeu o dinheiro deles.

Idealizador da iniciativa, o empresário Luciano Samarco, 51 anos, explica que a ideia da plataforma veio depois de observar o quanto a pandemia impactou o setor de eventos, uma das áreas de atuação da agência dele, a Trunfo. "Vimos muita gente, inclusive no noticiário, passando necessidade, com possibilidades de renda sumindo. Mas conversávamos e víamos também pessoas e empresas querendo ajudar. Percebi que poderíamos nos unir", comenta.

Samarco desenhou então uma plataforma que pudesse ajudar exclusivamente pessoas físicas com demandas que envolvem desde alimentos e pagamento de aluguel a medicamentos. O trabalho comunitário também pode ser auxiliado, desde que o pedido de ajuda seja feito por uma das pessoas que o realizam. Não há intermediário na doação, como organizações não-governamentais ou outras entidades. As doações ocorrem apenas através do pagamento de boletos.

De acordo com o empresário, desde o surgimento da ideia até o desenvolvimento, foram 45 dias. Quinze pessoas trabalham no negócio. "Eu pensei que muita gente quer ajudar, mas às vezes não tem confiança sobre o destino do dinheiro. Então, nosso primeiro diferencial é que o modelo permite fiscalizar essa destinação", assinala o empresário.

Avaliação

Após começar a receber as doações, o beneficiário tem o dinheiro disponibilizado em até três dias úteis, após a compensação bancária dos boletos. Se o usuário for realizar o pagamento de contas via boleto direto pela plataforma, ele pode usar todo o valor já disponível. Caso, no entanto, prefira passar o dinheiro para o cartão de débito, é necessário fazer a solicitação. Isso pode levar até dois dias úteis para ser compensado, como um DOC bancário. O cartão pré-pago é enviado pelos Correios e leva em torno de até três dias úteis para ser entregue.

A comprovação dos itens comprados pelo usuário pode ser solicitada a qualquer momento junto à plataforma. A ideia é que os recursos possam ser gastos em pequenos comércios, nos bairros onde os usuários estão cadastrados, de forma a estimular a economia local.

O sistema também permite que o usuário seja avaliado quanto ao uso das doações. "Se o doador vê que o dinheiro foi gasto em um lugar que não tem nada a ver com o pedido de ajuda, da próxima vez, pode doar para outra pessoa", reforça Samarco.

O limite a ser depositado nos cartões pré-pagos é de R$ 5 mil por mês. A plataforma cobra 6,4% dos valores doados. Segundo Samarco, é uma forma de cobrir custos como emissão de boletos e envio de cartões. "Estamos fazendo algo transformador. Nesse momento, estamos nos esforçando para chegar até as pessoas que mais precisam. Abrimos uma luz para gente que perdeu o emprego, está inválido ou até mesmo é um empreendedor que, por causa dessa crise, não está conseguindo pagar os salários dos seus funcionários" observa.

Samarco diz que ainda não há uma meta de arrecadação. A agência dele deve entrar com aporte financeiro de R$ 10 mil nos próximos dias, como forma de movimentar as doações iniciais na plataforma.

Diferentes necessidades

Um dos pedidos de doação era o do pedreiro Jeferson Feitosa Alves, de 39 anos. Ele perdeu a casa em que morava em um deslizamento de terras ocorrido em março, na barreira do João Guarda, no Guarujá, litoral de São Paulo. O imóvel ficou debaixo de 6 metros de lama. Com a pandemia, Alves está tendo ainda mais dificuldade para reorganizar a própria vida.

Ele tem contado com um auxílio de moradia emergencial, de R$ 500, mas o valor ainda é insuficiente para recomeçar - pagar também alimentação, móveis, eletrodomésticos e equipamentos de trabalho. "As doações são para dar um impulso inicial. Voltar a trabalhar e chamar ajudantes para trabalhar comigo. Três parcelas de R$ 800 reais resolvem meu problema, com certeza. Preciso muito que me ajudem, se eu conseguir, realmente, isso vai ser uma salvação", define o pedreiro.

Rodrigo Aparecido Lopes faz desde criança tratamento para dois tipos de anemia hereditária - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Rodrigo Aparecido Lopes precisa de ajuda para seguir o tratamento de anemia e sustentar sua família
Imagem: Arquivo pessoal

Já o morador de Votuporanga, interior de São Paulo, Rodrigo Aparecido Lopes, 37 anos, faz desde criança tratamento para dois tipos de anemia hereditária — a falciforme e a talassemia major. Depois de um período de 16 anos com a saúde estabilizada, precisou voltar a fazer transfusões de sangue, em 2012, em função da dificuldade da própria medula em produzir glóbulos vermelhos. A aposentadoria por invalidez veio em 2015. Hoje, ele se divide entre internações, crises de dor aguda, medicamentos como morfina e transfusões de sangue quase semanais. "Não estou ficando mais de 20 dias sem de duas a quatro bolsas de sangue", comenta.

Até a pandemia, a família de Lopes vivia com dinheiro da aposentadoria - a maior parte destinada para manter o convênio médico dele - e a renda que a esposa obtinha como esteticista. No entanto, o coronavírus trouxe uma nova realidade para o casal e as duas crianças.

"Ela vinha mantendo a casa, mas tudo ficou fechado. Só de água e luz, são oito contas paradas", acrescenta Lopes. A meta de arrecadação da família é de R$ 2,5 mil para quitar essas dívidas.

Último trabalho foi no carnaval

No caso da produtora artística Tatyana Cardoso, 39 anos, o carnaval marcou o último trabalho feito neste ano por ela. Com a pandemia, somente até maio, Tatyana teve 23 shows cancelados. Tentou outras formas de renda - ministrar curso online, vender brigadeiros e arroz doce no condomínio e até personalizar cangas, porém sem sucesso. "Mandei 40, 50 currículos para tentar arranjar emprego, mas também não consegui", relata a produtora, que também é veterinária de formação.

Através do cadastro na Grande Ajuda, Tatyana espera levantar dinheiro para o aluguel em São Paulo - o que inclui gastos com condomínio, água e gás, hoje na casa dos R$ 1,5 mil. "Com muita luta, consegui um desconto. Estou pedindo essa ajuda, mas também quero trabalhar. Preciso me sentir útil", salienta.

Empresas podem colaborar

Empresas interessadas também podem colaborar com os cadastros da Grande Ajuda. O modelo da plataforma prevê a criação de uma campanha exclusiva para a instituição, com hotsite e possibilidade de retorno para os clientes. "Um exemplo é quando todos são incentivados a entrar na Grande Ajuda e depois recebem um cashback de 10% em algum produto da empresa que fez a campanha, como agradecimento", explica o idealizador da plataforma.

Mais informações sobre como se cadastrar ou doar na Grande Ajuda, acesse www.grandeajuda.digital.

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